Novamente alguns acordes. “Avanço com a impressão de pegar a ponta de um sonho e nela me instalar”. Assim o protagonista-narrador relata como encontrou o “velho maroto” ao piano. Na viagem então para Moscou, o velho pianista –agora parceiro protagonista - fala de sua vida, sua juventude como músico e as agruras de seus pais, enquanto também músicos, durante o chamado período do Grande Terror Stalinista (1936 a 39), onde uma pessoa era executada tão somente por pronunciar algo ou nome proibido pelo regime comunista.
A obra escorrega para os campos da Segunda Guerra. Mais dissabores e complicações para o velho protagonista, sempre à sombra das escabrosidades e perseguições soviéticas. E, no final, torna à viagem e ao reencontro com o protagonista-narrador. Sempre banhado em música, quando não o som dos obuses, o dedilhar de um piano, a imaterialidade musical norteia a vida do velho personagem Berg, como se não vivesse, apenas ouvisse.
Esta é uma obra curta, equivalente a uma imensa obra literária; muito bonita e triste, constituída por diversas histórias que compõem a história inteira de vida do velho maroto, resultante do talento e da sensibilidade do siberiano Makine, infelizmente um excelente escritor pouco conhecido por aqui, mas altamente recomendado pela sua qualidade narrativa e literária. Fica a ótima dica.
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Valdemir Martins
01.10.2023
Fotos: 1. Capa do livro; 2. O trem em meio à nevasca; 3. O general e sua filha ao piano; 4. O velho Berg tocando na estação; 5. Andrei Makine.