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8 de out. de 2024

Carl Sagan revela O Mundo Assombrado pelos Demônios.

O cientista planetário, astrônomo, astrobiólogo, astrofísico, escritor, divulgador científico e ativista norte-americano Carl Sagan inicia um de seus mais brilhantes livros dedicando-o ao seu neto Tonio, desejando-lhe um mundo livre de demônios e cheio de luz. Sintetiza, de certa forma, o contexto da obra O Mundo Assombrado pelos Demônios.

E principia este trabalho na sua infância, onde as crianças costumam questionar diversos fatos por não entenderem ainda a lógica de sua realidade. Assim, por exemplo, como saber o que é imaginação ou realidade? Ou como se podia ver o som e ouvir a luz? E assim seus pais o introduziram simultaneamente no ceticismo e no assombroso, dois modos de pensamento que são a base do método científico.

Na sequência, critica severamente o ensino das ciências exatas nas escolas, as quais não conseguem despertar a curiosidade dos alunos em formação para o que é ensinado: ”Nosso trabalho consistia meramente em recordar o que nos tinha ordenado: consegue a resposta correta, não importa que entenda o que faz.”  Já na Universidade de Chicago ele encontrou um programa de ensino no qual era impensável que um aspirante a físico não conhecesse Platão, Aristóteles, Bach, Shakespeare, Gibbon, Malinowski e Freud, entre outros.

Parte a seguir para os relatos espúrios, tão comuns hoje em dia, nos quais a grande maioria de  pessoas crédulas incautas acreditam em inúmeras balelas sem comprovação científica, como a existência de Atlântida, o poder dos cristais ou a previsão dos horóscopos, por exemplo, com a cooperação desinformada (e frequentemente a conivência cínica) de periódicos, revistas, editores, rádio, televisão, sites, produtores de cinema e similares. E escancara essa pseudociência difundida pelas fontes de informações disponíveis à população, com amplos e profundos interesses comerciais e de ativismo sócio-político.

Sempre com inúmeros exemplos, ele passa pelos momentos pretéritos da ciência, como a escuridão de dez séculos da antiguidade sem qualquer produção científica. E considera então o dom da vida e a sobrevivência como a base e inspiração do desenvolvimento científico. E conclui que os avanços na medicina e agricultura salvaram muitas mais vidas do que as que se perderam em todas as guerras da história.

Alerta, então, para mais atenção às consequências da tecnologia a longo prazo se usadas sem controle ou destinadas para o mal. E a que interesses serve a ignorância, além do progresso ininterrupto na auto desvalorização do homem causado pela revolução científica.

Baseado em seus estudos científicos, Sagan prevê que os Estados Unidos será uma economia de serviço e informação; quase todas as indústrias manufatureiras fundamentais se deslocarão para outros países; os temíveis poderes tecnológicos estarão em mãos de uns poucos e ninguém que represente o interesse público poderá se aproximar sequer dos assuntos importantes; as pessoas perderão a capacidade de estabelecer suas prioridades ou de questionar com conhecimento aos que exercem a autoridade; nós, obstinados a nossos cristais e consultando nervosos nossos horóscopos, com as faculdades críticas em declive, incapazes de discernir entre o que nos faz sentir bem e o que é certo, iremos deslizando, quase sem nos dar conta, na superstição e na escuridão.

E assim Sagan desenvolve esta sua ode à ciência e ao conhecimento, numa denúncia importante sobre o obscurantismo mascarado de entretenimento e solução, desmontando as crenças das passivas massas em superstições, credos religiosos e, principalmente, nas pseudociências.

Citando o profeta Isaías - Esperamos a luz, mas contemplamos a escuridão - Sagan deixa-nos um potente pensamento para reflexão: “Simplesmente, não há volta. Nós gostemos ou não, estamos atados à ciência. O melhor seria lhe tirar o máximo proveito. Quando finalmente o aceitarmos e reconhecermos plenamente sua beleza e poder, encontrar-nos-emos com que, tanto em assuntos espirituais como práticos; saímos ganhando.

Esta é uma obra transformadora. Com certeza, os leitores mais instruídos ficarão incomodados. Com fortes possibilidades de mudar alguns de seus conceitos. Já os menos letrados, perdidos por perdidos, com absoluta certeza não conseguirão ultrapassar os capítulos iniciais.

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Valdemir Martins

25.08.2024

Fotos: 1. Capa do livro; 2. Ver o som e ouvir a luz; 3. Balelas como o horóscopo; 4. A escuridão da ciência na Idade Média; 5. O obscurantismo religioso; 6. A tecnologia na guerra; 7. O anel de galáxias e a infinitude do cosmo; 8. O autor Carl Sagan.

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