Não
sem motivo o inominável protagonista é assim assentado por Galera na obra. Um
personagem à procura de si mesmo e do avô paterno por todo o enredo. Sua deficiência
em reconhecer rostos (prosopagnosia) é uma
tirada incrível do autor para reforçar a indefinição do protagonista consigo
mesmo.
Uma obra grudenta que te impulsiona à leitura incessante, apesar do enredo desenvolvido por espasmos criativos. Não se deixe levar pela sensação de uma obra comum que remete a script de telenovela, pois você foi fisgado pela progressiva preparação que Galera faz para encaminhar suas emoções para um dramático apogeu.
No inverno praiano catarinense você vai experimentar ficar enregelado até os ossos. Num trecho com dias seguidos de chuva você vai sentir-se encharcado, tamanha a força descritiva da narrativa que sincronicamente transforma-se num ápice dramático, e sempre mais dramático. Um feito literário notável do autor que leva-nos incontrolavelmente a não parar de ler. Um primor misto de tragédia, terror e surpresas assustadoras.
Um romance onde não só a barba fica ensopada seja com água
das chuvas, da piscina e do mar, seja de
sangue de um protagonista tão recluso em si mesmo que não consegue perdoar,
como muito bem tratado pelo autor no final do livro.
Não li ainda outras obras do Daniel Galera, mas percebo neste livro um grande escritor brasileiro, com estilo próprio, um competentíssimo e sério trabalho de pesquisa, incrível elaboração de dinâmicos diálogos, sendo detentor de excelente capacidade de construção de personagens e um texto muito bem estruturado. Um livro para encucar. Recomendo a leitura.
Valdemir Martins
13.07.2021
Fotos: 1. Capa do livro; 2. Vista de Garopaba; 3. Baleia franca próxima à praia; 4. A piscina de três raias ; 5. O autor em Garopaba.
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