A ambivalência prevalece no breve
romance Dois Irmãos, do premiado romancista brasileiro Milton Hatoum. Um drama familiar
ambientado em Manaus envolve-nos num incidente ocorrido entre irmãos gêmeos
que, como uma cicatriz, marca toda a obra.
A dualidade está presente em cada
parágrafo, pois destaca sempre um pai que pensa de uma forma e uma mãe de
outra; a personalidade de um que difere substancialmente do outro, o amor e o
ressentimento, o bem sucedido e o esquálido; e assim segue nas atitudes dos
personagens.
Narrado pelo filho da empregada
da família, baseado em conversas ouvidas, cenas presenciadas e atos
participativos, o romance possibilita-nos degustar uma obra simples, porém
extremamente dinâmica. Seus personagens se agitam até de formas surpreendentes
nos seus relacionamentos, sempre marcados pelo amor, pelo ciúme e pelo
trabalho. E engolfa o leitor em cenas de bandalheira, paparicação, desvelo e
até estupro. Tudo em meio aos aromas, sabores, palafitas, igarapés, prostíbulos,
chuvaradas, usos e costumes manauaras.
A degradação e esfarelamento da
família de origem libanesa é contada após trinta anos pelo órfão que desconfia
ser seu pai um dos homens da família. Pelo desregramento familiar qualquer
deles pode sê-lo. Mas a personalidade da mãe – forte para todos e frágil para
um dos filhos – liderou toda a bagunça.
Tudo isso, engendrado pelo manauara
exímio contador de histórias Milton Hatoum. Criativo, coerente, autêntico em
suas precisas descrições realistas; original na criação de situações. Apesar de
o trato do comportamento humano estruturar toda a obra de forma modelar, Hatoum
nada em criatividade na construção deste soberbo romance. Não fosse pela alta
qualidade da obra e pelo respeito ao autor, poderíamos dizer que é digna de uma
novela do horário nobre.
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Valdemir Martins
08.08.2024
Fotos: 1. Capa do livro; 2. Cidade de Manaus à época; 3. O irmão malandro; 4. O bar nas palafita; 5. Milton Hatoun.
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