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16 de fev. de 2024

Tudo é Rio: elogiar é plágio.

Elogiar Carla Madeira é plágio. Todos o fazem. Até os críticos mais rigorosos. Seu livro de estreia Tudo é Rio, de 2014, é uma obra de qualidade literária reconhecida com atraso. Estreou e não brilhou, por conta da editora da época que não investiu no seu talento. Jornalista e publicitária mineira, Madeira mudou de editora e em 2021 teve sua obra revisada e relançada pela Record e o sucesso, tão grande, levou-a a ser a escritora brasileira mais lida naquele ano, perdendo só para o fenômeno Itamar Vieira Júnior e seu Torto Arado (veja análise em https://contracapaladob.blogspot.com/2021/01/ver-os-homens-derramando-sangue-para.html ).

Em sua linguagem direta, crua e sucinta, Carla inicia esta obra chocando. No ambiente, no clima, no relacionamento, no sexo excitante e na religião desacreditada. Na perda da inocência. E, como um rio, tudo passa ligeiro e indelével. Suas metáforas são brilhantemente colocadas enriquecendo o texto e a compreensão de toda uma situação - até complexa – numa única frase.

Delicadamente Carla passa a expor a amizade, o amor e a família; afrontosamente Carla desenrola o terrível ciúme, o casamento; tudo bordado com os costumes de uma época. E assim ela desenvolve o enredo costurando vidas pregressas – como no vestido da noiva - para nos entranharmos, ansiosamente, nas tramas do livro.

E os desafios, desaforos, dão lugar ao intenso sofrimento. Triplo. Como escreveu a própria Carla “a dor vicia enquanto mantém a gente vivo”. E em meio a um intenso sofrimento de morte e desencontro, ela abre espaço para um discurso sobre Deus, para consolo ou raiva de quem quer apegar-se a Ele. O julgamento vazio, inconsequente, arrebentando pessoas bondosas e extraordinárias é outra linha crítica no cinzelado texto da autora. Mas a justiça, divina ou não, sempre se faz presente.

Esta obra-prima não trata de um triângulo amoroso como algo simplório e corriqueiro como faz crer o divulgado pela editora e propalado nos sites de livrarias. Trata-se de um belíssimo caso de amor atravessado por uma puta. Enquanto o casal tem muito amor, apenas suspenso por uma tragédia, a mundana tem tão somente paixão e tesão, e efêmeros, como um verdadeiro desafio que foi superado. 

Esse é o fulcro deste esplendoroso romance escrito como se confeitado. Poético às vezes, agressivo com frequência, mas fluido com leitura fácil e agradável. Carla consegue usar linguagem simples, popular, sem ser vulgar. Pelo contrário, enriquecendo as narrativas com o que lhe é imensamente adequado.

São aqui muitas vidas, muitas feridas e muitas felicidades. Dor e alegria. Assim a vida corre, arrasta, envolve, revira e deságua. Assim, tudo é rio.

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Valdemir Martins

Fotos: 1. Capa do Livro; 2. A carpintaria; 3. A família feliz; 4. O bordel; 5. Final feliz; 6. Carla Madeira.

30.12.2023 

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