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22 de jan. de 2022

A Montanha e o Rio nivelados pela vida.

No melhor estilo Ken Follett, o escritor chinês Da Chen brinda-nos com o maravilhoso romance histórico A Montanha e o Rio, obra nomeada melhor livro de 2006 pelo The Washington Post, San Francisco Chronicle, Miami Herald e Publishers' WeeklyUma obra escrita num ritmo chinês. Ou num rito chinês. Cadenciada, organizada, porém com muita dinâmica, rico em informações históricas passadas de forma suave em meio a um texto direto, objetivo. Poético quando cabível; brutal quando necessário. Ou os dois, de uma forma literariamente formidável que não nos deixa interromper a leitura.

Fugindo da tragédia totalitarista do comunismo na China, Chen instalou-se no Vale do Rio Hudson, no Estado de americano Nova Iorque em 1983, onde escreveu sobre a vida de dois irmãos no auge da Grande Revolução Cultural Proletária, (um movimento sociopolítico na China a partir de 1966): um pobre, outro poderoso e abastado; um bastardo, outro legítimo.

Um cresce em Beijing, cercado de luxo, carinho e conforto, ao passo que seu irmão é criado nas montanhas por um velho curandeiro e sua esposa, até que a morte do casal o leva a um orfanato onde passa a viver sozinho, assustado e faminto. Separados pela distância e pelas condições de vida, são dois estranhos, que crescem ignorando a existência um do outro.

A Montanha e o Rio narra a saga desses dois irmãos que trilham caminhos distintos, mas cujas vidas se encontram quando se mesclam inevitavelmente aos acontecimentos que marcam a história política e social da China no final do século XX. O texto primoroso leva-nos a “enxergar” os locais e cenários tal a qualidade descritiva de Da Chen, levando-nos a participar mais intensamente da obra.

Numa trama repleta de conspiração, mistério e paixão, esta história envolvente, que levou oito anos para ser concluída, Da Chen - conhecido por suas obras memorialísticas - faz sua primeira incursão pela área da ficção. A marca do autor está por certo presente nesta narrativa que possui também traços do romance histórico e é perpassada pelas milenares tradições do Oriente e suas relações com o mundo ocidental. Não deixa, todavia, de registrar o que foram – e o que são – as barbaridades da velha ditadura chinesa e sua elite, comandada por um partido político único, forte e implacável.

Permito-me não destacar mais detalhes para não incorrer em spoiler e tirar todas as surpresas principais inteligentemente elaboradas pelo autor, com dramaticidade de primeira linha, suspense e muita emoção. Recomendadíssimo!

Valdemir Martins

15.01.2022

Fotos: 1. Capa do livro; 2. As montanhas e os rios chineses; 3. A Revolução Cultural; 4. Modernidade na tradição; 5. Da Chen


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