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16 de abr. de 2019

Galilee: uma obra que cria desejos e vontades.


Pense num jogo de xadrez. Em suas regras. Esta será a estrutura básica, o arcabouço do romance épico sobrenatural Galilee*, do escritor inglês, Clive Barker. O liame de toda a trama é outro escritor, porém paraplégico com poderes sobrenaturais, membro da família Barbarossa , ligada à história dos Estados Unidos desde a Guerra de Secessão, passando por Thomas Jefferson e chegando aos nossos dias. Não sem antes percorrer fantásticas ilhas “tropicais” a partir do Mar Cáspio. Muito louco, não?

Pois é, fascinante! Barker é um exímio contador de histórias, tem a força da criatividade com uma imaginação fantástica. Consegue levar-nos a um mundo metafísico como se fosse à realidade do quintal da nossa casa, deixando-nos apaixonados por muitos personagens, intrigados com outros e desprezando alguns deles.

Neste épico da moderna literatura gótica Barker cria uma saga familiar em torno dos elementos sexo, violência, um toque de escatologia e uma paixão pelo inusitado. Galilee traz uma história envolvente, que penetra no lado sinistro dos Estados Unidos com uma grande visão transcendental e onde, apesar do protagonista, o grande destaque são as mulheres.

Cenário comum no livro
A família Geary é tão rica quanto os Rockfeller e tão glamourosa quanto os Kennedy, e sua dinastia tem exercido uma influencia sutil sobre a vida americana desde a Guerra de Secessão, ocultando de forma brilhante os profundos laços de corrupção e a severa hostilidade contra os etéreos Barbarossa. Ricos e poderosos, encontram-se no topo da sociedade americana. Mas a família guarda segredos terríveis e sombrios, que vão muito além de um histórico de contrafação e da hostilidade contra os Barbarossa - um clã cuja origem está perdida no tempo, envolvida em mito e misticismo.

Quando Galilee, o príncipe pródigo dos Barbarossa, se apaixona pela recém-casada Rachel Geary, o ódio reprimido entre as famílias emerge numa intensidade mutuamente destrutiva, que evocará espectros de traição, loucura e morte. As raízes das dinastias se revelarão fincadas em um solo sinistro e repleto de surpresas.

Como no xadrez e com muita imaginação, o criativo Barker constrói suas jogadas descritivas uma a uma até o desfecho que, a partir da décima parte da obra, também como no jogo, mantem o clima de suspense, sem dar pistas se teremos um empate ou um cheque-mate.

Clive Barker
Este livro desperta desejos e cria vontades. Um texto de 712 páginas que se lê com muito prazer, atravessando história, romance, fantasia, sexo e suspense, fugindo assim, da praxe dos textos de horror tradicionais do autor. E você lamenta quando termina a leitura. Com sua imaginação e talento para construir mundos que não existem, Barker arquiteta uma viagem sobrenatural, criando situações fora do tempo e do espaço. Algumas coisas ficam sem solução no final do livro e isso pode indicar que teremos uma provável continuação. Ou, o mais provável, é que no mundo criado por Clive Barker nem tudo tenha uma resposta.


Valdemir Martins
Em 08/04/2019.

*Livro esgotado, encontrado em sebos (Estante Virtual) ou sob encomenda na Livraria da Travessa. Publicação da Editora Bertrand Brasil, 2006.

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16 de mar. de 2019

Nunca presuma. Procure sempre além do óbvio.



Quem aprecia ler suspense e fantasia vai salivar no princípio do livro O Homem de Giz, da inglesa C. J. Tudor, sendo atropelado por uma surpreendente narrativa num parque de diversões e a apresentação de um diferenciado personagem branco, no qual muitos leitores apostam suas fichas, por dedução, ser o homem de giz. E você diz “oba, o livro promete”. Daí, num arrefecimento voluntário e bem menos cinematográfico, Tudor inicia a composição de seus interessantes personagens, alguns deles bastante esquisitos e a maioria problemáticos.


Apresentados ao passado dos personagens e à suas condições atuais, nova surpresa numa cena transcorrida no bosque da cidade e que lembra – principalmente para quem leu – as cenas de reunião do grupo de meninos e uma menina e suas brigas com o grupo rival no livro It, a Coisa, do Stephen King.

Entremeando humor negro e descrições fielmente nojentas e horripilantes com o imprevisível e o surpreendente, Tudor vai intercalando também os incógnitos desenhos de diversos homens de giz, chegando ao extremo de sorrisos em cabeças sem rosto. Um clima de efervescência sem ebulição cresce alucinadamente a partir de uma reflexão sobre vida e relacionamentos em meados do livro. Personagens são descritos de formas precisas e assim vamos entendendo e intuindo seu caráter, suas famílias - na maioria disfuncionais -, e suas reações. Paralelamente à história, a autora expõe também os dramas do envelhecimento e da precariedade da vida. E passa-nos um conselho sábio: “Nunca presumas. Questiona tudo. Procura sempre além do óbvio”.

Narrada em duas épocas paralelas (1986 e 2016), a história tem o efeito de fazer com que o leitor crie sempre expectativas diferentes do que realmente vai ser lido, submetendo-se, assim, a inovadoras surpresas. O texto tem uma linguagem dinâmica, ágil, eivada de medos, rancores, desconfianças, reviravoltas surpreendentes e descrições terrivelmente sanguinolentas. O leitor, em muitas situações, passa a acreditar que se trata não só de um livro de suspense, mas também de fantasia, tamanha a qualidade da manipulação imaginária da autora.

