De todas as armadilhas da Natureza, talvez a mais cruel seja a dominação pelo gelo. Isto principalmente no século XIX e princípios do XX, quando os então impérios, em especial o britânico, somavam os esforços de suas esquadras ao desenvolvimento da ciência e às novas descobertas geográficas. E é sobre uma destas impressionantes armadilhas que trata o livro A Incrível Viagem de Shackleton: a mais extraordinária aventura de todos os tempos, do pesquisador, escritor e jornalista norte americano Alfred Lansing, publicado em 1959.
Esta extraordinária obra traz o
relato da fracassada Expedição Imperial
Transantártica Britânica de Sir Ernest Shackleton e sua tripulação ao Polo Sul em 1914. Felizmente todos
sobreviveram após muitas e muitas agruras, ao contrário do que aconteceu à expedição
liderada pelo prestigiado capitão Sir John Franklin, com os navios Erebus e
Terror, em 1845. Eles deixaram a Inglaterra à procura da cobiçada Passagem Noroeste que liga os Oceanos Atlântico
e Pacífico através do Círculo Polar Ártico.
Contava
com uma tripulação de mais de cem homens, os equipamentos mais avançados da
época e provisões suficientes para três anos de viagem. Ao entrar na zona
polar, no entanto, os navios depararam com o segundo verão consecutivo sem
degelo, ficaram presos e ninguém sobreviveu. A história é contada no livro de
ficção histórica O Terror, de Dan Simmons,
cujo comentário pode ser lido em https://contracapaladob.blogspot.com/2021/02/o-terror-realmente-um-livro-para-fortes.html
No caso de
Shackleton, Lansing teve o especial cuidado de entrevistar dez sobreviventes e estudar
e consultar inúmeros diários pertencentes a diversos membros da tripulação. E
pôde constatar que, apesar das numerosas dificuldades, nunca houve terror. A
viagem ocorreu em 1915 e destinava-se a ser a maior
e mais notável das expedições: atravessar de forma pioneira o continente
antártico. O navio comandado por Shackleton chamava-se Endurance e sua tripulação consistia de 27 homens das mais diversas
formações técnicas e 70 cães canadenses para os trenós da travessia.
Em
estilo e ritmo de romance histórico, Lansing inicia seu texto com bastante
clareza e numa sequência bastante estimulante para a leitura, apesar da
quantidade de informações e dados. Apresenta todos os empolgantes preparativos,
financiamentos, equipe, etc. E assim iniciam a viagem via Buenos Aires e Ilhas
Geórgia do Sul. Atravessam as Ilhas Sandwich e entram no complicado Mar de
Weddell, já no Círculo Polar Antártico. Lá ficaram encalhados por nove meses,
aprisionados pelo gelo traiçoeiro, até o Endurance
ser esmagado.
Sem nenhum indício de pavor,
iniciaram sua longa jornada de retorno caminhando através das banquisas de gelo,
sempre em direção ao oeste, onde deveria existir terra firme. Não fosse a
autoconfiança inabalável de Shackleton, não teriam sobrevivido às extremas e
praticamente inviáveis condições físicas e psicológicas pelas quais passaram.
Isso durou mais de um ano improvável. E o capitão Shackleton foi sem dúvida o
grande responsável pela união e sobrevivência do grupo, pois suas atitudes tomavam
sempre a forma de otimismo. E funcionavam de maneira a inflamar as almas de
seus homens.
Além de enfrentarem as condições
marítimas mais inóspitas e perigosas do planeta, ainda tiveram uma aventura
terrestre inesquecível. Fome, sede, frio gélido, falta de higiene adequada, umidade
permanente e outras condições inóspitas, moral baixo, a ameaça permanente de
catástrofe sobre suas cabeças e muita, muita esperança marcaram a sobrevivência
impensável do grupo.
Quem embarcar nesta viagem,
jamais conseguirá esquecê-la.
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obrigado!
Valdemir Martins
10.02.2024
Fotos: 1. Capa do livro; 2. Shackleton; 3. A Endurance atravessando o gelo; 4. Endurance esmagada pelo gelo; 5. A longa caminhada carregando barcos, alimentos e apetrechos; 6. O mapa final da viagem; 7. Alfred Lansing.
Mais fotos e vídeos da viagem:
https://marsemfim.com.br/a-saga-de-ernest-shackleton-nos-mares-austrais/
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