Não se pode ler Oliver Twist sem conhecer a origem pobre e problemática de seu autor, o inglês Charles Dickens. Escrito em episódios publicados na revista literária britânica Bentley’s Miscellany durante dois anos - e nesse interregno como um livro -, a obra é resultado de uma infância e adolescência problemática e curiosa que serviu de inspiração para a história de um órfão em Londres no século XVIII.
Rico em miséria, o livro tem um início tragicômico ao descrever as condições e diálogos do nascimento do pequeno Oliver e de seu primeiro livramento aos oito anos. A partir daí, o pequeno passa por todo o tipo de sofrimento, num texto espetacular de Dickens, impregnado de ironia e crítica dissimulada aos adultos que tudo decidem na vida de crianças órfãs naquela pequena cidade natal de Oliver, obscura, ignorante e violenta. A dramaticidade expressa pelo autor é superlativa.
O menino foge então para a parte também violenta e imunda de Londres e sua vida muda novamente. Dickens não perde a chance de despejar suas críticas sociais a cada nova situação. Chega até a criticar os filósofos que perdem tempo em reflexões e divagações muitas vezes fúteis e vazias, que nada de prático acrescentam à vida das pessoas. Atua como narrador e pondera com o leitor algumas situações do enredo, numa incrível empatia e intimidade.
Em sua crônica social, Dickens transporta-nos para aventuras nebulosas, obscuras e criminosas. O bem é algo raro e muitas vezes subliminar e ambíguo, mas incomum. Nas escassas cenas de felicidade do garoto, o autor capricha no tom poético. E, como um bom clássico, a obra tem diversas sequências prolixas, com narrativas minuciosas de criatividade poética e função estética, o que poderá resultar em enfadonhas para alguns leitores. Porém, necessárias na medida em que criam ambientações e trazem esclarecimentos sobre lugares e personagens. Além de abrilhantar literariamente a obra.
A partir de sua terceira parte, o livro explode em ação. E as revelações crescem aos borbotões, ao tempo em que um crime horroroso começa a dar o fecho à história. E a degradação física e psíquica de um condenado transforma o quase final da obra numa lição de como expressar em letras a angústia e o desespero, contagiando o leitor. E, a seguir, um final esperadamente feliz, por tratar-se da vida de um pobre e indefeso menino.
Aliás, Oliver, o pretenso protagonista, tem sua relevância diluída perante o protagonismo de outros fortes personagens, num jogo de participações marcantes desta muito bem elaborada trama urdida no talento de Dickens.
Neste que é um de seus primeiros trabalhos, Charles Dickens já demonstra seu enorme talento como o maior romancista e mais popular dos gerados na era vitoriana. Tornou-se, pelo conjunto de sua obra, o mais respeitado escritor do realismo britânico.
Uma obra para se conhecer antes de ler sua considerada obra prima David Copperfield, um dos mais importantes romances do século XIX. E também o mais autobiográfico de Dickens.
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Valdemir Martins
08.04.2025
Fotos: 1. Capa do livro; 2. A revista literária britânica Bentley’s Miscellany; 3. O bedel do orfanato; 4. O Judeu meliante; 5. A perseguição; 6. O autor Charles Dickens.
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