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18 de dez. de 2024

A Vegetariana brotou do nada e virou uma árvore.

No meu conceito literário, toda obra escrita sobrevive, sobressai e obtém êxito ao coadunar qualidade literária, um bom texto e um ótimo enredo, seja ela um romance histórico ou de ficção ou mesmo um ensaio. E com certeza, meu humilde conceito não se alinha aos da Academia Sueca, outorgante do Prêmio Nobel de Literatura. Dos últimos dez premiados, tenho sérias restrições à qualidade literária dos três mais recentes: a simplória Annie Ernaux, o repetitivo e aborrecido Jon Fosse e, agora, a feminista Han Kang.

Longe de me considerar um expert literário, emito apenas uma opinião pessoal por me reconhecer uma pessoa culta, de bom senso e de bom gosto. E ninguém é obrigado a concordar ou discordar do que penso. Assim, assumo o direito de criticar a Academia, uma vez que ignorou talentos e escritores fabulosos como Liev Tolstói, Marcel Proust, James Joyce, Virginia Woolf, Jorge Luis Borges, Paul Valéry, Philip Roth, Vladimir Nabokov, Mia Couto, Chinua Achebe e Paul Auster, entre outros.

Defendida com toda a energia pelas feministas de plantão, a obra A Vegetariana, da mais recente premiada da Academia, a sul coreana Han Kang, não passa de um livro simples, com um texto chocante, que trata de uma mulher neurótica e radicalmente vegana, que eventualmente é apenas usada por seu marido e pelo cunhado. Assim como acontece em centenas (ou milhares) de outras obras, sem qualquer crítica efetiva da inócua cultura woke.

Li este livro após o êxtase de ler Baumgartner, do incomparável Paul Auster. Talvez este tenha sido o meu erro, pois não foi como descer uma escada, mas como sofrer uma queda violenta. A Vegetariana é construído a partir de personagens perdedores, fracos, com mútua exploração. Talvez seja esse o mérito da obra, o qual não valorizo, principalmente por não conter qualidade literária.

Um boçal escolhe a esposa por não ser atraente e inteligente, para não ter problemas no casamento. A esposa deixa-se dominar por uma paranoia e altera a sua vida e a de todos os que estão ao seu redor, principalmente familiares. A autora explora profundamente esse aspecto, ora em episódios de violência física, ora psicológica. Cenas cruéis e devastadoras, de várias formas, são aqui também exploradas, culminando com abordagens sexuais sui generis e marcantes.

Desespero, angústia e reveses apoderam-se da obra de forma surpreendente e de ótima construção pela autora. E como leitores, participando da obra, impacientamo-nos diante das obsessões dos personagens que rodeiam a poderosa protagonista vegetariana radical. Uma conquista brilhante de Kang, envolvendo-nos sobremaneira neste curto e agoniante romance que lhe valeu, já em 2007, o Man Booker Prize.

Nesta narrativa psicológica, os personagens são negativistas: nunca pensam e refletem sobre o melhor, o positivo. Mas, sempre sobre culpas e atos negativos. E prevalece então a resignação. E tudo nos faz refletir sobre a vida; a nossa vida. Onde perdemos tempo em relacionamentos e reveses ou onde o ganhamos, como prêmios, também em relacionamentos e conquistas. Vivemos ou perdemos tempo e oportunidades na vida? Tudo isso, no crepúsculo da obra – sua terceira parte -, onde a autora consegue trazer-nos uma boa melhora no nível literário.

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Valdemir Martins

17.11.204 

Fotos: 1. Capa do livro; 2. Prato vegetariano; 3. O espancamento do pai; 4. O flagrante do marido; 5. A internação no sanatório; 6. Tornou-se uma árvore; 7. A autora Han Kang.

1 de dez. de 2024

2041 – Como a Inteligência Artificial vai Mudar sua Vida.

A aceitação de novas tecnologias pela sociedade passa inescapavelmente pela sua compreensão e assimilação pelos seus principais difusores, como os responsáveis pelos meios de comunicação através da mídia, do cinema, das artes e das redes sociais, entre outros. Sua má compreensão e difusão incorreta pode causar estragos inimagináveis na utilização das tecnologias, podendo até condená-las.

A Inteligência Artificial (IA) é a bola da vez, já está em nossas vidas e veio para ficar, aceite ou não a sociedade. Mesmo com as limitações das ideologias pré-fabricadas e das narrativas superficiais inconsequentes expondo essa tecnologia como algo maléfico – sob o efeito das crenças sociais embasadas há tempos em mitos e embustes religiosos (como diz Yuval Noah Harari em seu novo best-seller Nexus) -, “os apregoados monstros ou robôs dominadores de mentes,  os criadores de desemprego e os humanos que querem dominar o mundo” nada poderão fazer diante da realidade que se apresenta na atualidade e no futuro.

