Quase toda a ruína que uma guerra
propicia pode ser observada no livro (e filme) O Menino do Pijama Listrado, do escritor irlandês John Boyne, cujo enredo, desenvolvido
de forma brilhante pelo autor, traz ao leitor as devastações causadas pelos
nazistas na vida de todos os envolvidos. Tanto nos soldados e suas famílias,
como nos prisioneiros e nas áreas físicas afetadas, mas, principalmente, na
mente humana.
Para Boyne, sua história, apesar
de muito bem contada, ficou incompleta. Faltava contar as consequências da
guerra nos sobreviventes e seus descendentes. O espólio e o rescaldo do maior flagelo
humano dos tempos modernos. E aqui está o autor com a continuação – escrita
durante a pandemia - da sua obra mais famosa, lançando Por Lugares Devastados,
onde nos apresenta o drama das mentes e as culpas num intenso romance de
pós-guerra.
A protagonista é nada menos que
Gretel, a filha do chefe do campo de concentração de Auschwitz e irmã de Bruno,
o protagonista do primeiro livro. E sua história, a partir do fim da guerra, é
contada em dois tempos simultaneamente, entre os 15 e os 91 anos. Deslumbrante
até o final e tão ilusório quanto os banhos nos campos de concentração.
Neste ínterim, Boyne volta-se
para o interregno entre essas idades da protagonista, cujos traumas
evidenciam-se acentuadamente fazendo de sua vida uma verdadeira montanha russa
de emoções. E mesmo refugiando-se a 17 mil quilômetros da Europa, Gretel
continua encontrando fantasmas da guerra. Mas, no final, ela vai mesmo é defrontar-se
com assombrações, perspectivas obscuras e terror em seu próprio quintal aos 91
anos.
É comum encontrarmos na internet e
até na mídia uma enxurrada de críticas nefastas a estes dois livros de Boyne.
Todas de cunho pessoal e nenhuma delas de caráter literário. Esse fato denota
quanto muitas pessoas hoje em dia estão mais preocupadas em criticar aspectos
políticos, ideológicos, psicológicos e sociais de uma obra. Não têm o mínimo de
senso crítico para perceber que se trata de arte e, como tal, merecem apenas,
neste caso, as críticas específicas de especialistas em literatura. A analista
do jornal Folha de S. Paulo Juliana de Albuquerque chega ao absurdo de
considerar o livro como infanto-juvenil (sic) e a declarar que caso não tivesse
que fazer uma resenha do livro jamais o teria lido, numa demonstração claramente
preconceituosa para uma “jornalista” metida à crítica literária. Isto, para
citar apenas um caso que considero grave.
Porém, John Boyne é um excelente
contador de histórias. Um dos melhores. E a descrição direta de cenas alegres e
principalmente as de tensão extremamente tristes são simplesmente brilhantes,
emocionantes e fluídas. Um grande romancista deixa, como ele, as grandes surpresas,
jamais esperadas, para o fim. Seu suspense é lírico e envolvente. Seu romance é
sobre culpa. A nossa, a dos outros, e as dos que nos são caros.
Fica a minha recomendação enfática para a leitura sequencial de O Menino do Pijama Listrado e Por Lugares Devastados, ambos pela Companhia das Letras.
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Valdemir Martins
Fotos: 1. Capa do Livro; 2. Gretel com a mãe e o irmão; 3. Torturada pela Resistência Francesa; 4. Aos 91 anos; 5. O prédio em Mayfair; 6. John Boyne.
06.01.2024
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