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12 de mar. de 2018

Do nada brotou o Geovani, menó.




O alarido difundido pela Companhia com o livro O Sol na Cabeça, do novato e morador carioca Geovani Martins, abarcou até seis páginas de Jeronimo Teixeira na Veja, rasgando o verbo pra elogiar o garoto. Botaram até frases do Moreira Salles e do Chico Buarque como se um deus tivesse nascido, papo reto. Resolvi comprar o bagulho e o li, inteiro, num só tranco, neste domingo.

Assim como Rachel, Graciliano e João Cabral nos desvendaram os sertões nordestinos, Geovani escancara-nos os morros do Rio de Janeiro, despejando através de sua impiedosa e surpreendente escrita, o ambiente, a realidade e a vida da molecada, dos adolescentes e de suas famílias nas favelas. E de forma magnífica, revela as realidades acobertadas nas frequentes matérias da imprensa e jamais registradas pelo público leitor, ouvinte ou telespectador. Nada lhe escapa – o narcotráfico, os nóias, a polícia corrupta, a macumbeira, os evangélicos, a inocência, a violência, o amor, as drogas (todas), a linda borboleta, a família, as novinhas, a amizade, a penúria, o trabalho, a escola – pois ele é fruto desse reino.

O livro, enfim, apesar de suave, é impactante e marca o nascimento de potencial grande escritor caso venha a se preparar culturalmente para isso. Nesta obra de estreia ele usa da oralidade popular com a coragem de criar contos inteiros no linguajar dos “moradores”, como ele designa quem reside na favela – em nenhum momento fala em “comunidade” como a imprensa hipócrita costuma usar -, fazendo-nos vivenciar o real, o autêntico diálogo e dialeto local. Conto seguinte, volta ele ao português convencional, porém com muito estilo.

De origem humilde, Geovani tem o talento e soube aproveitá-lo na composição desta obra superlativa. Seu texto vai de uma situação para outra, mesmo no conto curto, como numa montanha-russa. Sai do suspense para a violência e pá, está no lirismo. Nesta obra claramente autobiográfica, ele consegue narrar cenas atrozes presenciadas e situações de pressão e terror sem qualquer ranço de revanche ou vingança, o que bem demonstra a maturidade do autor apesar de sua pouca idade. Ou seja, é habilidade nata.

Geovani está longe ainda de Machado, Graciliano, Rachel e Cabral, mas tem tudo para ser mais um grande escritor brasileiro: talento, sensibilidade; conta com o apoio de uma excelente editora e, agora, o ambiente carioca em ebulição envolvendo integral e diretamente os morros cariocas, palco e manancial dos dramas e das histórias para novos trabalhos do autor.

Sob a influência da escrita do autor desatei a escrever este artigo. E assim, mano, acabei usando expressões por ele ditas pro bonde.

Valdemir Martins
12/03/2018.

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