O livro começa complexo, pesado.
E aos poucos o leitor vai montando o enredo diante das informações que vai
assimilando em Nove Noites, mais um trabalho característico do jornalista, talentoso
e premiado romancista brasileiro Bernardo
Carvalho. Apesar de seu texto objetivo, sua fragmentação narrativa exige
maior atenção do leitor, uma de suas características principais. Nesta obra,
este início torna-se um exercício de perseverança para o leitor mais interessado
em leituras fáceis.
A trama se inicia na cidade sul
maranhense de Carolina, na divisa com Goiás (hoje Tocantins). Um enfoque em
etnologia e antropologia, ciências nas quais o protagonista e demais
personagens estão envolvidos, marcam a base de veracidade deste romance sobre
fatos e pessoas reais. Narrado em dois tempos, a obra revela dois
protagonistas: o etnólogo americano Buell
Quain e o narrador-autor brasileiro Bernardo de Carvalho.
Ao relatar as viagens de estudo e
contatos ou relacionamentos, o narrador revela costumes indígenas pouco
conhecidos, bem como as interações com nomes importantes como Lévi-Strauss, Ruth
Benedict e os irmãos Villas-Bôas. O protagonista vai sendo revelado como uma
figura extremamente problemática, apesar de rica, jovem - porém vivida – e
inteligente.
As descrições sobre a região do Xingu, as fazendas, os
indígenas e as aventuras de um pai maluco enriquecem sobremaneira e dão uma boa
suavizada na leitura que deixa de ser tão densa. Por aí, descobrimos que o
Vaticano tem terras extensas na região e a denúncia de que nas terras marginais
às reservas indígenas vive a escória do Brasil, tipo degenerado de brasileiros
que se influenciam negativamente e exploram os indígenas.
Enfim, para contar a história infeliz do norte-americano no
Brasil no final da década de 1930, Carvalho, com sua ótima veia jornalística,
faz excelentes explanações sobre as regiões, comunidades e costumes que
envolveram o ianque quando aqui viveu. Além de que o livro torna-se também um
laboratório de psicologia ao analisar culpas, dúvidas, influências, atitudes e
responsabilidades.
São na realidade duas histórias contadas paralelamente, sendo
uma o fulcro da outra. Misto de ficção e fatos reais, Carvalho viveu pessoalmente
os fatos que relata no crepúsculo do romance. E o narrador vai de sua infância
à maturidade – como num romance de formação - para contar sua fantástica
história em busca de revelar outra história que o despertou em um artigo de uma
antropóloga num jornal. E o resultado é este romance que cresce, cresce como um
bolo a cada página para se transformar numa saborosa narrativa.
Por seu valor
de teor jornalístico, este livro tornou-se leitura obrigatória na Fuvest e em diversos
cursos de Comunicação pelo Brasil.
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Valdemir Martins
Capa: 1. Capa do livro; 2. A região indígena; 3. Bernardo criança e o índio Xingu; 4. Buell Quain; 5. O prédio em Nova Iorque; 6. Bernardo de Carvalho.17.01.2024
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