A ideia é injetar novidades e revisitações. "A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas, por incrível que pareça, quase todas as pessoas não sentem esta sede." Carlos Drummond de Andrade
Pesquisar este blog
10 de jan. de 2021
Torto Arado: a revelação de um grande talento brasileiro. *****
2 de dez. de 2020
Leia desconfiando de todos; a suspeita ficou muda. ***
Tive uma sensação muito estranha
ao ler A Paciente
Silenciosa, do cipriota- inglês Alex Michaelides, pois este
drama de suspense bem psicológico prende-nos na leitura e simultaneamente a
desestimula pela pouca qualidade literária da obra.
Trata-se de uma
trama intrincada e inteligente, estruturada de forma intrigante, como numa obra
de Agatha Christie, levando-nos a desconfiar praticamente de todos os
personagens num assassinato cuja esposa é a maior suspeita, apesar de,
reconhecidamente, amar demais o marido encontrado chacinado.
A determinação do protagonista em fazer a suspeita falar e desvendar a dúvida se ela realmente atirou no marido o arrasta para um caminho tortuoso que sugere que as raízes do silêncio da esposa são muito mais profundas do que ele jamais poderia imaginar. E diante da verdade, ele vai titubear.
Assim, o autor elabora um final eletrizante, entre mistério e
drama, levando o leitor a questionar tudo o que acabou de ler.
Esse thriller
psicológico provocativo de estreia revela Alex Michaelides como um grande autor
para quem gosta do gênero. E o coloca na lista dos grandes vendedores de
livros policiais modernos, como Jo Nesbo e James Patterson, autores que
produzem thrillers expressos, sem muita preocupação com o valor literário.
A obra teve a
produção de sua versão cinematográfica interrompida em função da pandemia do
Covid-19.
Valdemir Martins
02.12.2020
*** Se você gostou deste comentário, siga-nos. Basta clicar em "Seguir" no lado superior direito do blog. Muito obrigado!9 de nov. de 2020
Mesmo na mais escura das noites existe luz.
Pelas próprias condições econômicas, força e união do povo e das colônias judaicas pelo mundo, deram-se o devido valor ao atroz Holocausto, hoje erroneamente considerado o maior genocídio da história mundial. Ou até, como manifestam alguns governos muçulmanos radicais, o Holocausto é um mito. Mas, quem conhece bem a História sabe que ele é real e que, além dele, outros massacres monumentais, como o Holodonor esfamélico na Ucrânia, o extermínio irracional e ilógico cometido por sanguinários ditadores como Mao Tse Tung na Revolução Cultural chinesa e Joseph Stálin na revolução bolchevique soviética e na II Guerra Mundial, ultrapassam qualquer imaginação humana.
Trens para os gulags |
Ruta Sepetys |
2 de nov. de 2020
Até onde pode chegar um ato de louca paixão ****
O consagrado escritor norte-americano Scott Turow pressentiu no jovem Raphael Montes uma promessa brasileira como grande escritor de policiais, após ler Suicidas, obra de estreia do novo talento, em 2011. Montes, então, veio evoluindo a cada obra tornando-se também um escritor policial e de suspense de sucesso em terras brasileiras.
Scott Turow |
Aqui ele demonstra – desde cedo – sua capacidade de esmiuçar uma mente doentia e de explorar dosada e adequadamente sua psique. Numa história vibrante, dinâmica, as peripécias do protagonista nos gratificam com reviravoltas surpreendentes, situações inacreditáveis. Algumas poucas até forçadas ou improváveis, o que demonstra o autor ainda em fase de amadurecimento. Um final morno, como no início, pode até decepcionar alguns leitores.
Ilha Grande |
O que parecia um inconsequente encontro casual num churrasco
de conhecidos num domingo transforma-se no pesadelo brutal para os dois
protagonistas de almas atormentadas e para todos os personagens principais da
obra. E, claro, para os felizardos leitores que escolheram ler Dias Perfeitos.
O livro já ganhou o mundo sendo comercializado para catorze
países e os direitos da obra foram vendidos para o cinema, em produção nacional
a ser dirigida por Daniel Filho.
Valdemir Martins
27.10.2020
*** Se você gostou deste comentário, siga-nos. Basta clicar em "Seguir" no lado superior direito do blog. Muito obrigado!
15 de out. de 2020
Sobre Como um Monstro é Criado *****
Uma façanha incrível consegue o estreante – e já premiado - escritor sueco Niklas Natt och Dag em sua obra inicial 1793: você lê no escuro. Sim, é a incrível sensação que temos ao ler este eletrizante e ousado thriller noir, um dramático romance policial histórico transcorrido em Estocolmo no final do século XVIII.
Desde os ambientes descritos, sejam numa taberna, num quarto ou num escritório, até as peripécias em resgate de corpo, batalhas, investigações ou caminhadas, tudo sugere escuridão ou pouca luz, tornando seu universo muito pesado, apesar da leitura fácil e leve. Esse clima leva intencionalmente o leitor ao condicionamento do ambiente que o autor quer que se leia a obra. E você passa a participar dela no intenso frio e nas sombras.
