
E deu. Comecemos com o fato de
que o gigante enterrado não existe, limitando-se a uma citação inicial de que
seria a causa de uma elevação no relevo; uma colina. E aí, as inúmeras
montanhas da obra, galgadas com enorme esforço pelos personagens, tomam conta
das paisagens, principalmente em seu terço final. Outra figura nessa simbologia
do gigante é a memória, enterrada por uma dominante névoa emanada pelo bafo de
uma dragoa – provavelmente simbolizando a religião – que causa a perda de
memória nas pessoas.
Não li ainda outras obras do britânico Kazuo Ishiguro. Acredito que meu première foi acertado nesta
magnífica obra onde são entrelaçados elementos históricos do século oito na Grã
Bretanha com suas lendas e mitologia grega. A crendice domina a obra e
predomina nos desígnios de vida dos seus protagonistas, dois simpáticos e
cativantes idosos que só transmitem amor e bondade. Mesmo nas piores circunstâncias
o casal tem sempre uma pergunta ou uma colocação que indica o lado bom das situações
ou mostram um novo caminho. Ajudam e são ajudados. É sempre o bem compensando o
bem.

Um velho guerreiro descendente do
rei Arthur – e seu garboso cavalo -, um jovem competente e impetuoso guerreiro –
e sua égua manca –, compreensivelmente antagonistas, convivem tolerantes por
solidariedade aos velhos. E um rapazote marcado fisicamente pelo mal e vítima
de perseguições, além de um bando de frades do bem e do mal completam as
principais figuras dramáticas desta magnífica história.
Como declarou o próprio Ishiguro,
esta não é sua principal obra – ele destaca sempre “Os Vestígios do Dia” -, mas
com certeza é sua mais profunda reflexão escrita sobre o esquecimento, o
respeito e o amor.
Por Valdemir Martins
Em 30 de janeiro de 2018.
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