A um forte e bem sucedido ataque
da grande esquadra holandesa a Salvador, surge mais uma teoria da conspiração
culpando cristãos-novos portugueses refugiados na Holanda. Na Espanha,
prevaleceu a ideia de que os grandes responsáveis pela queda de Salvador teriam
sido os judeus. Embora não houvesse nenhuma menção quanto a isso nas narrativas
presenciais neerlandesas ou luso-brasileiras, persistiu em Madri a opinião de
que os marranos haviam arquitetado toda aquela “trama maligna”.
Enfraquecidos por pura devassidão
e desleixo, em 1625 os holandeses são expulsos da Bahia, derrotados por uma
poderosa esquadra luso-espanhola. Mas, seis anos depois, muito mais organizados
e em número maior de pessoas, os holandeses conquistam Pernambuco rechaçando os
luso-espanhóis, E, desta vez, esquematizando-se para trazer, sob um programa de
incentivos de colonização organizada, os cristãos-novos fugidos de Portugal que
pela fluência da língua seriam fundamentais nesta nova conquista.
Após a aquisição, foi nomeado governador geral do Brasil o nobre
protestante conde João Maurício de Nassau, de 32 anos, formação humanística
exemplar e forte experiência militar. Após conquistar também Alagoas, Paraíba,
Itamaracá, Rio Grande do Norte, Ceará e Maranhão, Maurício pede e começa a
receber colonos judeus com profissões diversas e investidores holandeses,
abrindo o comércio à iniciativa privada. Depois de anos de sucessos no
desenvolvimento da região, Nassau é obrigado pelo governo holandês e pela CIO a
retornar para Amsterdam. Aproveitando-se da vacância de governo na região,
nacionalistas e rebeldes luso-brasileiros formam milícias e iniciam uma guerra
de libertação e reconquista principalmente da capital Recife. Com o apoio
dissimulado do rei português D. Manoel IV, em janeiro de 1654 os rebeldes brasileiros
reassumem Pernambuco e os holandeses restantes juntamente com os judeus são
expulsos da então capital brasileira.
Os rebeldes, na realidade, eram
liderados por fazendeiros de tabaco, pau-brasil e cana e produtores de açúcar
que deviam muito dinheiro aos judeus holandeses e à CIO. Assim, percebendo suas
produção e vendas comprometidas resolveram expulsar seus credores, formando
milícias com seus empregados, escravos e indígenas. Foram eles, na realidade,
os grandes responsáveis pela expulsão dos holandeses de Pernambuco, sem medir o
que essa colonização havia trazido de progresso e civilização para aquela
região. Só importou egoisticamente seus próprios interesses e não os de uma
futura nação.
Assim, um fato historicamente
pitoresco foi o desgarramento de rota de uma das naus com os judeus holandeses
e cristãos-novos, que depois de muitas atribulações, desembarcaram numa pequena
e modesta ilha de possessão holandesa, denominada Nova Amsterdam, hoje região
de Nova Iorque na América do Norte.
Esta obra de cunho documental histórico é recomendada aos que se interessam pelo assunto e pela história do século XVII. O Padre Antônio Vieira – personagem importante da literatura portuguesa e da História do Brasil - é figura atuante neste contexto, assim como todo um histórico de aventuras e desventuras da colônia judaica na Europa e nas Américas e toda a execrável e genocida perseguição da Inquisição da Igreja Católica. A hipocrisia e oportunismo português e luso-brasileiro em meio a todo sucesso holandês e judaico é algo também muito marcante.
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Valdemir Martins
Fotos: 1. Capa do Livro; 2. Lisboa no século XVII; 3. Amsterdã no século XVII; 4. Tribunal da Inquisição em Portugal; 5. Tortura da Inquisição; 6. Pe. Antonio Vieira, o inquisidor brasileiro; 7. Mauricio de Nassau; 8. Ponte construída por Nassau em Recife; 9. As "cidades irmãs" Nova Iorque e Recife; 10. Lira Neto.
16.12.23
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