O
escritor italiano Primo Levi inicia o que é considerado um dos mais importantes trabalhos memorialísticos
do século XX às vésperas da sua morte. Só que, para seu gaudio – e de
seus milhões de leitores – no livro É
Isto um Homem? (Se questo è um uomo) seu destino real é inúmeras vezes
adiado, fazendo com que a obra desenrole-se permanentemente nos limites da
morte.
Tive a oportunidade de ler trabalhos brilhantes sobre os holocaustos
judeu e ucraniano, onde esses genocídios aniquilaram em onze anos, seis milhões
de judeus por ordens de Hitler e, em apenas dois anos - no chamado Holodomor -,
doze milhões de ucranianos famélicos por ordem de Stálin. Os judeus, arrancados
de seus lares e jogados em guetos, campos de concentração e extermínio; os
ucranianos, impiedosamente massacrados em seus próprios lares e quintais.
Stálin: tão cruel quanto Hitler |
Obras como Treblinka (Jean-François
Steiner), Mila 18
(Leon Uris), A lista
de Schindler: A verdadeira história (Mietek Pemper), A
Menina que Roubava Livros (Markus Zusak), As Mulheres do Nazismo (Wendy Lower), A Noite (Elie Wiesel), A Fome
Vermelha (Anne Applebaum),
muito bem descrevem esses tétricos episódios da história humana. Mas poucos
deles são tão memoriais e sensíveis quanto o texto brilhante de Levi.
Auschwitz |
Primo Levi |
Ler "É Isto
um Homem?" é ingressar no sentimento objetivo e claro do autor: “Quinze dias
depois da chegada, já tenho a fome regulamentar, essa fome crônica que os
homens livres desconhecem; que faz sonhar, à noite; que fica dentro de cada
fragmento de nossos corpos.”
Uma
obra para se aperfeiçoar a história e o conhecimento sobre o humano, onde nada é
bíblico nem fábula. Esta é a história real que todo ser humano, apesar da
evolução, tem que conhecer e admitir em sua idade adulta, já que é inconcebível
conhecê-la na idade escolar. Afinal, é um aprendizado sobre a que extremos o
homem pode chegar no tratamento a seu semelhante.
Valdemir
Martins
17/02/2020.
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