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18 de jul. de 2025

Cem Anos de Perdão: os mortos têm para sempre a mesma idade.

Um crime escandaliza uma comunidade e uma nação por sua violência. O que seria simplesmente um tópico policial, torna-se um assunto de profundo impacto num presídio. E, com esse enfoque, o brilhante romance Cem Anos de Perdão, do escritor e jornalista português João Tordo aborda e desenvolve seu argumento, diferenciando-o dos outros romances policialescos.
Independentemente do perdão de Deus, pela Justiça dos homens até os atos criminosos efetuados em nome d’Ele não merecem perdão. Seja praticado por um agnóstico ou por um fanático religioso. Como neste caso, numa remota e fictícia ilha britânica, em consonância com os preceitos de uma seita religiosa ancestral.

Como num excelente quebra-cabeças, Tordo apresenta-nos as peças e, de forma oportuna e aprazível, vai oferecendo-nos os encaixes possíveis, numa obra crescente, vagueando entre o mistério, o policial, o suspense e o religioso. E, claro, o psicológico. Enfim, um thriller psicológico intenso.
Num clima sufocante, claustrofóbico, seja numa igreja, na prisão, nos bares, na delegacia, num celeiro ou mesmo nos quartos, Tordo explora de forma mágica essa atmosfera, entremeando-o ao clima pesado de Primavera britânico, frio, escuro, chuvoso e nevoento. Os personagens vão aflorando no ritmo dos acontecimentos até ao ponto em que tudo se amontoa e parece que o mistério não terá solução, E até os dois protagonistas chegam assim a essa conclusão.
 
Entretanto é uma obra dinâmica e contundente. Leva-nos a refletir sobre culpa, perdão, injustiça, humildade e solidão. Trechos de narrativas de personagens e mesmo de reflexão dos protagonistas mexem com nossos sentimentos, levando-nos a ponderar sobre episódios similares de nossas próprias vidas. Suas lucubrações, em diversos momentos, colocam em pauta a credibilidade de diversas consagrações bíblicas.

E, com tudo isso, o enredo é muito envolvente, o que nos prende bastante à leitura. Narrado na terceira pessoa, em sua maior parte, o livro tem trechos como numa carta ou um diário, na primeira pessoa, aqui possibilitando-nos respirar e sair do sufoco do restante da narrativa. Os cães, como os seres mais fiéis e leais do contexto, auxiliam-nos a sair da falsidade e da hipocrisia provenientes dos seres humanos.

O talento de João Tordo possibilita-nos a reflexão sobre nossos valores nesta vida. Neste seu exuberante thriller apresenta personagens possíveis e reais, com seus sofrimentos, como todos nós, a partir de um enredo bastante complexo e profundo. Fica aqui a recomendação de uma leitura sensível, que não se consegue largar pela envolvente criatividade do autor.

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Valdemir Martins
25.05.2025

Fotos: 1. Capa do livro; 2. A prisão de Brixton; 3.  Penhascos da ilha de St. Dismas; 4. Os fanáticos da seita religiosa; 5. Vista da cidade de Bridgwater; 6. A rua Alves Torgo, em Lisboa; 7. O autor português João Tordo.