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9 de nov. de 2020

Mesmo na mais escura das noites existe luz.


Pelas próprias condições econômicas, força e união do povo e das colônias judaicas pelo mundo, deram-se o devido valor ao atroz Holocausto, hoje erroneamente considerado o maior genocídio da história mundial. Ou até, como manifestam alguns governos muçulmanos radicais, o Holocausto é um mito. Mas, quem conhece bem a História sabe que ele é real e que, além dele, outros massacres monumentais, como o Holodonor esfamélico na Ucrânia, o extermínio irracional e ilógico cometido por sanguinários ditadores como Mao Tse Tung na Revolução Cultural chinesa e Joseph Stálin na revolução bolchevique soviética e na II Guerra Mundial, ultrapassam qualquer imaginação humana. 

Apesar da força genocida dos atos de Hitler, os de Mao e de Stálin nada deixam de vantagem para os nazistas. Isto pode ser lido e entendido em muitos livros que tratam do assunto. 

Assim como marcou a vida de milhões de russos e de povos dominados pelos soviéticos em todos os tempos, perda, sofrimento, medo e terror marcaram a vida dos povos forçadamente agregados ao império comunista soviético. Desde as dinastias czaristas até a Perestroica, passando pelo sanguinário regime comunista estalinista, nada mudou. 

Trens para os gulags
E é disso que trata o livro A Vida em Tons de Cinza, da lituano-americana Ruta Sepetys. A barbárie na invasão da Lituânia pelos comunistas na década de 1940 é aqui representada pela história de uma família lituana e seus vizinhos nesse execrável capítulo da História, representando a vida e o destino de 20 a 60 milhões de pessoas (dependendo da fonte), de diversos povos, que passaram pelas mãos sanguinolentas dos bolcheviques que resultou no extermínio de um terço dos povos do Báltico durante o reinado de horror stalinista. 

Numa linguagem simples e direta, pelo fato de a narração ser efetuada por uma jovem, Sepetys – após entrevistar vários sobreviventes - registrou criativamente este romance dramático. Transporta-nos para lugares às vezes lindos e na maioria das vezes horrorosos, entremeando, no drama, fatos poéticos nas lembranças da protagonista. E assim cativa nossa leitura e nos faz devorar o livro ansiosamente. 

Aprisionada em gulags da Sibéria com sua mãe e seu irmão, a protagonista de quinze anos – valendo-se de seus incríveis dotes artísticos – tenta contato com o pai através de imagens por ela desenhadas, sem saber se ele sobreviveu. E, como se não fosse suficiente, suas agruras e barbaridades continuam até a região ártica, onde apresenta-nos uma história devastadora pela violência e humilhações que vivenciam. 

Ruta Sepetys
Apesar de serem hoje nações prósperas, isto é o que restou dos povos bálticos enquanto seus países eram varridos do mapa no século passado: história. Uma história extremamente desumana que é-nos apresentada de maneira direta neste excelente romance de Ruta Sepetys. Ela consegue, contando-nos apenas o drama de um grupo de expatriados, expor claramente a barbárie deste genocídio pouco conhecido da história. 

Valdemir Martins 

02.11.2020

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2 de nov. de 2020

Até onde pode chegar um ato de louca paixão ****

O consagrado escritor norte-americano Scott Turow pressentiu no jovem Raphael Montes uma promessa brasileira como grande escritor de policiais, após ler Suicidas, obra de estreia do novo talento, em 2011. Montes, então, veio evoluindo a cada obra tornando-se também um escritor policial e de suspense de sucesso em terras brasileiras.

Scott Turow
Em seu romance Dias Perfeitos, de 2014, - uma história de amor obsessivo - tudo começa muito ameno, comum e óbvio. Aos poucos cresce torna-se grudento e você não consegue parar de ler para saber até onde pode chegar um ato de louca paixão. Nesta obra bem estruturada, percebe-se claramente que Montes ainda procura por uma linguagem literária mais consistente para marcar seu estilo. Porém seu enredo é estonteante, surpreendente a cada página.

Aqui ele demonstra – desde cedo – sua capacidade de esmiuçar uma mente doentia e de explorar dosada e adequadamente sua psique. Numa história vibrante, dinâmica, as peripécias do protagonista nos gratificam com reviravoltas surpreendentes, situações inacreditáveis. Algumas poucas até forçadas ou improváveis, o que demonstra o autor ainda em fase de amadurecimento. Um final morno, como no início, pode até decepcionar alguns leitores.

Ilha Grande
Mas, é espantoso o nível de crescimento do enredo e envolvimento proporcionados por Montes, chegando a um ápice de loucura e situações macabras, escatológicas e de terror dignas de Clive Barker e Stephen King, neste, lembrando a obra Misery. O inteligente e paranoico protagonista parece-nos às vezes um parvo a sonhar grandiosidades e felicidades pretensamente impossíveis. Mas caindo na realidade das situações bastante criativas do autor, apresenta-se mais como um frio macho assexuado e um personagem sombrio com fortes indícios de psicopatia.

O que parecia um inconsequente encontro casual num churrasco de conhecidos num domingo transforma-se no pesadelo brutal para os dois protagonistas de almas atormentadas e para todos os personagens principais da obra. E, claro, para os felizardos leitores que escolheram ler Dias Perfeitos.

O livro já ganhou o mundo sendo comercializado para catorze países e os direitos da obra foram vendidos para o cinema, em produção nacional a ser dirigida por Daniel Filho.

Valdemir Martins

27.10.2020

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