Este é um romance de época que transporta-nos, inicialmente, para
as crendices sobre irmãos gêmeos no século XIX, quando a extraordinária
escritora francesa George Sand o
criou, inspirada nos costumes de Bourges, na província de Berry, sua campestre
e verdejante terra natal no centro da França. Falo da obra A Pequena Fadette, que
demonstra toda a sensibilidade desta mulher revolucionária que se utiliza de
elementos de realismo fantástico com uma antecedência de um século.
Sand,
cujo nome verdadeiro era Amandine Aurore Lucile
Dupin de Francueil (1804-1876), foi uma mulher descasada (com dois filhos) que corajosamente
passou a fumar em público e a trajar roupas masculinas (apenas por diversão e
praticidade) e foi obrigada a adotar este pseudônimo masculino, quando ainda em
Paris, para ser aceita nos meios literários, antes de voltar para sua região de
nascença. Muito admirada por sua cultura e pensamento modernos, para a época,
Sand tinha como amigos Chopin, Liszt, Balzac, Flaubert, Mérimée e Mousset,
entre outras celebridades contemporâneas.
Considerada por muitos como a melhor escritora francesa,
consagrou-se como romancista e memorialista e tem em A Pequena Fadette sua obra máxima. Inspirada em sua infância
campesina, esta obra traz todos os elementos do meio rural e infanto-juvenil do
interior francês à época. Inicia-se com os mitos dos gêmeos e prossegue pelo
consequente difícil relacionamento entre os dois até que surge a pequena
Fadette, dando outro rumo à história.
Com extrema competência e de forma sutil, através de fatos e
conversas juvenis, Sand escancara de forma profunda a hipocrisia social, bem
como os complexos psíquicos e a baixa estima humana. Molda de forma altamente artística
o ícone “pessoa feia de alma bonita”. Baseada em seus dramas biográficos, criou
as principais personagens desta obra, sendo o casal protagonistas os mais
fortes detentores dessas características.
Neste romance campestre seu texto é repleto de otimismo,
ingenuidade e poesia, traduzido em personagens eivados de amor, ciúme,
honestidade e fidelidade, numa pequena comunidade rural francesa do século XIV.
Uma história romântica, graciosa, leve e muito bem escrita.
Chamo a atenção e recomendo a leitura desta
obra na edição da Barcarolla, de 2021 - a primeira tradução integral da obra
original de Sand -, pois a anterior, da Abril Cultural, é apenas uma adaptação adolescente
de 1973 para a coleção Literatura Juvenil. Como divulga a própria editora
Barcarolla, “A
presente edição revela a magnitude de uma obra literária que acabou ofuscada
pela ousada biografia da própria autora.”.
Valdemir Martins
10.12.2021
Fotos: 1. Capa do livro; 2. Os gêmeos; 3. Fadette e o irmão; 4. Fadette e os gêmeos; 5. George Sand.
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