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13 de dez. de 2021

A Revolucionária Pequena Fadette

Este é um romance de época que transporta-nos, inicialmente, para as crendices sobre irmãos gêmeos no século XIX, quando a extraordinária escritora francesa George Sand o criou, inspirada nos costumes de Bourges, na província de Berry, sua campestre e verdejante terra natal no centro da França. Falo da obra A Pequena Fadette, que demonstra toda a sensibilidade desta mulher revolucionária que se utiliza de elementos de realismo fantástico com uma antecedência de um século.

Sand, cujo nome verdadeiro era Amandine Aurore Lucile Dupin de Francueil (1804-1876), foi uma mulher descasada (com dois filhos) que corajosamente passou a fumar em público e a trajar roupas masculinas (apenas por diversão e praticidade) e foi obrigada a adotar este pseudônimo masculino, quando ainda em Paris, para ser aceita nos meios literários, antes de voltar para sua região de nascença. Muito admirada por sua cultura e pensamento modernos, para a época, Sand tinha como amigos Chopin, Liszt, Balzac, Flaubert, Mérimée e Mousset, entre outras celebridades contemporâneas.

Considerada por muitos como a melhor escritora francesa, consagrou-se como romancista e memorialista e tem em A Pequena Fadette sua obra máxima. Inspirada em sua infância campesina, esta obra traz todos os elementos do meio rural e infanto-juvenil do interior francês à época. Inicia-se com os mitos dos gêmeos e prossegue pelo consequente difícil relacionamento entre os dois até que surge a pequena Fadette, dando outro rumo à história.

Com extrema competência e de forma sutil, através de fatos e conversas juvenis, Sand escancara de forma profunda a hipocrisia social, bem como os complexos psíquicos e a baixa estima humana. Molda de forma altamente artística o ícone “pessoa feia de alma bonita”. Baseada em seus dramas biográficos, criou as principais personagens desta obra, sendo o casal protagonistas os mais fortes detentores dessas características.

Neste romance campestre seu texto é repleto de otimismo, ingenuidade e poesia, traduzido em personagens eivados de amor, ciúme, honestidade e fidelidade, numa pequena comunidade rural francesa do século XIV. Uma história romântica, graciosa, leve e muito bem escrita.

Chamo a atenção e recomendo a leitura desta obra na edição da Barcarolla, de 2021 - a primeira tradução integral da obra original de Sand -, pois a anterior, da Abril Cultural, é apenas uma adaptação adolescente de 1973 para a coleção Literatura Juvenil. Como divulga a própria editora Barcarolla, “A presente edição revela a magnitude de uma obra literária que acabou ofuscada pela ousada biografia da própria autora.”.


Valdemir Martins

10.12.2021

Fotos: 1. Capa do livro; 2. Os gêmeos; 3. Fadette e o irmão; 4. Fadette e os gêmeos; 5. George Sand.


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