A ideia é injetar novidades e revisitações. "A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas, por incrível que pareça, quase todas as pessoas não sentem esta sede." Carlos Drummond de Andrade
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18 de jan. de 2019
CONTRACAPA/Livros: Livros roubados por nazistas voltam a famílias e i...
CONTRACAPA/Livros: Livros roubados por nazistas voltam a famílias e i...: Pesquisadores usam internet para novas pistas de tesouro avaliado em milhões de dólares. Milton Esterow, em O Globo [via New York Times...
Livros roubados por nazistas voltam a famílias e instituições.
Pesquisadores usam internet para novas pistas de tesouro avaliado em milhões de dólares.
Milton Esterow, em O Globo [via New York Times]
Foto: YAD VASHEM PHOTO ARCHIVES/NYT / NYT |
A busca por milhões de livros roubados por nazistas durante a Segunda Guerra Mundial é um trabalho permanente — e largamente ignorado. A pilhagem de bibliotecas realizada pelos alemães não tem o mesmo glamour que seus furtos de obras de arte, muitas delas valendo milhões de dólares.
Mas recentemente, sem estardalhaço, a busca pelos livros se intensificou, conduzida por pesquisadores que muitas vezes encontram as obras “escondidas à olhos vistos” em prateleiras de bibliotecas pela Europa.
Seu trabalho é auxiliado pela internet e por arquivos tornados públicos recentemente, mas também por bibliotecários europeus que transformaram essa busca em prioridade.
— As pessoas fizeram vista grossa por muito tempo, mas acho que isso não é mais possível — disse Anders Rydell, autor de “O livro dos ladrões: o saque nazista às bibliotecas europeias e a corrida para devolver uma herança literária”.
Dado o escopo do crime, a tarefa à frente é gigantesca. Um exemplo: quase um terço dos 3,5 milhões de livros da Biblioteca Regional e Central de Berlim pode ter chegado lá via pilhagem na Segunda Guerra.
Foto: Milton Ribeiro |
Mas há sinais promissores. Nos últimos 10 anos, bibliotecas na Alemanha e na Áustria devolveram aproximadamente 30 mil livros para 600 proprietários, herdeiros e instituições. Em um caso de 2015, quase 700 obras roubadas da casa de Leopold Slinger, um especialista em engenharia petrolífera, foram restituídos a seus descendentes pelo governo austríaco.
— Há progresso, mas lento — disse Patricia Grimsted, pesquisadora da Universidade de Harvard e uma das especialistas mundiais nas obras roubadas por nazistas.
Números muitas vezes não fazem jus ao que pode significar para uma família a devolução de um livro especial.
No ano passado, na Alemanha, a Universidade de Potsdam deu um importante volume do século XVI de volta para a família do seu dono, um homem morto em um campo de concentração em 1943. A obra, escrita por um rabino em 1564, explica a base dos 613 mandamentos do Torá. O neto do proprietário identificou o título em uma lista on-line de obras saqueadas e foi com seu pai, um sobrevivente do Holocausto, de Israel até a Alemanha para recuperá-lo.
— Foi uma experiência muito emocionante para meu pai e eu — diz o neto, David Schor.
Foto: fahup.blogspot.com |
Ainda que Rosenberg, enforcado como criminoso de guerra em 1946, fosse a principal força por trás do saque de bibliotecas, ele tinha um competidor em Heinrich Himmler, o líder da organização paramilitar SS, cujos agentes eram particularmente interessados em livros sobre maçonaria.
Os alvos nazistas eram principalmente famílias e instituições judaicas, mas incluíam também maçons, católicos, comunistas, socialistas, eslavos e críticos do regime. Ainda que livros tenham sido queimados pelos seguidores de Hitler em sua ascensão, mais tarde muitas obras foram transferidas para bibliotecas e para o Instituto de Estudo da Questão Judaica (Institut zur Erforschung der Judenfrage) , criado pela força-tarefa de Rosenberg em Frankfurt em 1941.
— Eles planejavam utilizar esses livros depois que guerra estivesse ganha. O objetivo era estudar seus inimigos e sua cultura para proteger futuros nazistas dos judeus e outros antagonistas — diz a pesquisadora Patricia Grimsted.
