Para quem “começou a escrever para combater a solidão” – como insistia em dizer -, o mexicano Juan Rulfo galgou estágios de sucesso literário jamais por ele imaginado, tornando-se um dos mais importantes escritores latino americanos de todos os tempos. Sua obra prima Pedro Páramo rodou o mundo e foi traduzida para trinta e dois idiomas. E, como afirmam os historiadores literários, serviu de cartilha para grandes escritores contemporâneos.
Dele nasceu o Realismo Mágico latino americano, onde beberam Gabriel García Márquez, Jorge Luís Borges, Julio Cortázar, Juan Carlos Onetti e Carlos Fuentes, entre outros. E a obsessão de Rulfo pelas releituras e cortes levou suas obras a uma concisão e objetividade tão marcantes como as de Graciliano Ramos no Brasil. É contido no uso de adjetivos e cortou cerca de cem páginas deste trabalho antes de editá-lo. Mas, infelizmente, Rulfo deixou-nos apenas dois livros, este romance Pedro Páramo e a coletânea de contos Chão em Chamas. Duas obras suficientes para enriquecer a literatura tão fortemente que poucos autores contemporâneos o conseguiram igualar, segundo os estudiosos.
O protagonista desta obra é um órfão e chama-se Juan – assim como o autor – em busca de um pai e, a pedido da mãe, sai em busca de suas origens. E o que ele encontra é fantástico, literalmente. E logo de início extasiamo-nos com um texto deslumbrante, onde a leitura prazerosa corre solta em surpresas constantes. Múltiplos personagens inconfundíveis invadem nossa leitura. Um mais rico e surpreendente que o outro, passando como fantasmas.
Seu texto lírico e profundo envolve-nos como num sonho: “Ouvia de vez em quando o som das palavras, e notava a diferença. Porque as palavras que havia ouvido até então, e só então fiquei sabendo, não tinham nenhum som, não soavam; sentiam-se; mas sem som, como as que se ouve durante os sonhos.”
Estamos no mundo dos mortos, embaixo da terra onde eles conversam e reclamam. Outros estão em cima e contam suas histórias. E Rulfo no embalo conta tudo sobre a vida e a morte deles. E nada lúgubre ou fantasmagórico. Apenas um romance em cidade pequena, um povoado, que apesar de morto mantém viva suas memórias. Uma riqueza literária desse estirpe como ainda não havia lido.
Usando das mais primorosas técnicas literárias, Rulfo enleva-nos em sua explosão literária, fugindo dos enredos solenes e lineares, e colocando-nos frente a um palavreado lúdico que obriga-nos a construir com ele o que quisermos para, inescapavelmente, chegarmos ao protagonista do título através dos inúmeros figurantes que seu filho encontra antes de encontrá-lo. Sua narrativa não é um prêt-à-porter. Você precisa ajudá-lo, absorvendo sua criatividade e sentindo o êxtase de suas explanações.
Enfim, um livro para quem realmente aprecia qualidade literária de primeiríssima grandeza. Único e incomparável. Uma obra que celebra a vida através dos mortos. Brilhante!
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Valdemir Martins
21.11.2024
Obs: Após a leitura deste livro, recomendo assistir à minissérie do mesmo título na Netflix. Trata-se de outra obra prima, agora, cinematográfica.
Fotos: 1, Capa do livro; 2. A pequena cidade paterna; 3. O filho Juan Preciado: 4. O pai Pedro Páramo; 5. Personagens da obra; 6. o autor Juan Rulfo; 7. A excelente minissérie no Netflix.
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