“E, de inopino, a resposta lhe
ocorreu. Soltou uma risada. Agora que a tinha, ela era como um desses
quebra-cabeças que nos obsedam até que alguém nos mostre a solução; ficamos
então a imaginar como aquilo nos pode escapar. A resposta era evidente. A vida
não tinha sentido.”
Quem gosta de ler, sempre tem um
livro favorito, marcante. Um, dois, dez, cinquenta. Tudo depende,
evidentemente, do nível dos livros que se lê em face ao seu gosto pessoal. Mas
sempre há aquela obra que nos fascina, intoxica a alma, entranha-se no coração
e nos marca a mente.
Relato inigualável sobre o poder do desejo e
da sede de liberdade do homem moderno, Servidão Humana coloca-nos
friamente perante a nossa própria visão da vida, as nossas dúvidas e o poder
transformador das decisões. Somos levados a nos deparar inúmeras vezes com
situações que exigem decisões, sacrifícios, ousadia. Você deseja isso, mas,
talvez, como o personagem, ver-se-á às voltas com soluções que não são suas.
Você com certeza tem um lugar garantido na obra. Sofrerá muito como o próprio
protagonista. Ficará feliz, ansioso, sofrido. Viajará por livros e obras de
arte. Ansiará para que Philip tome as decisões corretas, suas atitudes lhe
darão nos nervos, mas você acabará incorporando-o. Um herói rico e denso que certamente possui alguma
faceta com a qual qualquer leitor logo se identifica.
Um raro romance que não aborda sexo e dele
independe. Em contraposição, explora a moral a braçadas, sem se tornar chato,
apenas reflexivo. Um livro que constrói, mesmo em suas páginas mais tenebrosas.
Desde a adolescência, minha britânica senhora
professora de língua inglesa recomendava-me esta leitura. Mas somente agora
tive este ensejo e a sorte de conseguir um exemplar de 564 páginas, volume 19
da coleção Os Imortais da Literatura Universal, da Editora Abril, de 1971, com
a brilhante tradução do português António Barata (a qual recomendo). Hoje,
infelizmente não se encontram novas edições e uma obra prima como Servidão
Humana acha-se esgotada nas livrarias. Uma excelente alternativa são os sebos
digitais, como o Estante Virtual, onde você encontra vários exemplares da obra
por valores irrisórios (R$ 4,00), por incrível que pareça. Não perca a chance!
Por Valdemir Martins, em 14/10/2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Agradeço seu comentário e participação!