O outro mal do nazismo
(Publicado por Publishnews em 03/05/2018)
Quando decidiu seguir o rastro dos saqueadores de livros do período nazista, o jornalista sueco Anders Rydell lançou-se numa jornada de milhares de quilômetros pela Europa. Seu intuito era compreender os fatos que levaram a essa ação tão cruel e descobrir o que ainda existe de tudo o que se perdeu durante a Segunda Guerra. Ladrões de livros – A história real de como os nazistas roubaram milhões de livros durante a Segunda Guerra (Planeta, 416 pp, R$ 79,90 – Trad.: Rogério Galindo) relata em detalhes os saques efetuados em bibliotecas, livrarias e acervos pessoais no período nazista e mostra, ainda, como um pequeno time de bibliotecários trabalha heroicamente para tentar devolver esses exemplares às vítimas do Holocausto e suas famílias. Uma narrativa que revela o que um único livro pode representar para quem perdeu tudo no conflito mais sangrento da história.
Os homens que salvavam livros
(publicado no site Amazon)
Uma saga de heroísmo e resistência, amizade e romance, e uma devoção inabalável à literatura e à arte, mesmo sob o risco de morte.
por David E. Fishman (Autor), Luis Reyes Gil (Tradutor) - Editora Vestígio, primeira edição, 2018, capadura, 352 páginas, R$ 44,38 (site Amazon), R$ 69,80 (Livraria Cultura) e-book R$ 31,41 (Amazon Kindle).
O outro mal do nazismo
(Publicado por Publishnews em 03/05/2018)
Quando decidiu seguir o rastro dos saqueadores de livros do período nazista, o jornalista sueco Anders Rydell lançou-se numa jornada de milhares de quilômetros pela Europa. Seu intuito era compreender os fatos que levaram a essa ação tão cruel e descobrir o que ainda existe de tudo o que se perdeu durante a Segunda Guerra. Ladrões de livros – A história real de como os nazistas roubaram milhões de livros durante a Segunda Guerra (Planeta, 416 pp, R$ 79,90 – Trad.: Rogério Galindo) relata em detalhes os saques efetuados em bibliotecas, livrarias e acervos pessoais no período nazista e mostra, ainda, como um pequeno time de bibliotecários trabalha heroicamente para tentar devolver esses exemplares às vítimas do Holocausto e suas famílias. Uma narrativa que revela o que um único livro pode representar para quem perdeu tudo no conflito mais sangrento da história.
Os homens que salvavam livros
(publicado no site Amazon)
A luta para proteger os tesouros judeus das
mãos dos nazistas
Uma saga de heroísmo e resistência, amizade e romance, e uma devoção inabalável à literatura e à arte, mesmo sob o risco de morte.
Os homens que
salvavam livros é a incrível história real dos habitantes do gueto de Vilna, na
Lituânia, que resgataram milhares de livros e manuscritos raros da cultura
judaica por duas vezes – primeiro das mãos dos nazistas, depois dos soviéticos.
Tendo como base documentos judaicos, alemães e soviéticos, incluindo diários,
cartas, memórias e entrevistas do autor com vários participantes da história, o
livro registra as atividades ousadas de um grupo de poetas e eruditos que se
tornaram combatentes e contrabandistas na cidade conhecida como a
"Jerusalém da Lituânia".
Partindo de uma
extensa pesquisa do principal estudioso do gueto de Vilna, de estilo e ousadia
excepcionais, Os homens que salvavam livros é uma história épica de heroísmo,
um conto pouco conhecido dos dias mais sombrios da guerra.
Vencedor do National Jewish Book Award 2017 – Categoria Holocaustopor David E. Fishman (Autor), Luis Reyes Gil (Tradutor) - Editora Vestígio, primeira edição, 2018, capadura, 352 páginas, R$ 44,38 (site Amazon), R$ 69,80 (Livraria Cultura) e-book R$ 31,41 (Amazon Kindle).
12 de jan. de 2019
CONTRACAPA: A loucura onde menos se espera.
CONTRACAPA: A loucura onde menos se espera.: A obra desenvolve-se frenética proporcionando-nos protagonistas que são simultaneamente autores e personagens. São basicamente dois livros em um, ambos regados intermitentemente à prosa poética, história, religião, amor e paixão. A narrativa da primeira relação sexual de um adolescente cego é brilhantemente sublime e poética
A loucura onde menos se espera.
Uma das causas dos baixíssimos índices de leitura da
população brasileira é o erro fundamental de impor títulos, autores e gêneros
às crianças iniciantes em leitura principalmente nas escolas. Não vou entrar
aqui no mérito das obras, mas todos sabem – ou tem ainda uma ideia – do que se obrigam
os alunos a ler.
