No melhor estilo Ken
Follett, o escritor chinês Da Chen
brinda-nos com o maravilhoso romance histórico A Montanha e o Rio, obra nomeada melhor livro de 2006 pelo The Washington
Post, San Francisco Chronicle, Miami Herald e Publishers' Weekly. Uma obra escrita num ritmo chinês. Ou num rito
chinês. Cadenciada, organizada, porém com muita dinâmica, rico em informações
históricas passadas de forma suave em meio a um texto direto, objetivo. Poético
quando cabível; brutal quando necessário. Ou os dois, de uma forma
literariamente formidável que não nos deixa interromper a leitura.
Fugindo da tragédia totalitarista do comunismo na China, Chen
instalou-se no Vale do Rio Hudson, no Estado de americano Nova Iorque em 1983,
onde escreveu sobre a vida de dois irmãos no auge da Grande Revolução Cultural
Proletária, (um movimento sociopolítico na China a partir de 1966): um pobre,
outro poderoso e abastado; um bastardo, outro legítimo.
Um cresce em Beijing, cercado de luxo, carinho e
conforto, ao passo que seu irmão é criado nas montanhas por um velho curandeiro
e sua esposa, até que a morte do casal o leva a um orfanato onde passa a viver sozinho,
assustado e faminto. Separados pela distância e pelas condições de vida, são
dois estranhos, que crescem ignorando a existência um do outro.
A
Montanha e o Rio
narra a saga
desses dois irmãos que trilham caminhos distintos, mas cujas vidas se encontram
quando se mesclam inevitavelmente aos acontecimentos que marcam a história
política e social da China no final do século XX. O texto primoroso leva-nos a
“enxergar” os locais e cenários tal a qualidade descritiva de Da Chen,
levando-nos a participar mais intensamente da obra.
Numa trama repleta de conspiração, mistério e paixão, esta história envolvente,
que levou oito anos para ser concluída, Da Chen - conhecido por suas
obras memorialísticas - faz sua primeira incursão pela área da ficção. A marca do
autor está por certo presente nesta narrativa que possui também traços do
romance histórico e é perpassada pelas milenares tradições do Oriente e suas
relações com o mundo ocidental. Não deixa, todavia, de registrar o que foram –
e o que são – as barbaridades da velha ditadura chinesa e sua elite, comandada
por um partido político único, forte e implacável.
Permito-me
não destacar mais detalhes para não incorrer em spoiler e tirar todas as surpresas principais inteligentemente
elaboradas pelo autor, com dramaticidade de primeira linha, suspense e muita
emoção. Recomendadíssimo!
Valdemir
Martins
15.01.2022
Fotos: 1. Capa do livro; 2. As montanhas e os rios chineses; 3. A Revolução Cultural; 4. Modernidade na tradição; 5. Da Chen
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