No meu conceito literário, toda obra
escrita sobrevive, sobressai e obtém êxito ao coadunar qualidade literária, um
bom texto e um ótimo enredo, seja ela um romance histórico ou de ficção ou
mesmo um ensaio. E com certeza, meu humilde conceito não se alinha aos da Academia
Sueca, outorgante do Prêmio Nobel de Literatura. Dos últimos dez premiados,
tenho sérias restrições à qualidade literária dos três mais recentes: a
simplória Annie Ernaux, o repetitivo e aborrecido Jon Fosse e, agora, a feminista
Han Kang.
Longe de me considerar um expert
literário, emito apenas uma opinião pessoal por me reconhecer uma pessoa culta,
de bom senso e de bom gosto. E ninguém é obrigado a concordar ou discordar do
que penso. Assim, assumo o direito de criticar a Academia, uma vez que ignorou talentos
e escritores fabulosos como Liev Tolstói, Marcel Proust, James Joyce, Virginia
Woolf, Jorge Luis Borges, Paul Valéry, Philip Roth, Vladimir Nabokov, Mia Couto, Chinua
Achebe e Paul Auster, entre outros.
Defendida com toda a energia
pelas feministas de plantão, a obra A Vegetariana, da mais recente
premiada da Academia, a sul coreana Han
Kang, não passa de um livro simples, com um texto chocante, que trata de
uma mulher neurótica e radicalmente vegana, que eventualmente é apenas usada
por seu marido e pelo cunhado. Assim como acontece em centenas (ou milhares) de
outras obras, sem qualquer crítica efetiva da inócua cultura woke.
Li este livro após o êxtase de
ler Baumgartner, do incomparável Paul
Auster. Talvez este tenha sido o meu erro, pois não foi como descer uma escada,
mas como sofrer uma queda violenta. A Vegetariana
é construído a partir de personagens perdedores, fracos, com mútua exploração.
Talvez seja esse o mérito da obra, o qual não valorizo, principalmente por não
conter qualidade literária.
Um boçal escolhe a esposa por não
ser atraente e inteligente, para não ter problemas no casamento. A esposa
deixa-se dominar por uma paranoia e altera a sua vida e a de todos os que estão
ao seu redor, principalmente familiares. A autora explora profundamente esse
aspecto, ora em episódios de violência física, ora psicológica. Cenas cruéis e
devastadoras, de várias formas, são aqui também exploradas, culminando com abordagens
sexuais sui generis e marcantes.
Desespero, angústia e reveses
apoderam-se da obra de forma surpreendente ede ótima construção pela autora. E
como leitores, participando da obra, impacientamo-nos diante das obsessões dos
personagens que rodeiam a poderosa protagonista vegetariana radical. Uma
conquista brilhante de Kang, envolvendo-nos sobremaneira neste curto e agoniante
romance que lhe valeu, já em 2007, o Man Booker Prize.
Nesta narrativa psicológica, os personagens
são negativistas: nunca pensam e refletem sobre o melhor, o positivo. Mas, sempre sobre culpas e atos negativos. E prevalece então a resignação.
E tudo nos faz refletir sobre a vida; a nossa vida. Onde perdemos tempo em
relacionamentos e reveses ou onde o ganhamos, como prêmios, também em relacionamentos
e conquistas. Vivemos ou perdemos tempo e oportunidades na vida? Tudo isso, no
crepúsculo da obra – sua terceira parte -, onde a autora consegue trazer-nos
uma boa melhora no nível literário.
Se gostou deste comentário sobre o livro, siga-me. Basta clicar em "Seguir" no lado superior direito desta página (abaixo das fotos dos "Seguidores") e você receberá as novas postagens. Muito obrigado!
Valdemir Martins
17.11.204
Fotos: 1. Capa do livro; 2. Prato vegetariano; 3. O espancamento do pai; 4. O flagrante do marido; 5. A internação no sanatório; 6. Tornou-se uma árvore; 7. A autora Han Kang.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Agradeço seu comentário e participação!