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20 de jun. de 2023

Um circo que realmente passa, sem avisar que vai embora

Com um enredo despretensioso e simples, o Prêmio Nobel francês (2014) Patrick Modiano inicia seu romance Um Circo Passa com dois protagonistas num relacionamento estranho e biografias misteriosas. Aliás, todo terço inicial da obra é propositalmente enigmático visando surpreender-nos lentamente na evolução da leitura.

Narrando na primeira pessoa, como memórias, o autor abusa das citações de localidades e endereços parisienses causando-nos a impressão de um certo exibicionismo referente ao seu conhecimento da capital francesa. Revela nas entrelinhas deste texto ligeiro, sôfrego e ansioso, tudo o que a Segunda Guerra marcou em sua formação.

A tensão aumenta na história elevando o nível de angústia do leitor. As incógnitas começam a se encaixar, mas sem solução. Passados remexidos são surpreendentemente revelados corroborando o clima da obra e aumentando o suspense. Os protagonistas, perambulando por lugares depressivos e apesar de terem muito a esconder um do outro, compartilham os mesmos sonhos.

Uma obra rápida, enigmática e parece-nos relativamente simples por ser curta e abrupta, mas, por ser uma obra aberta, nos desperta inúmeras possibilidades de criar e tomar nossas próprias soluções criativas num raciocínio elucubrado à Umberto Eco. O livro entra em nossa mente como realmente um circo que passa por nossa cidade, trazendo-nos sonhos e emoções e rapidamente indo embora sem aviso prévio.

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Valdemir Martins

022.06.2023 

Fotos: 1. Capa do livro; 2. café Les Deux Magots; 3. O prédio na Pont Neuf; Patrick Modiano 


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