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Londres em 1854 |
Em meados do século XIX, a cidade de Londres era a mais
populosa do mundo, concentrando, só no distrito de Berwick, 108 habitantes por
km², enquanto, por exemplo, Manhattan abriga hoje algo em torno de 25 habitantes
por km². A quantidade de dejetos humanos concentrados no espaço metropolitano
infligia a Londres uma fedentina sem par, uma vez que a maioria das fezes era
apenas recolhida pelos chamados catadores,
que as vendiam para fertilizar as hortas e pomares das redondezas. Não havia
sistema de esgoto e os penicos cheios eram despejados pelas janelas.
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Broad Street onde tudo começou |
Este é apenas um dos assuntos de que
trata o livro O
Mapa Fantasma, de Steven Johnson, escritor de ciência norte americano que transformou um episódio da história da
ciência numa narrativa eletrizante, demonstrando como a luta de dois homens contra o cólera mudou o destino
de nossas metrópoles. No mundo de hoje, com desinfetantes específicos,
medicamentos adequados, sistemas de canalização e tratamento de esgoto e,
enfim, com saneamento básico, não se tem a menor noção do que eram, há pouco
mais de um século e meio, as condições de insalubridade até dos mais nobres em
todo o mundo.
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A bomba d'água maligna |
Este livro, nesta
época de pandemia do Coronavírus, torna-se uma leitura bastante interessante
para demonstrar, de forma dramática e eficiente, como um vírus ou qualquer
bactéria contamina com facilidade a população e a importância da prevenção e
controle. Nele é demonstrado, por exemplo, a importância das bactérias e que,
diferentemente dos vírus, sem elas não haveria vida neste planeta. Igualmente,
Johnson explora o assunto e alerta para o risco de pandemia a partir da evolução
e adaptação do vírus A1N5 (gripe aviária) no ser humano, o que provavelmente aconteceu
com o aparecimento do Covid-19.
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Mapa pioneiro de Snow no jornal |
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Dr. John Snow |
Voltando a Londres, um dia em agosto de 1854, no
populoso Soho, uma bebê de seis meses começa a vomitar e evacuar fezes líquidas
e esverdeadas. Sua mãe, seguindo as normas de higiene da época, lavava suas fraldas
e panos num balde e depois despejava seu conteúdo pestilento (com Cólera) numa fossa
que desaguava no Tâmisa, rio que cruza a parte mais populosa da cidade e em
cujas margens trabalhavam catadores de ossos, de fezes, de ostras,
junta-trapos, lameiros, exploradores de esgotos, lixeiros, limpadores de fossa,
cata-velas, cata-bagulhos entre outros. Mas o rio famoso também abastecia a
cidade de água “potável” e o contágio pelo vírus do Cólera foi inevitável,
provocando a maior epidemia de todos os tempos.
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Esgoto pioneiro de Londres |
A partir desse episódio, a narrativa nos leva à
descoberta do tratamento inicial do Cólera e à obrigação do governo britânico
de desenvolver um sistema de esgoto para a cidade, que hoje serve de modelo
tanto para as metrópoles como para as pequenas cidades pelo mundo.
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Stephen Johnson |
E nessa balada, com ritmo, sarcasmo e inúmeras
comparações com situações da atualidade, o autor nos proporciona diversas e
agradáveis informações sobre nossa evolução social, científica e tecnológica,
numa linguagem coloquial muito envolvente. Traz, inclusive, dados históricos
muito interessantes, como, por exemplo, o fato de a Rainha Victoria ter exigido
que o parto do seu quarto filho fosse indolor, usando as técnicas do Dr. John
Snow – não o da série Game of Thrones –, mas o descobridor do clorofórmio como
anestésico e das origens do Cólera. Impossível não refletir sobre nosso passado,
nosso tempo e nossa vida durante a agradável leitura desta obra.
Valdemir Martins
08.06.2020
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