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19 de nov. de 2018

O que o Sapiens não conhece da sua própria história


A pessoa que se propõe a ler Sapiens – Uma Breve História da Humanidade (Companhia das Letras), do professor e historiador israelense Yuval Noah Harari, com certeza é instruída. Uma obra monumental escrita de forma fluente, de fácil leitura e assimilação, Sapiens é uma deliciosa proposta de completar seus conhecimentos e surpreende o leitor ao mostrar quanto ele não sabe. Claro, a não ser que ele seja também um expert como Harari.


A leitura é aderente e não se consegue largá-la com facilidade. Tem-se a sensação de estar lendo algo sempre relativamente familiar no geral, mas os liames científicos, históricos, culturais e religiosos são permanentemente surpreendentes e muito esclarecedores. E uma das qualidades da obra é alertar leitores despreparados para entender e aceitar rompimentos de tabus culturais e religiosos, principalmente estes que via de regra estão fortemente inoculados na mente e na tradição – ou na cultura, como se refere Harari – da maioria das pessoas.


Queiram ou não Adão e Eva, a vida principia-se há cerca de 3,8 bilhões de anos, a partir de simples moléculas e depois micro-organismos aquáticos que se tornaram hoje complexos seres cheios de crenças e conhecimento e não sabem muito bem distinguir o que é um e outro. Quem respira as crenças impele a cultura e a história para trás. Quem evolui com o conhecimento, está mais para destruidor inconsciente (ou não) da cultura, das crenças e da vida como a conhecemos.


O autor é convincente o suficiente para nos mostrar que o dinheiro não existe. Está apenas na mente das pessoas que, assim, com essa crença, sustentam os mercados, os bancos, os governos e as nações. Aqui se entenderá também o porquê de as civilizações ameríndias permutarem ouro por bugigangas, certas e conscientes de que faziam trocas vantajosas. Entenda por que os poderosos impérios ruíram em batalhas na antiguidade e na paz na história recente (como o inglês e o francês). O macaco é realmente nosso ancestral? E qual o papel do Neandertal nessa transmutação?

Perceba e assimile a destruição gradativa de nossa naturalidade com a evolução tecnológica que tende a nos escravizar em sua dependência quase que total. Ou você vive hoje sem um smartphone, um satélite, um automóvel, um medicamento, um computador ou um chip? Ou não vai depender da evolução das tenebrosas pesquisas genéticas? Já parou para ponderar que o remédio para a cura do Alzheimer pode trazer consigo a fantástica e perigosa evolução e aperfeiçoamento da mente humana que pode vir a subjugar seus semelhantes. Imagine um instrumento da inteligência artificial, no futuro, fazendo o backup do seu cérebro e rodá-lo num PC para qualquer outro fim.


Assustado? Já deu para perceber que o livro é muito sério, não é mesmo? E tudo é tratado com embasamento histórico e científico. O máximo que o autor se aproxima da ficção está em suas considerações e projeções das consequências das evoluções da tecnologia. Para sua própria reflexão, considere que o título do epílogo do livro é: “O animal que se tornou um deus”.


Harari é considerado hoje um dos grandes pensadores do século 21. E trata o leitor não como um ignorante das coisas, mas considera que você sabe e entende muito, mas talvez não perceba e não sopese o contexto e o conjunto dos fatos que conhece. Daí seu empenho de certa forma didático em analisar a história da humanidade de forma simples e objetiva, o que torna o livro um prazer de leitura. É um daqueles raros livros que você fecha no final com satisfação e sabendo que mais cedo ou tarde voltará a folheá-lo.

Valdemir Martins
20/10/2018

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