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11 de mar. de 2017

O Pintassilgo: uma monumental montanha-russa

Acabei de ler um livro monumental. Digam o que quiserem meia dúzia de críticos que não conseguem escrever o próprio nome e precisam depreciar para pretensamente serem apreciados.

A obra-prima ‘O Pintassilgo’*, da norte americana Donna Tartt, é uma raridade literária moderna, estando a autora, para a literatura atual, como George Gershwin está para a música clássica contemporânea. A rigor, um clássico moderno. E consagrado por colegas escritores e pela nata da crítica literária internacional.

Como ‘O Pintassilgo’, há livros que nos fazem imergir em suas linhas e entrelinhas, impactando-nos imensamente com a criação de certa dependência da leitura enquanto não terminada. Comigo aconteceu com ‘O Vermelho e o Negro’, de Stendhal, ‘Servidão Humana’, de W. Somerset Maugham, ‘Crime e Castigo’, de Dostoiévski, ‘Os Pilares da Terra’, de Ken Follet, ‘A Catedral do Mar’, de Ildefonso Falcones, ‘Ana-não’, de Agostin Gomes Arcos, entre outros.

Mas o livro de Tartt é insuperável no seu envolvimento emocional, levando-nos, como sempre acontece com as obras-primas, a escrever mentalmente para o autor o que virá a seguir, segundo gostaríamos. E somos sempre surpreendidos por viradas espetaculares de situações, por refluxos de emoções e pela magistral criatividade aliada ao conhecimento técnico do que está sendo abordado. Em “O Pintassilgo” o leitor faz viagens incríveis pelo mundo da pintura, da restauração e do mobiliário clássico, das drogas e do álcool, da alta e baixa Nova Iorque, do desmoronamento de famílias, do amor e das amizades sinceras. Tudo na contemporaneidade de e-mails e celulares, banhado pelo medo, solidão, traição, profundo amor inconsciente, confiança mútua e separações. Uma leitura como num filme de suspense – por suas impecáveis descrições -, onde o leitor navega por caminhos tortuosos e retos, altos e baixos, numa permanente viagem de montanha russa.

Tudo começa quando o garoto Theo Decker, de treze anos, sobrevive milagrosamente a um acidente que mata sua mãe. Abandonado pelo pai, Theo é adotado pela família rica de um amigo. Estranho em seu novo lar na Park Avenue (NY), perseguido por colegas de escola com quem não consegue se comunicar e, acima de tudo, atormentado pela ausência da mãe, ele se apega a uma pequena, misteriosa e cativante pintura que acabará por arrastá-lo, mais tarde, ao submundo da arte. Antes disso, seu pai reaparece, mudando radicalmente sua vida ao levá-lo para Las Vegas, onde Theo conhece um menino russo que se torna seu amigo íntimo e será responsável por virar a vida do protagonista de cabeça para baixo. Já adulto, Theo circula com desenvoltura entre os salões nobres e o empoeirado labirinto da loja de antiguidades de um “amigo tutor” onde vem a trabalhar. Apaixonado e em transe, ele será lançado ao centro de uma perigosa conspiração internacional.


Em ‘O pintassilgo', Donna Tartt não se limita a contar esta história com grande qualidade literária, como por exemplo, a descrição de uma chuva torrencial ambientando uma cena no começo da obra que faz o leitor sentir-se inteiramente molhado. Mas, ela também nos leva a incríveis reflexões sobre a vida, a sociedade, as trocas e perdas, o amor e a família. Enfim, “é uma hipnotizante história de perda, obsessão e sobrevivência; um triunfo da prosa contemporânea que explora com rara sensibilidade as cruéis maquinações do destino.


*‘O Pintassilgo’ (The Goldfinch) é o nome de uma obra rara do pintor holandês Carel Fabritius (1654), discípulo de Rembrandt e mestre de Vermeer.

**O livro foi vencedor do Prêmio Pulitzer de 2014, categoria Ficção.

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