Com um início extremamente
descritivo e técnico, Aldous Huxley
principia sua considerada obra prima Admirável Mundo Novo de forma a
condicionar o leitor àquilo que irá enfrentar em sua leitura. Assim como os personagens,
seres desenvolvidos nos laboratórios do romance são também condicionados.
Vemo-nos, de repente, no ambiente
de outro mundo. Um que nunca imaginaríamos, como pessoas normais, tecnicamente
muitíssimo evoluído e assombrosamente vivenciado, onde as pessoas não são
geradas naturalmente e sim produzidas artificial e industrialmente pelo Estado com
características para atender às necessidades dessa então nova civilização. Assustador.
Uma civilização que matou de fome
um bilhão de pessoas naturais para facilitar seu controle sobre o bilhão
sobrevivente e reduzir o consumo de comida – muito próximo da narrativa da atual
Agenda 2030 disseminada pelos globalistas da Nova Ordem Mundial. Segundo seu mote
doutrinário, não há civilização sem estabilidade social. E não há estabilidade
social sem estabilidade individual. Daí a programação de cada indivíduo antes
de nascer.
Os óvulos são fecundados de
acordo com as características genéticas desejadas para determinada atividade e
região do planeta; e reproduzidos exatamente idênticos em até 96 mil exemplares
por lote. Servidores braçais, por exemplo, não precisam ter inteligência
desenvolvida, função esta inibida e condicionada já em sua criação. E uma
exígua quantidade de fortes inteligentes é permitida para se formar uma elite
administrativa.
A certa altura da obra um
administrador se expressa para um grupo de estudantes: “Feliz gente nova!
Nenhum trabalho foi poupado para tornar a vossa vida emotivamente fácil, para
preservá-la, tanto quanto possível, até das próprias emoções”. Para ele, “... é
aí que está o segredo da felicidade e da virtude: gostar daquilo que se é
obrigado a fazer. Tal é o fim de todo o condicionamento: fazer as pessoas
apreciarem o destino social a que não podem escapar”.
Em meio a esse grotesco, surgem dúvidas
cruciais e uma espécie de romance. Nada mais desafiador para uma civilização
daquelas, onde ninguém nasce apenas é criado; não existe casamento e família; cada
indivíduo tem que ser autossuficiente; não há religião, doenças ou time do
coração. Não há emoção. Não existem problemas. Não existe Deus; existe Ford.
Uma verdadeira utopia.
Quando Huxley publicou esta obra
em 1932, não se imaginava a informática e a computação. Mas mesmo assim o autor
conseguiu desenvolver um enredo fantástico de evolução tecnológica sem a
utilização desses elementos. Usou apenas a combinação de um desenvolvimento de
tecnologia reprodutiva, da hipnopedia, do uso de psicotrópicos, do
condicionamento tradicional e da manipulação psicológica, obtendo um
contexto de mudanças profundas na sociedade e na civilização como um todo.
Após a
leitura desta estarrecedora obra distópica, sob reflexão, podemos imaginar a
monstruosidade que Huxley poderia ter criado caso tivesse, à época,
conhecimento da tecnologia atual como um todo. E, aí então, resvalaremos em
nossa realidade atual para perceber que estamos a alguns passos de adentrarmos
num admirável mundo novo.
Talvez não ao de Huxley, cujo objetivo
principal era gerar felicidade a um custo calculado e planejado, mas ao de algo
muito pior, determinado e gerenciado pelo poder econômico a usar os habitantes
terrestres como simples consumidores controlados, gerando riquezas permanentes
aos poderosos que hoje controlam a economia mundial.
Antes de finalizar, Huxley dá um toque
perfeito de que a imprensa é imutável. Mesmo num mundo ultra evoluído, ela mantém
sua tradição de fazer estragos dedicando-se ao sensacionalismo. E finaliza esta
brilhante obra distópica com a ironia de se viver uma sofrida vida normal em
detrimento de uma feliz vida ideal, algo somente possível num Admirável Mundo
Novo.
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Valdemir Martins
26.02.2024
Fotos: 1. Capa do livro; 2. Laboratório; 3. Incubadores de bebês modificados; 4. As classes sociais; 5. Soma, a pílula da felicidade; 6. Um mundo paradisíaco; 7. Os clones trabalhadores; 8. Personagens do filme; 9. Aldous Huxley.