
Longe de ser uma romancista de formação,
como um Thomas Mann, a controversa Donna Tartt aproxima-se dele num viés
moderno e contemporâneo, versão bem norte-americana. Nada de importante e
crucial – seja em detalhe ou não - escapa à sua construção de escrita
exuberante. Com uma dinâmica narrativa extremamente funcional, arquiteta romances
monumentais como é o caso também do seu aclamado “O Pintassilgo” (The
Goldfinch), de 2013, ganhador do Prêmio Pulitzer de Ficção em 2014 ( veja
comentário no blog Contracapa/LadoB http://contracapaladob.blogspot.com.br/2017/03/uma-monumental-montanha-russa.html
). E, não por acaso, muito críticos comparam seu estilo ao de Charles Dickens.

Não
sou editor, mas – como se já o fosse – eliminaria alguns trechos de discussões
do grupo de alunos e de seu distinto professor sobre construção de textos em
grego, Platão, Homero, Dionísio, a Ilíada e a Odisseia e por aí afora. Não que
deixe de ser importante, mas inadequado e dispensável no seu excesso. Os
leitores não são hermeneutas e Tartt poderia ser um pouco parcimoniosa na
transmissão de seus conhecimentos da língua e da cultura grega antiga. Mas a
construção da obra no todo é de grande qualidade literária e leva-nos, por
exemplo, em determinado capítulo, a quase congelar no rigoroso inverno de
Vermont ao lado de um dos protagonistas. Põe em ação, progressivamente, um
perfeito personagem sádico arrivista, promotor de recorrentes diatribes, que
incomoda propositalmente o leitor, fazendo-o vivenciar com intensidade e participar,
assim, involuntariamente, da absorvente trama. A própria autora assim o descreve
no texto: “Era pior quando ele escolhia para vítima uma pessoa específica. Sua
sobrenatural perspicácia lhe dizia em qual nervo tocar, e em que momento exato,
para ferir e provocar o máximo de indignação”.

Valdemir Martins, em 26/02/2018.
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