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18 de mai. de 2021

Klara e o Sol: talvez todos os humanos sejam solitários.

Em sua mais recente obra Klara e o Sol, o Nobel inglês Kazuo Ishiguro escasseia. Depois de ler seus brilhantes e monumentais O Gigante Enterrado e Os Vestígios do Dia, sente-se que sua caçula carece de Ishiguro e de seus méritos literários.

Numa distopia contemporânea, o livro versa sobre a vida de uma robô, Klara, mais propriamente uma humanoide com inteligência artificial em meio a uma família. Explora o autor essa convivência, apresentando as linhas de pensamento, ações e reações dos seres humanos em diversas circunstâncias e situações, contrapondo às singelas e racionais reações da humanoide a tudo isso em suas vidas em comum, num mundo onde as relações são rasas e descartáveis.

Estará a mediocridade humana – que se acentua a cada década – preparada e capacitada e entender, acompanhar e conviver com as obras da inteligência artificial, resultado do acelerado desenvolvimento tecnológico produzido pelos gênios humanos? Neste livro Ishiguro destaca exatamente as facetas dessa vida em comum, demonstrando que os robôs com inteligência artificial, por não conterem sentimentos, são muito mais assertivos do que os humanos. Em especial, sua protagonista Klara.

Exatamente no início do terço final da obra, o enredo dá uma reviravolta positiva, saindo de um certo marasmo e da simplicidade rotatória de construção da trama, e surpreende-nos com novos personagens e novas e fluentes situações, encaminhando-nos ao crepúsculo do livro. É nesse trecho que descobrimos dois personagens coadjuvantes – mãe e filho – literariamente muito mais ricos que as outras pessoas, por serem absolutamente mais autênticos e compassivos. Também é nesse trecho que um robô faz uma oração por uma menina, fato deslembrado para um humano em todo o enredo, apesar dos inúmeros problemas que enfrentam.

Numa de suas deduções – sempre lógicas – Klara perscruta e conclui que “talvez todos os humanos sejam solitários. Ou pelo menos possam se tornar.” É a premonição comum, até em nossos dias, do que espera o futuro das novas gerações humanas. No caso deste livro futurista, crianças e adultos são realmente solitários. Por modificações genéticas, chamadas elevações, as crianças e jovens acabam necessitando da companhia de robôs, os AAs (Amigos Artificiais) para se desenvolverem.

Finalizando, segundo minha percepção, um livro aborrecido em muitos trechos, inclusive de carente estruturação textual e de baixa qualidade literária. Segundo a crítica Isabella Siqueira, “Ishiguro conduz com muita graça a trajetória de uma humanoide mais humana do que muitos por aí sonham em ser.” Enfim, trata-se de um bom romance sobre a complexidade das emoções humanas e de suas criações tecnológicas, mas indigno de um autor premiado com o Nobel de Literatura em 2017.

Valdemir Martins

18.05.2021

Fotos: 1. capa do livro; 2. drone pássaro de um personagem; 3. o crepúsculo que inspirou Klara; 4. Kazuo Ishiguro.

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