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16 de mar. de 2019

Nunca presuma. Procure sempre além do óbvio.



Quem aprecia ler suspense e fantasia vai salivar no princípio do livro O Homem de Giz, da inglesa C. J. Tudor, sendo atropelado por uma surpreendente narrativa num parque de diversões e a apresentação de um diferenciado personagem branco, no qual muitos leitores apostam suas fichas, por dedução, ser o homem de giz. E você diz “oba, o livro promete”. Daí, num arrefecimento voluntário e bem menos cinematográfico, Tudor inicia a composição de seus interessantes personagens, alguns deles bastante esquisitos e a maioria problemáticos.


Apresentados ao passado dos personagens e à suas condições atuais, nova surpresa numa cena transcorrida no bosque da cidade e que lembra – principalmente para quem leu – as cenas de reunião do grupo de meninos e uma menina e suas brigas com o grupo rival no livro It, a Coisa, do Stephen King.

Entremeando humor negro e descrições fielmente nojentas e horripilantes com o imprevisível e o surpreendente, Tudor vai intercalando também os incógnitos desenhos de diversos homens de giz, chegando ao extremo de sorrisos em cabeças sem rosto. Um clima de efervescência sem ebulição cresce alucinadamente a partir de uma reflexão sobre vida e relacionamentos em meados do livro. Personagens são descritos de formas precisas e assim vamos entendendo e intuindo seu caráter, suas famílias - na maioria disfuncionais -, e suas reações. Paralelamente à história, a autora expõe também os dramas do envelhecimento e da precariedade da vida. E passa-nos um conselho sábio: “Nunca presumas. Questiona tudo. Procura sempre além do óbvio”.

Narrada em duas épocas paralelas (1986 e 2016), a história tem o efeito de fazer com que o leitor crie sempre expectativas diferentes do que realmente vai ser lido, submetendo-se, assim, a inovadoras surpresas. O texto tem uma linguagem dinâmica, ágil, eivada de medos, rancores, desconfianças, reviravoltas surpreendentes e descrições terrivelmente sanguinolentas. O leitor, em muitas situações, passa a acreditar que se trata não só de um livro de suspense, mas também de fantasia, tamanha a qualidade da manipulação imaginária da autora.

C. J. Tudor
A obra pode não ser um primor como thrillers de consagrados autores, mas aí é que se abrilhanta o talento de Tudor, trazendo-nos algo extremamente diferente, entremeando bom texto literário e reflexões com choques de eletrizante suspense e cenas de impacto. Este é seu romance de estreia e já nos apresenta muito do seu talento. Nesse caminho, eliminando desmazelos literários, logo chegará ao topo. É minha aposta, aguardando seu próximo livro.

Valdemir Martins
16/03/2019.

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Sinopse:
Em 1986, Eddie e os amigos passam a maior parte dos dias andando de bicicleta pela pacata vizinhança em busca de aventuras. OS desenhos a giz são seu código secreto: homenzinhos rabiscados no asfalto; mensagens que só eles entendem. Mas um desenho misterioso leva o grupo de crianças até um corpo desmembrado e espalhado em um bosque. Depois disso, nada mais é como antes. Em 2016, Eddie se esforça para superar o passado, até que um dia ele e os amigos de infância recebem um mesmo aviso: o desenho de um homem de giz enforcado. Quando um dos amigos aparece morto, Eddie tem certeza de que precisa descobrir o que de fato aconteceu trinta anos atrás. (Editora Intrínseca)

The Taking of Annie Thorne 

Este é o título em inglês do novo livro de C. J. Tudor, lançado agora nos Estados Unidos e sem previsão – nem título ainda – para o Brasil. Segundo dicas da autora, é um suspense centrado em um mistério que ficou sem solução há décadas: o desaparecimento de uma menina e seu misterioso retorno, quarenta e oito horas depois, incapaz de contar o que lhe ocorreu e completamente diferente de seu estado habitual.