Há de se considerar, portanto, que embora os humanos não tenham a capacidade da IA de analisar uma enorme quantidade de dados ao mesmo tempo, as pessoas têm uma habilidade única de utilizar experiências, conceitos abstratos e senso comum para tomar decisões, capacidades hoje impossíveis pela IA.

E é disso que trata a obra 2041 – Como a Inteligência Artificial vai mudar sua Vida nas Próximas Décadas, do taiwanês Kai-Fu Lee e do chinês Chen Qiufan, preocupados em difundir de maneira realística, clara e objetiva a verdade sobre essa importante e (hoje) fundamental tecnologia.  Sua estratégia  para que o livro não seja mais um daqueles teóricos pesados e que a assimilação dos conceitos e das utilidades da IA seja natural, foi transmiti-los de forma simples, direta e agradável através de contos.

Existem inúmeros cenários em que a IA pode melhorar profundamente a nossa sociedade, pois tem como uma das principais consequências a geração de riqueza suficiente para ajudar a reduzir a fome e a pobreza no mundo. E com certeza esta é a forma bastante adequada para que até os leigos entendam o que já está acontecendo via IA e o que vem por aí.

A tática de usar contos onde o emprego da IA está presente nos enredos facilita muito a compreensão da tecnologia. Engenhosamente, ao final de cada conto os autores inserem uma análise mostrando como a IA agiu em cada caso e como tecnicamente isso foi possível aplicado aos dias atuais. Comparavelmente, seria o equivalente a ensinar aspectos da ciência a crianças via historinhas em desenhos animados e numa linguagem bastante adequada. Nem por isso os autores deixam de fazer alertas importantes sobre os perigos de você – inconscientemente – ser manipulado.

E a intenção dos autores é proporcionar conhecer de forma correta esta tecnologia que já está mudando o status quo do mundo. E as pessoas precisam ter essa constatação de forma positiva no seu dia-a-dia, uma vez que a IA é irreversível e está aí há alguns anos participando de nossas vidas sem que a reconheçamos ou percebamos obviamente. A grande maioria das pessoas, crianças, jovens e idosos, navegam pelo Facebook e pelos sites da Amazon, por exemplo, sem que saibam como estão sendo observados ou influenciados.

Lee foi vice-presidente da poderosa Google chinesa e um dos principais desenvolvedores da Inteligência Artificial desde sua origem há décadas, e Qiufan é um consagrado escritor de ficção científica moderno. A união dessas duas competências, com profundo conhecimento de seus cabedais, leva-nos a uma obra extremamente leve, fácil e útil para quem tem o interesse e/ou a necessidade de conhecer essa tecnologia – principalmente os jovens - sendo ou não da área de informática.

E ao contrário do que se projeta nas distopias de futuros de fim de mundo e de terra arrasada, os autores nos apresentam as imensas possibilidades de vida e sobrevida com a utilização da IA. Da descoberta de novos fármacos e cura de doenças às novas formas biológicas de se produzir alimentos e combater a fome; da redução de custos na produção e venda de manufaturados à rapidez e eficiência nos serviços domésticos e nos transportes públicos e individuais, entre outras benfeitorias, são e serão o resultado desse novo mundo administrando lógica e celeridade pela IA.

Sim, um novo mundo que daqui a vinte anos mudará completamente a vida de todos e ensejará que as crianças de hoje vivam num mundo real que para nós hoje não passa de ficção científica.

Esta obra deveria ter sua leitura obrigatória nas escolas de nível médio e universitário. Mas como neste país a educação está entregue a um governo e a grupos ideológicos que pouco se interessam pelo futuro (e mesmo pela educação), recomendo a leitura de 2041 – Como a Inteligência Artificial vai mudar sua Vida nas Próximas Décadas para todos aqueles que têm sob sua responsabilidade ou interesse afetivo pessoas próximas e familiares jovens que ainda têm um futuro pela frente.

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Valdemir Martins

30.09.2024

Fotos: 1. Capa do livro; 2. Os canais de mídia; 3. A tecnologia do futuro; 4. Os contos peculiares deste livro; 5. A horta tecnológica; 6. A medicina e a cura via IA; 7. Os serviços domésticos automatizados; 8. O futuro da integração humana e tecnológica; 9. Kai-Fu Lee; 10. Chen Qiufan.