Para nós brasileiros que praticamente
não conhecíamos a escritora polonesa Olga
Tokarczuk, recém-laureada com o Nobel de Literatura e o Man Booker
International Prize, lê-la converte-se numa agradabilíssima surpresa. É uma
brilhante contadora de histórias com simplicidade sofisticada.
Cartaz do filme holandês |
A obra, muito bem estruturada
e com uma escrita moderna, inovadora, é um diferenciado
suspense, não convencional, cuja história se passa na atualidade numa remota e
gélida vila polonesa. Sua protagonista, Janina, uma ex-engenheira e professora
de inglês aposentada, costuma se dedicar ao estudo da astrologia, à poesia do
inglês William Blake, à manutenção de casas de veraneio e a sabotar armadilhas
visando impedir a matança de animais silvestres.
Ela,
em primeira pessoa, é a narradora do enredo, misturando thriller e
humor, numa reflexão permanente sobre a condição humana e a natureza. O leitor (a) viaja com
a cabeça de Janina, uma vez que ela descreve ricamente os fatos e
simultaneamente faz reflexões filosóficas e divagações astrológicas sobre os
fatos narrados, seus conviventes, suas moléstias e sua solidão: “A realidade
envelheceu e ficou senil; está sujeita às mesmas leis que qualquer organismo
vivo – envelhece. Assim como as células do corpo, seus componentes mais
elementares – os sentidos – sucumbem à apoptose. A apoptose é a morte natural,
provocada pelo cansaço e pelo esgotamento da matéria.”.
Janina é uma excêntrica
senhora ateia que subverte o corriqueiro na vida das pessoas. Até suas
convicções sobre a morte chegam a beirar a comicidade. Aliás, o cômico, é algo
que espreita muitas das situações vividas por ela. Baseado em suas narrativas,
o livro torna-se intimista, com devaneios sobre tudo, até sobre o que as
pessoas pensam quando estão em silêncio na igreja.
Olga Tokarczuk |
O livro extrapola a história
de crimes e investigações convencionais, sua espinha dorsal, para se tornar um
belo suspense existencial. Com um final surpreendente, tem tudo para ser uma
bela fantasia, mas é de um realismo irretorquível.
Valdemir Martins
em 14/12/2019.
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