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14 de ago. de 2019

Um nome escrito em sangue, luz e sombra.


As obras literárias, usualmente, iniciam-se com um fato ou frase de referência, como a ponteira de um compasso que lhe possibilitará toda a abrangência do enredo. E, do mesmo modo, biografias iniciam-se nas origens ou nascimento do biografado.

Capa: Vocação de S. Mateus

Não é o caso da obra Caravaggio - Um Nome Escrito em Sangue, do talentoso escritor e jornalista galês Matt Rees. Uma excelente biografia romanceada, cujo texto faz um jogo de luz e sombra como a extraordinária obra do artista e como a sua própria existência.

 A vida Michelangelo de Merisi (da Caravaggio), assim conhecido por ter nascido nessa cidade italiana – é apresentada de forma bastante realista neste livro, resultado da formação jornalística de Rees. A obra nos faz vivenciar, entre os séculos 16 e 17, o princípio do movimento Barroco nas artes, retratando os conflitos vivenciais e espirituais de Caravaggio.

Morte da Virgem Maria
Suas origens e infância somente são apresentadas no meio da obra, entremeada por importantes dados históricos daquele momento em Roma e na alta cúpula da igreja católica, da qual Caravaggio chegou a ser um protegido.

Mas o fundamental deste livro são as descrições de como o pintor elaborava e produzia suas famosas telas; seus modelos, ambientes e motivações emocionais; assim como sua realidade de vida transferida para o âmago das telas. É recomendável, para maior proveito da leitura, que se observe na internet as obras citadas no texto para se obter um vislumbre mais exato do que é descrito, discutido pelos personagens e criticado pelos concorrentes.

Madona e o Menino
Caravaggio trabalhava a partir da natureza das coisas, das pessoas, das situações autênticas. Em suas obras, mostrava o que captava dessas ocorrências reais revelando assim o significado mais profundo de seus temas. A ansiedade, o sofrimento e a esperança eram transferidos das pessoas que convivia para as personagens que pintava. Segundo o próprio Rees, “Durante séculos os críticos menosprezaram Caravaggio. Mas sua influência na pintura é imensa. Rubens difundiu seu estilo pelo norte da Europa. Velazquez levou sua estética à Espanha. Ele é essencial ainda hoje para o estilo dos artistas, fotógrafos e diretores de cinema contemporâneos, como David Hockney e Martin Scorsese.”

David e a cabeça de Golias
Este livro não é uma grande obra literária, mas um brilhante escrito sobre o mais importante pintor do barroco; um revolucionário nas técnicas e no estilo. Um pintor que tirou os santos do céu e das nuvens para colocá-los onde viveram: na terra e no meio da pobreza e da sujeira. Até a sujidade das unhas dos retratados por Caravaggio foi copiada por importantes – ou não - pintores a partir de então.

Matt Rees
Apesar de sua obra ser dominada por temas bíblicos e por ter convivido com a alta cúpula da igreja católica, da Inquisição e dos Cavaleiros, Caravaggio sempre teve uma existência difícil e sofrida, e nunca abandonou sua vida mundana, violenta e nefanda.


Valdemir Martins
13/08/2019.


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