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27 de jul. de 2021

Um oceano de emoções até o final do livro

Como é bom iniciar uma leitura com reminiscências da infância, no desenrolar de aventuras e agruras infantis, na maioria das vezes comuns a todo adulto. E o escritor britânico Neil Gaiman brinda-nos com maravilhas desse teor em sua exuberante obra O Oceano no Fim do Caminho. Um livro leve, muito bem estruturado e extremamente envolvente.

Sonhos, desejos, temores e crendices infantis são pinceladas na consagrada prosa do autor de forma delicada. Crendices da imaginação infantis e alguns fatos e cenas da meninice de Gaiman tornam-se realidade para construir esta fábula de forma muito criativa, usando até inclusões de interessantes diálogos e reflexões sobre a memória, a vida, a história e o tempo.

Uma bela obra de fantasia infanto-juvenil - com muitas lições para adultos -, onde um menino de sete anos, amigo de uma menina encantada de onze, coloca-se na posição de antagonista aos adultos por ser castigado por seu pai sob a influência de uma nefanda e aterradora governanta. Mas, uma vizinha família imortal, como super-heróis, intercede num protagonismo fantástico tornando a obra ainda mais brilhante.

Muitos leitores vão se sentir impactados por algumas cenas, pois vão trazer de volta reminiscências de sua infância, principalmente com relação a castigos, ameaças, brincadeiras e até desafios e brigas de forma simbólica, mas sempre perturbadoras. São aqueles fragmentos do início da vida que os adultos acabam deixando adormecidos, quase esquecidos, em função do amadurecimento que os leva a outras realidades e preocupações, calando a beleza e a pureza fantasiosas da inocência da época.

Como escreveu Renata Arruda no site O Grito: “O oceano no fim do caminho é uma história juvenil, contada por um adulto com o olhar de uma criança. E é uma delícia.”



Valdemir Martins

23.07.2021

Fotos: 1. Capa do livro; 2. Os protagonistas; 3. O oceano no fim do caminho; 4. As aves predadoras ; 5. Neil Gaiman.

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14 de jul. de 2021

A Barba Ensopada de Sangue e de muita água.

Atraído pelos inúmeros elogios e boas avaliações do romance Barba Ensopada de Sangue, do paulistano – quase gaúcho - Daniel Galera, entrei na dança e viajei à pequena cidade litorânea catarinense de Garopaba, juntamente com o autor e o protagonista da obra que não tem nome.

Não sem motivo o inominável protagonista é assim assentado por Galera na obra. Um personagem à procura de si mesmo e do avô paterno por todo o enredo. Sua deficiência em reconhecer rostos (prosopagnosia) é uma tirada incrível do autor para reforçar a indefinição do protagonista consigo mesmo.

Uma obra grudenta que te impulsiona à leitura incessante, apesar do enredo desenvolvido por espasmos criativos. Não se deixe levar pela sensação de uma obra comum que remete a script de telenovela, pois você foi fisgado pela progressiva preparação que Galera faz para encaminhar suas emoções para um dramático apogeu.


No inverno praiano catarinense você vai experimentar ficar enregelado até os ossos. Num trecho com dias seguidos de chuva você vai sentir-se encharcado, tamanha a força descritiva da narrativa que sincronicamente transforma-se num ápice dramático, e sempre mais dramático. Um feito literário notável do autor que leva-nos incontrolavelmente a não parar de ler. Um primor misto de tragédia, terror e surpresas assustadoras.

Um romance onde não só a barba fica ensopada seja com água das chuvas, da piscina  e do mar, seja de sangue de um protagonista tão recluso em si mesmo que não consegue perdoar, como muito bem tratado pelo autor no final do livro.

Não li ainda outras obras do Daniel Galera, mas percebo neste livro um grande escritor brasileiro, com estilo próprio, um competentíssimo e sério trabalho de pesquisa, incrível elaboração de dinâmicos diálogos, sendo detentor de excelente capacidade de construção de personagens e um texto muito bem estruturado. Um livro para encucar. Recomendo a leitura.

Valdemir Martins

13.07.2021 

Fotos: 1. Capa do livro; 2. Vista de Garopaba; 3. Baleia franca próxima à praia; 4. A piscina de três raias ; 5. O autor em Garopaba.

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