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2 de jun. de 2021

Matéria Escura: nossas escolhas irreversíveis

Tudo começa muito ameno. A tradicional e feliz família norte-americana; o drink no bar com o velho amigo e, de repente, o terror. Assim começa a intrincada ficção científica contemporânea da obra Matéria Escura, do roteirista e escritor americano Blake Crouch, festejado pela crítica principalmente por sua trilogia Wayward Pines, que foi adaptada para a série de televisão pela Fox em 2015.

Uma obra breve, dinâmica, com fatos se sucedendo velozmente. Quando terminar o primeiro quarto do livro Crouch conseguirá deixá-lo tão confuso e atordoado quanto estará o protagonista. Mas aí será tarde. O livro o terá engolido e você não conseguirá se livrar dele. Estará lendo compulsivamente, sem vontade de largar, uma trama brilhante.

Neste momento em que é lançado o computador quântico, celeríssimo, que vai tornar os atuais PCs obsoletos, pois usa a base teórica da mecânica quântica - um território da ciência habitado por partículas subatômicas -, nada mais oportuno que ler esta obra. Este thriller, também célere e de muitas reviravoltas, exige do leitor algum conhecimento científico. Trechos falam de física quântica e multiespaço e não devemos nos intimidar se não entendermos o que estamos lendo por que, a seguir, aos poucos o próprio enredo vai esclarecendo todas as nossas dúvidas. E o livro volta à sua dinâmica.  E, assim, o espaço-tempo passa a dirigir a história, surpreendendo-nos a cada espaço de tempo. 

Uma obra que nos faz refletir sobre os valores da vida, conforme a personalidade de cada leitor. Cada indivíduo atribui valores diferentes de outros às mesmas coisas, aos mesmos objetos e às mesmas situações e circunstâncias. E são valores individualmente incontestáveis, dado que cada um tem sua individualidade; sua forma de ver, interpretar e sentir. E assim, cada um tem sua realidade, seu padrão, suas escolhas. Seu mundo.

A trama, de forma crescente, fica mais complicada para o protagonista, tendo, permanentemente, de fazer escolhas. E aí, começam a prevalecer seus valores morais e seu amor pela família, o que vai ajudá-lo em suas grandes dificuldades. E aqui a obra nos revela forçosamente que reflitamos sobre a importância de nossas escolhas, sempre. E sobre as escolhas que fizemos: “Não posso deixar de pensar que somos mais do que a soma total de nossas escolhas e que todos os caminhos que poderíamos ter trilhado influem de algum modo na matemática de nossa identidade”, proclama o protagonista.

Claro que o livro não é uma maravilha literária, pois sobram pontas soltas ou ausentes. Mas cumpre sua função de fornecer conhecimentos e entretenimento, e de nos fazer pensar e refletir. E, assim, encontrei o encantador mundo da reflexão sobre minhas próprias escolhas. Seriam histórias tão fascinantes e incríveis que eu poderia escrever um livro. O que talvez eu faça.

Valdemir Martins

01.06.2021

Fotos: 1. capa; 2. Drink antes do terror; 3. Injetar para viajar; 4. Um ponto de chegada; 5. O autor Blake Crouch.

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