A morte, em qualquer circunstância, sempre denota tristeza. Mas, Lev Tolstói consegue colocar alegria no início de uma de suas mais prestigiadas obras, A Morte de Ivan Ilitch, pois os companheiros do juiz Ilitch regozijam-se com a notícia de sua morte. Pelas benesses profissionais e pelo escolhido da escaveirada não ter sido um deles.
Assim, de forma cronologicamente inversa, Tolstói reconstrói brilhantemente a vida do juiz Ivan Ilitch, uma exceção em sua família de burocratas incompetentes. Aluno brilhante formou-se em direito e seguiu carreira no judiciário.
Casou-se com as maravilhas e os encantos dos primeiros tempos conjugais, e assombrou-se com a mudança de temperamento da esposa, tentando tirar-lhe o encanto e a decência da vida nos meses finais da primeira gravidez. Cresceu profissionalmente e relegou a família à menor importância em decorrência dos permanentes aborrecimentos com a esposa.
Vai a Petersburgo e consegue um emprego melhor, uma alta promoção no Ministério da Justiça com excelentes condições remuneratórias. E daí para frente galopa no sucesso, todos eram felizes, até começar o mau humor do juiz por problemas de saúde E muito e arrastado sofrimento. Até um encontro fatal e final.
Um livro que fala da morte naquilo que ela é: um fato inconscientemente aguardado que quando eclode muda a vida dos vivos. Tolstói competentemente usa a morte na sua forte limitação. E explora ricamente a vida em seu entorno. Uma queda domiciliar leva o protagonista a ter inúmeros e constantes problemas de saúde a caminho da morte. E para isso explora magnificamente a vida de Ivan Ilitch.
As narrativas do sofrimento físico e psicológico são extremamente fortes, desesperantes a ponto de contagiar e emocionar o leitor. E aí se assenta o gênio criativo e descritivo de Tolstói. Adite-se a isto a vigorosa crítica social propiciada durante a agonia derradeira do protagonista, além da proposta inescapável de nos fazer refletir sobre nossa vida e nossos valores.
Despeja no texto toda a força que a finitude da vida exerce nas pessoas de forma inconsiderada. Sempre à espreita, a morte está nas cobiçadas escaladas de cargos e promoções profissionais, nas perdas dos filhos, nas doenças esplanadas pelos médicos, nos jogos de cartas, nas noites mal dormidas e até nas músicas, até alcançar um permanente ápice na assombrada companhia do protagonista após este alcançar uma ótima posição pessoal e profissional. E dele não desata até ficarem para sempre juntos.
Sou muito pequeno para a grandiosidade de Tolstói. O que você leu acima são as modestas impressões que este seu livro me propiciou, dentro do meu mundo e do meu contexto. Sinto-me, enfim, afortunado por ter lido e sentido mais uma das obras primas da literatura mundial. Uma obra tão brilhante.
Se gostou deste comentário sobre o livro, siga-nos. Basta clicar em "Seguir" no lado superior direito desta página e você receberá as novas postagens. Muito obrigado!
Valdemir Martins
15.04.2024
Fotos: 1. Capa do livro; 2. A casa nova; 3. O imperdível carteado; 4. As consultas médicas; 5. O velório; 6. Lev Tolstói.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Agradeço seu comentário e participação!