
Isso
tudo num livro. Não quero aqui entrar no mérito do filme, mas no de um livro de
1.104 páginas; sem música tenebrosa e outros efeitos sonoros e visuais,
é uma magistral consumação do medo, digna de um catedrático no assunto. E, apesar disso, King consegue apresentar-nos
belíssimos sete protagonistas, crianças pré-adolescentes, que desenvolvem e
expõe o real sentido da amizade, do amor, da confiança absoluta e, claro, do
medo.
Some-se
ainda a forma narrativa (objetiva e subjetiva), com a alternação da ordem
temporal - usando a anisocronia; a construção dos protagonistas e dos demais personagens
e antagonistas; os locais, as situações predominantemente tensas, os acontecimentos
surpreendentes, as ocorrências que extrapolam os limites da violência, as
apavorantes perseguições (e não são poucas), as reviravoltas, os dados
históricos e geográficos, e até o lirismo de algumas situações, tudo banhado em muita insegurança,
sangue e medo. Aqui, nada é previsível e tudo é inusitado. Quem gosta do gênero
e do estilo de King não conseguirá largar o livro.
Todo
esse crescente terror a buscar um ápice na apoteose da obra, presume-se, em seu
quinto final, onde, inevitavelmente o Bem enfrentará o Mal de forma decisiva. E
aí? O Bem vencerá o Mal? Ou tudo se converterá naquela babaquice de que algo
sobre para um retorno do Mal numa próxima aventura? Aí não seria King.

O encontro apoteótico do Bem com o Mal decepciona. Era de se esperar
algo mega-assustador. E o que se encontra é medíocre diante do brilhantismo das
situações anteriores já descritas. King partiu para uma solução metafísica e foge totalmente do âmago da obra, saindo do clima
aterrorizante para entrar numa atmosfera fantasiosa, com situações meramente
forçadas, sem brilho, descrições cansativas e, o pior, sem o apreciado terror
kinguiniano, sem a múmia, sem o lobisomem e sequer o esperado embate com o palhaço,
ícone ilustrativo de todo o Mal da obra que se transforma numa ridícula e imensa
aranha coadjuvada por uma milenar e filosófica tartaruga.
Enfim, é uma obra artística e como tal deve ser respeitada. E com
toda minha reverência por Stephen King, acredito que esta crítica positiva é
cabível, pois ele é o único responsável pelo que transmite ao leitor. E ninguém
é perfeito. Nem eu, que me atrevi a escrever esta crítica.
Por Valdemir Martins
Novembro de 2017.
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