Com um enredo despretensioso e simples, o Prêmio Nobel
francês (2014) Patrick Modiano
inicia seu romance Um Circo Passa com dois protagonistas num relacionamento
estranho e biografias misteriosas. Aliás, todo terço inicial da obra é propositalmente
enigmático visando surpreender-nos lentamente na evolução da leitura.
Narrando na primeira pessoa, como memórias, o autor abusa das
citações de localidades e endereços parisienses causando-nos a impressão de um certo
exibicionismo referente ao seu conhecimento da capital francesa. Revela nas
entrelinhas deste texto ligeiro, sôfrego e ansioso, tudo o que a Segunda Guerra
marcou em sua formação.
A tensão aumenta na história elevando o nível de angústia do
leitor. As incógnitas começam a se encaixar, mas sem solução. Passados
remexidos são surpreendentemente revelados corroborando o clima da obra e
aumentando o suspense. Os protagonistas, perambulando por lugares depressivos e
apesar de terem muito a esconder um do outro, compartilham os mesmos sonhos.
Uma obra rápida, enigmática e parece-nos relativamente
simples por ser curta e abrupta, mas, por ser uma obra aberta, nos desperta
inúmeras possibilidades de criar e tomar nossas próprias soluções criativas num
raciocínio elucubrado à Umberto Eco. O livro entra em nossa mente como
realmente um circo que passa por nossa cidade, trazendo-nos sonhos e emoções e
rapidamente indo embora sem aviso prévio.
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Valdemir Martins
022.06.2023
Fotos: 1. Capa do livro; 2. café Les Deux Magots; 3. O prédio na Pont Neuf; Patrick Modiano