Para mim, o método ideal seria o do critério de escolha da
própria criança dando-lhes sim alternativas de escolha. Enquanto minha
professora me obrigava a ler Senhora,
de José de Alencar e Dom Casmurro, de
Machado de Assis, minhas leituras favoritas perambulavam entre Tarzan, de Edgar Rice Burroughs, A Cabana do Pai Thomaz, de Harriet
Beecher Stowe, Bom dia, Tristeza, de Françoise Sagan, O Cortiço, de Aluísio Azevedo e A Carne, de Júlio Ribeiro. Hoje leio com
prazer o Memorial de Aires, do
Machado, e estou achando excelente.
Ou seja, o fundamental para a leitura é a descoberta do
prazer de ler. Com certeza, muitas pessoas que não gostam de ler nunca tiveram
a oportunidade de ter em mãos ou diante dos olhos um livro que pudesse lhes dar
prazer, seja pelo texto, seja pelo assunto ou a história.
Hoje por exemplo, aos 70 anos, vivo descobrindo leituras
prazerosas. A surpresa mais recente deu-se com a obra Os Loucos da Rua Mazur, do premiado escritor português João Pinto
Coelho. Sua grande qualidade é a construção do texto e a linguagem realista e
fluente onde coloca-nos trechos enigmáticos, ironias precisas e preciosas,
assim como a convivência de protagonistas e personagens díspares que enriquecem
sobejamente a obra.
Polônia dividida em 1939 |
Mas seu estilo vigoroso e único lembra-nos em alguns aspectos
e na qualidade seus compatrícios José Saramago e Walter Hugo Mãe. Senão, veja:
“E depois havia Dreide, a louca. Ninguém lhe sabia pai, mãe ou nação. Chegara
acompanhada por um cigano, duas mulas e uma miúda nas entranhas. O cigano
desaparecera, levara uma das mulas e ficaram as três. Desde então, fixara-se
ali, chegada ao vilarejo, mas ainda na floresta, por cautela.”.
Consegue colocar-nos em meio a cenas pesadas, como a
descrição sucinta e precisa, meticulosa e eficaz, do búnquer onde lutam
personagens, levando-nos a sentir com exatidão o clima ambiente com todos os
seus fedores repugnantes e a lama e fezes grudando em nossos pés. Descreve com
realismo absoluto as cenas, os locais e as reações, coadunantes ou não, numa
atmosfera tétrica como: “Depois passou o cabo Marek; já sem chorar ou rezar,
agarrava contra o peito uma mão decepada na esperança de que fosse a sua; logo
atrás, amparado por dois companheiros, um rapazinho. Erik fixou-lhe mais os
olhos esbugalhados do que as tripas que abraçava, aparvalhado.”
A obra desenvolve-se frenética proporcionando-nos
protagonistas que são simultaneamente autores e personagens. São basicamente
dois livros em um, ambos regados intermitentemente à prosa poética, história,
religião, amor e paixão. A narrativa da primeira relação sexual de um
adolescente cego é brilhantemente sublime e poética.
Cidade de Jedwabne inspirou a obra |
A ajustada trama da tolerante e até pacata convivência entre
judeus e cristãos num vilarejo à nordeste da Polônia só é desconjuntada,
juntamente com a cidade, pelos sinistros bolcheviques soviéticos e sua cega
obediência e ignorante idolatria ao líder genocida Stálin (efetivamente e fora
do romance, os bolcheviques, como uma praga, destruíram tudo por onde passaram
ao longo da história). A partir daí e sem a interferência dos nazis, instala-se
o tétrico. E o livro transforma-se numa obra-prima do terror, com pessoas comuns
promovendo - num rompante de ignorância, intolerância e crendice - um fratricídio
que jamais sairá da mente dos leitores. Pinto Coelho, como já o fizera em todo
o texto, prima, então, de forma descomunal nos detalhes. E como descrito na
capa do livro da edição brasileira: “Na Polônia ocupada por soviéticos e
alemães, o horror vem de quem menos se espera.”.
João Pinto Coelho |
Um livro arrebatador, Prêmio Leya de 2017, pouco divulgado e
de incomensurável valor literário para a língua portuguesa, seja pelo enredo e
escrita, quer por sua estruturação e pela capacidade de fabulação de João Pinto
Coelho.
Valdemir Martins
12/01/2019.
Os Loucos da Rua Mazur - Romance português de João Pinto Coelho - Editora
Casa da Palavra – Rio de Janeiro, 2018.
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