Quem aprecia ler suspense e fantasia vai salivar no princípio
do livro O Homem de Giz, da inglesa C. J. Tudor, sendo atropelado por
uma surpreendente narrativa num parque de diversões e a apresentação de um
diferenciado personagem branco, no qual muitos leitores apostam suas fichas,
por dedução, ser o homem de giz. E você diz “oba, o livro promete”. Daí, num
arrefecimento voluntário e bem menos cinematográfico, Tudor inicia a composição
de seus interessantes personagens, alguns deles bastante esquisitos e a maioria
problemáticos.
Apresentados ao passado dos personagens e à suas condições
atuais, nova surpresa numa cena transcorrida no bosque da cidade e que lembra –
principalmente para quem leu – as cenas de reunião do grupo de meninos e uma
menina e suas brigas com o grupo rival no livro It, a Coisa, do Stephen King.
Entremeando humor negro e descrições fielmente nojentas e
horripilantes com o imprevisível e o surpreendente, Tudor vai intercalando
também os incógnitos desenhos de diversos homens de giz, chegando ao extremo de
sorrisos em cabeças sem rosto. Um clima de efervescência sem ebulição cresce
alucinadamente a partir de uma reflexão sobre vida e relacionamentos em meados
do livro. Personagens são descritos de formas precisas e assim vamos entendendo
e intuindo seu caráter, suas famílias - na maioria disfuncionais -, e suas
reações. Paralelamente à história, a autora expõe também os dramas do
envelhecimento e da precariedade da vida. E passa-nos um conselho sábio: “Nunca
presumas. Questiona tudo. Procura sempre além do óbvio”.
Narrada em duas épocas paralelas (1986 e 2016), a história
tem o efeito de fazer com que o leitor crie sempre expectativas diferentes do
que realmente vai ser lido, submetendo-se, assim, a inovadoras surpresas. O texto
tem uma linguagem dinâmica, ágil, eivada de medos, rancores, desconfianças,
reviravoltas surpreendentes e descrições terrivelmente sanguinolentas. O leitor,
em muitas situações, passa a acreditar que se trata não só de um livro de
suspense, mas também de fantasia, tamanha a qualidade da manipulação imaginária
da autora.
C. J. Tudor |
A obra pode não ser um primor como thrillers de consagrados autores, mas aí é que se abrilhanta o
talento de Tudor, trazendo-nos algo extremamente diferente, entremeando bom
texto literário e reflexões com choques de eletrizante suspense e cenas de
impacto. Este é seu romance de estreia e já nos apresenta muito do seu talento.
Nesse caminho, eliminando desmazelos literários, logo chegará ao topo. É minha
aposta, aguardando seu próximo livro.
Valdemir Martins
16/03/2019.
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Sinopse:
Em
1986, Eddie e os amigos passam a maior parte dos dias andando de bicicleta pela
pacata vizinhança em busca de aventuras. OS desenhos a giz são seu código
secreto: homenzinhos rabiscados no asfalto; mensagens que só eles entendem. Mas
um desenho misterioso leva o grupo de crianças até um corpo desmembrado e
espalhado em um bosque. Depois disso, nada mais é como antes. Em 2016, Eddie se
esforça para superar o passado, até que um dia ele e os amigos de infância
recebem um mesmo aviso: o desenho de um homem de giz enforcado. Quando um dos
amigos aparece morto, Eddie tem certeza de que precisa descobrir o que de fato
aconteceu trinta anos atrás. (Editora Intrínseca)
“The Taking of Annie Thorne”
Este é o título em inglês do
novo livro de C. J. Tudor, lançado agora nos Estados Unidos e sem previsão –
nem título ainda – para o Brasil. Segundo dicas da autora, é um suspense
centrado em um mistério que ficou sem solução há décadas: o desaparecimento de
uma menina e seu misterioso retorno, quarenta e oito horas depois, incapaz de
contar o que lhe ocorreu e completamente diferente de seu estado habitual.
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