Para ler este livro obrigatoriamente temos que passar pela Praça XV, no Rio de Janeiro. Foi lá que o jornalista, biógrafo e premiado escritor brasileiro Ruy Castro descobriu um caderno que deu origem ao delicioso livro Os Perigos do Imperador: um romance do Segundo Império. E essa história encontra-se no prólogo da obra, fundamental para assimilar todo o clima do romance e a perspicácia do autor.
Num misto de registro histórico de fatos e costumes costurado à uma prosa ficcional muito competente, Castro principia a obra com a decisão do Imperador dom Pedro II, do Brasil, em fazer uma longa viagem ao exterior e o alvoroço que isto acarretou na corte e adjacências. Como competente cronista que é, Castro constrói de imediato todo o ambiente da sociedade imperial carioca do começo de 1875, levando-nos a navegar em uma saborosa viagem no tempo.
Um jornalista norte-americano que acompanhou o imperador em sua viagem, veio ao Brasil para conhecê-lo e redigir uma série de artigos prévios para seu jornal, passando a ser um protagonista neste episódio praticamente incógnito na História do Brasil. E assim, passamos a conhecer um governante brasileiro diferenciado, amante da arte, da cultura e das ciências.
Seus desafetos secretavam bile permanentemente face aos constantes êxitos conquistados por d. Pedro II e por sua simplicidade e despretensão. E, como grandes invejosos, falavam dele com amargura e exagerado deboche. Castro nos proporciona então, realmente conhecer esse monarca Pedro, ilustre brasileiro que em muito supera todos os governantes republicanos que por aqui suportamos ao longo da História. Seja por sua humildade, por seus interesses no desenvolvimento científico e social, seja por sua intelectualidade, autenticidade e autonomia.
Nos Estados Unidos o imperador teve contato com inúmeras modernidades daquela época, desconhecidas em nosso país, então, imperial. Além de, por iniciativa própria, conhecer pessoalmente políticos, militares, artistas, estudiosos e intelectuais daquele país, mundialmente consagrados, mantendo sempre sua inconfundível dignidade, tolerância e sabedoria. Além de aceitar inconfessadamente o sistema republicano.
E a cereja do bolo são as narrativas da muito atrapalhada trama contra o imperador, repletas de ironias contextuais e autênticas. Numa construção literária brilhante, Ruy Castro intercala cronologicamente documentos, cartas, diários, notícias e o caderno da Praça XV, entremeados por suas argutas narrativas como liames dos mesmos. Resulta, enfim, numa obra cativante e reveladora que provavelmente irá surpreender muitos leitores. Recomendo!
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Valdemir Martins
18.06.2024
Fotos: 1. Capa do livro; 2. Dom Pedro na época da viagem; 3. Com o presidente norte americano na abertura da Exposição Universal da Filadélfia; 4. Dom Pedro testando o telefone de Graham Bell; 5. O arco em homenagem a Dom pedro em Nova Iorque; 6. O autor Ruy Castro.
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