Considerada mais uma obra prima da literatura russa do século
XX, o livro Morreram pela Pátria, do cossaco Mikhail Sholokhov, prêmio Nobel de Literatura de 1965, além de
outros lauréis, cativa-nos já nas primeiras linhas. Num terno tom poético, o
autor nos imerge numa chácara das estepes russas, no caótico cenário do fim do
inverno, com tudo congelado, queimado e inóspito.
Numa variação radical, Sholokhov passa então para uma
linguagem vibrante, extremamente realista, iniciando o que será a narrativa
inesquecível de um dos capítulos da brutal ocupação nazista da região do rio
Don, ao sul da Rússia, e a histórica resistência do povo e dos soldados russos.
Aqui ele se dedica aos dramas pessoais de alguns personagens para que melhor os
conheçamos, fazendo assim que nos envolvamos na trama e sejamos parte desta
grandiosa luta e poderoso sofrimento impingido à população e soldados naquele
local.
Em julho de 1941 a Alemanha Nazista lançou um ataque em massa
contra a então União Soviética. A região sul do país, nas proximidades das
estepes do rio Don, foi uma das mais agredidas. É sobre essa luta, resistência
e sofrimento heroico e a fome do povo russo que Sholokhov escreve com o
conhecimento de quem esteve na frente de batalha. Teve enraizado em si os
detalhes e sentimentos dessa conflagração que de forma extraordinária e
brilhante transferiu para sua obra literária, o que sem dúvida muito lhe favoreceu
na conquista do Nobel.
Sholokhov tece um belo comentário sobre patriotismo e sobre
as responsabilidades de quem comanda, como um general. O que se contrapõe, de
forma acentuada, pela alocução categórica de uma senhora, chamada
carinhosamente de “avozinha” por um soldado, a qual delineia seu ponto de vista
sobre a passagem marcante dos batalhões por sua aldeia.
As descrições de batalhas são incrivelmente poéticas, de altíssimo valor literário, pois destacam, nas exposições, as reações psíquicas e da sensibilidade tanto dos personagens, como da natureza ao derredor. Tudo, sempre antecedido por exposições muito humanas de expectativas e procedimentos. O cotidiano da frente de batalhas dos soldados soviéticos, em sua maioria campesinos, mineradores, trabalhadores humildes e, portanto, pessoas muito simples, é relatado de forma extremamente humana.
Estratégias militares passam longe desta magnífica obra que retrata a crueza da guerra vivenciada dramaticamente por pessoas que não pediram para lá estar - e muitas vezes não sabem por que lá estão. Sabem apenas que estão lutando para defender a pátria de uma invasão dos inimigos nazistas alemães e que devem sobreviver também para voltarem aos seus lares e às suas famílias e amigos. E os que não conseguiram, apenas morreram pela pátria.
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Valdemir Martins
08.12.2023
Fotos: 1. Capa do livro; 2. Mapa da bacia do rio Don; 3. tanque alemão atolado no rio; 4. Trincheira no quintal das casas; 5. Mikhail Sholokhov.
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