Até os dois protagonistas e demais personagens são carregados de peso, com suas dores, sujeiras, doenças, bebedeiras, roupas e defeitos físicos. E assim, proporcionam uma perturbadora leitura sempre mais acentuada a cada página. A trama desenvolve-se em Estocolmo e seus arredores, com um pit stop na Revolução Francesa. Aqui, num drama histórico, a capital sueca mais parece estar na Idade das Trevas ou Idade Média e não no final do século XVIII, em plena modernidade histórica. Tudo é extremamente grotesco, escuro, fétido, mórbido, insalubre: outro desafio para o leitor.Este é um surpreendente thriller histórico que “retrata a
capacidade de se ser cruel em nome da sobrevivência ou da ganância, como também
a capacidade para o amor, a amizade e o desejo de um mundo melhor.”
Hoje, em tempos de hipersensibilidade social, onde muitas
pessoas revoltam-se gratuitamente ao se sentirem ofendidas e agredidas por
simples palavras ou imagens na tv ou nas redes sociais, levando consigo
irracionalmente seus grupos de convívio de raça, religião e opção sexual, é
importante que 1793 seja lido. Niklas Natt och Dag irá apresentar-lhes o que realmente é
sofrimento, sujeira, ignorância, intolerância e injustiça.
Nesta era em que eternas
desigualdades são totalmente visíveis, aprender como um monstro é criado em época
de predominância dos monstros talvez amenize essa injustificada e incipiente
ânsia por justiça social em confortáveis tempos de internet.
Valdemir Martins
14.10.2020
*** Se você gostou deste comentário, siga-nos. Basta clicar em "Seguir" no lado superior direito do blog. Muito obrigado!
2 de out. de 2020
A luminosidade em seres tão mergulhados nas trevas ****
O calor e ... |
Aqui, o leitor sente o terrível calor e secura do inóspito oeste norte americano e do norte mexicano, bem como seu frio extremo mais ao norte; sente a terrível fedentina dos corpos imundos dos personagens e seus piolhos; gruda no barro e no sangue de inúmeros mortos; arrepia-se e fica abalado com carnificinas de índios e mexicanos protagonizadas por um grupo extremamente violento de americanos desgarrados e desencaminhados de sua pátria,
...o frio do deserto. |
Quem lê Meridiano de Sangue não sai a mesma pessoa no final do livro. Intermitentes deambulações pela violência extremamente explícita abalizam o arcabouço desta assustadora obra de McCarthy. Num crescendo, com detalhes meticulosamente sanguinolentos e escatológicos, a violência tropeça sempre nos trechos ou frases de lirismo e poesia, estilo e sabedoria de McCarthy.
O bando |
O protagonista não tem nome. De “garoto” ele transforma-se em homem no momento certo do enredo e, para sobreviver, precisa ser tão ou mais violento que seus companheiros e inimigos. Seu co-protagonista, um juiz poliglota, culto, multi prodigioso, às vezes asqueroso e caricato, é na realidade um monstro dentro de toda alucinante violência conduzida pelo perpétuo e ambíguo personagem.
É um majestoso romance noir sobre aspectos cruciantes da história do oeste norte americano, sem concessões à cinematografia: sem John Wayne ou Clint Eastwood ou Jerônimo ou sargento Garcia. Nem Rin Tin Tin. A linguagem do livro, seus personagens, as paisagens, as descrições eventuais de romance de formação, a intensidade dos fatos e seu ritmo alucinante, constroem a grandeza da obra.
Os Apaches |
O
controvertido crítico literário norte americano Harold Bloom, ao considerar que
este romance sobre o western “jamais
será superado”, escreveu: “A merecida
notoriedade de ‘Moby Dick’ e ‘Enquanto Agonizo’ é levada adiante por ‘Meridiano
de Sangue’, pois Cormac McCarthy é discípulo de Melville e Faulkner. Eu diria
que nenhum romancista norte-americano vivo, nem mesmo Pynchon, oferece-nos um
livro tão marcante e memorável quanto ‘Meridiano de Sangue’...”.
Todos seus personagens são absolutamente humanos com suas obscuridades e brilhos, uns mais outros menos, como todos nós. Mas McCarthy nos faz enxergar “a luminosidade nesses seres tão mergulhados nas trevas”.
Valdemir Martins
30.9.2020
*** Se você gostou deste comentário, siga-nos. Basta clicar em "Seguir" no lado superior direito do blog. Muito obrigado!
12 de set. de 2020
Abrindo uma porta sobre a noite. ****
Conserto de pianos |
O almoço de domingo |
A taberna dos vinhos |
A maratona de Francisco |
José Luís Peixoto |
21 de ago. de 2020
Uma das mais belas personagens femininas da literatura universal *****
Porta da casa de Ana-não |
Pão, presente para o filho |
Andaluzia - terra de Ana-não |
Agustín Gómez-Arcos |
18.08.2020
11 de ago. de 2020
Só mesmo seres inanimados podem ter tanta vida. *****
O ex-escravo Autua e Adam Ewing |
Frobisher e o velho compositor |
A jornalista Luisa Rey e o segurança |
O atrapalhado editor Cavendish |
A clone Sonmi-451 |
Zachry e a misteriosa Meronym |
David Mitchell |
*** Se você gostou deste comentário, siga-nos. Basta clicar em "Seguir" no lado superior direito do blog. Muito obrigado!