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15 de mar. de 2024

Nove Noites para um suicídio e duas gerações.

O livro começa complexo, pesado. E aos poucos o leitor vai montando o enredo diante das informações que vai assimilando em Nove Noites, mais um trabalho característico do jornalista, talentoso e premiado romancista brasileiro Bernardo Carvalho. Apesar de seu texto objetivo, sua fragmentação narrativa exige maior atenção do leitor, uma de suas características principais. Nesta obra, este início torna-se um exercício de perseverança para o leitor mais interessado em leituras fáceis.

A trama se inicia na cidade sul maranhense de Carolina, na divisa com Goiás (hoje Tocantins). Um enfoque em etnologia e antropologia, ciências nas quais o protagonista e demais personagens estão envolvidos, marcam a base de veracidade deste romance sobre fatos e pessoas reais. Narrado em dois tempos, a obra revela dois protagonistas: o etnólogo americano Buell Quain e o narrador-autor brasileiro Bernardo de Carvalho.

Ao relatar as viagens de estudo e contatos ou relacionamentos, o narrador revela costumes indígenas pouco conhecidos, bem como as interações com nomes importantes como Lévi-Strauss, Ruth Benedict e os irmãos Villas-Bôas. O protagonista vai sendo revelado como uma figura extremamente problemática, apesar de rica, jovem - porém vivida – e inteligente.

As descrições sobre a região do Xingu, as fazendas, os indígenas e as aventuras de um pai maluco enriquecem sobremaneira e dão uma boa suavizada na leitura que deixa de ser tão densa. Por aí, descobrimos que o Vaticano tem terras extensas na região e a denúncia de que nas terras marginais às reservas indígenas vive a escória do Brasil, tipo degenerado de brasileiros que se influenciam negativamente e exploram os indígenas.

Enfim, para contar a história infeliz do norte-americano no Brasil no final da década de 1930, Carvalho, com sua ótima veia jornalística, faz excelentes explanações sobre as regiões, comunidades e costumes que envolveram o ianque quando aqui viveu. Além de que o livro torna-se também um laboratório de psicologia ao analisar culpas, dúvidas, influências, atitudes e responsabilidades.

São na realidade duas histórias contadas paralelamente, sendo uma o fulcro da outra. Misto de ficção e fatos reais, Carvalho viveu pessoalmente os fatos que relata no crepúsculo do romance. E o narrador vai de sua infância à maturidade – como num romance de formação - para contar sua fantástica história em busca de revelar outra história que o despertou em um artigo de uma antropóloga num jornal. E o resultado é este romance que cresce, cresce como um bolo a cada página para se transformar numa saborosa narrativa.

Por seu valor de teor jornalístico, este livro tornou-se leitura obrigatória na Fuvest e em diversos cursos de Comunicação pelo Brasil.

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Valdemir Martins

Capa: 1. Capa do livro; 2. A região indígena; 3. Bernardo criança e o índio Xingu; 4. Buell Quain; 5. O prédio em Nova Iorque; 6. Bernardo de Carvalho.

17.01.2024

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