McCarthy, neste que é seu
último livro, consegue escrever uma obra sem narrativas, composta só por seguidos
diálogos, onde o leitor, em sua própria mente, vai construindo a narrativa. Uma
técnica literária excepcional, muito pouco usada. Alicia, a adolescente
protagonista, faz doutorado em Matemática e, ao discorrer sobre sua infância e
pré-adolescência, faz um arrazoado entre filosofia e física. E quem lê,
defronta-se com uma obra que põe em cheque conceitos sobre Deus, a verdade e a
própria existência humana.
Num livro curto, mas extremamente
profundo, apresenta-se uma obra que dignifica a literatura moderna com suas
proposições viscerais em cima de um enredo breve, bastante complexo e essencialmente
diverso. As críticas de uma jovem de apenas vinte anos – mas extremamente
inteligente, vivida e sofrida – à sociedade que insiste em enxergar tudo sempre
sob a mesma ótica, impressiona-nos pela contrastante lucidez de uma esquizofrênica,
em diálogos contundentes sobre perda, saudade e loucura. Aqui, mais uma vez,
McCarthy arrasa.
Como se previsse seu fim, McCarthy vem
iluminar certos pontos escuros encontrados
em O Passageiro e, talvez, em algumas obras anteriores. Consagra-se, sem
dúvida, como um dos maiores escritores norte americanos em dois séculos.
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Valdemir
Martins
15.07.2023
Fotos: 1. capa do livro; 2. Black River Falls, onde fica o instituto; 3. Einstein e Oppenheimer citados no livro; 4. Cormac McCarthy.
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