C. J. Tudor
A obra pode não ser um primor como thrillers de consagrados autores, mas aí é que se abrilhanta o talento de Tudor, trazendo-nos algo extremamente diferente, entremeando bom texto literário e reflexões com choques de eletrizante suspense e cenas de impacto. Este é seu romance de estreia e já nos apresenta muito do seu talento. Nesse caminho, eliminando desmazelos literários, logo chegará ao topo. É minha aposta, aguardando seu próximo livro.

Valdemir Martins
16/03/2019.

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Sinopse:
Em 1986, Eddie e os amigos passam a maior parte dos dias andando de bicicleta pela pacata vizinhança em busca de aventuras. OS desenhos a giz são seu código secreto: homenzinhos rabiscados no asfalto; mensagens que só eles entendem. Mas um desenho misterioso leva o grupo de crianças até um corpo desmembrado e espalhado em um bosque. Depois disso, nada mais é como antes. Em 2016, Eddie se esforça para superar o passado, até que um dia ele e os amigos de infância recebem um mesmo aviso: o desenho de um homem de giz enforcado. Quando um dos amigos aparece morto, Eddie tem certeza de que precisa descobrir o que de fato aconteceu trinta anos atrás. (Editora Intrínseca)

The Taking of Annie Thorne 

Este é o título em inglês do novo livro de C. J. Tudor, lançado agora nos Estados Unidos e sem previsão – nem título ainda – para o Brasil. Segundo dicas da autora, é um suspense centrado em um mistério que ficou sem solução há décadas: o desaparecimento de uma menina e seu misterioso retorno, quarenta e oito horas depois, incapaz de contar o que lhe ocorreu e completamente diferente de seu estado habitual.

28 de fev. de 2019

O Conto Surrealista da Aia



O best-seller O Conto da Aia, minha primeira leitura de Margaret Atwood, revelou-se extremamente vagaroso em seu início. Quase desisti, pois além de lento, o desenvolvimento da obra é frequentemente mesclado com descrições similares às de um romance de formação, como a de um consultório médico que, se omitido, não seria notado, mas, enfim, tem seu valor literário:

“Quando sou chamada passo por uma porta de entrada que dá para uma sala interna. É branca, sem traços distintivos, como a sala externa, exceto por um biombo dobrável, de tecido vermelho esticado sobre uma estrutura de madeira, um olho dourado pintado na superfície, com uma espada virada para cima com duas serpentes entrelaçadas abaixo dele, como uma espécie de punho. As cobras e a espada são fragmentos, cacos de simbolismo quebrado que restaram do tempo de antes.”

O muro dos enforcados
Porém, evoluindo a leitura, fui constatando que não se tratava de um texto fraco, ruim. Afinal, é um Atwood (diriam). Apesar de uma história pouco vibrante, morosa, a estrutura do texto é fascinante, dinâmica. Trata-se, pois, de um romance surrealista e não uma ficção científica como muitos insistem afirmar. A própria autora assume que é um romance de ficção especulativa de algo possível de acontecer. No caso deste romance especificamente, nota-se que o talento de Atwood tem a preocupação de explorar o inconsciente; prospectar sistematicamente os sonhos, as coincidências, e os fenômenos do acaso; e injetar magia, humor negro e inquéritos sobre a sexualidade e o amor. Tudo, sem exceção, requisitos básicos para se classificar o texto na doutrina de André Breton.

A protagonista ocupa-se amiúde de ponderações e reflexões sobre o “tempo de antes” e de possibilidades presentes e, às vezes, futuras. Seus pensamentos constantemente voam, flutuam em possibilidades. A cena de quatro mulheres numa ambulância é icônica nesse sentido, beirando o non-sense.

O fio condutor da obra é a história da Aia Offred (of Fred, pertencente a Fred), sobrevivente numa catástrofe distópica; uma guerra conduzida por fanáticos fundamentalistas religiosos cristãos que, além de alterarem até a Bíblia, mudam todo o conceito evolutivo do dia-a-dia do homo sapiens. Uma doutrina retrógrada dominante; uma teocracia onde a mulher é simplesmente objeto: fantasia que corrobora a caracterização de ficção surrealista.

Margaret Atwood
A narrativa de Atwood incomoda. Claro, não pelo texto, mas pelas situações permanentemente descritas – e pormenorizadamente descritas. Ela faz questão de chocar o leitor e de despertá-lo para situações drásticas que podem ser eminentes. É sua forma de alertar sobre os perigos que nos rondam via radicalismos presentes em todo lugar e nas mais diversas situações sociais, políticas, tecnológicas, religiosas e militares no mundo atual.

A obra é uma transgressão ao regular. Transfigura-se numa antologia de digressões e Atwood, por ser também poetiza, despenca invariavelmente em lirismos em meio à narração de fatos, como se estivesse divagando. Mas isto é intrínseco às obras surrealistas e aí se destacam as qualidades literárias da autora, pois o enredo em si configura-se numa história comum, apenas criativa. Somente a partir do capítulo trinta e dois a obra toma um ritmo mais célere e dinâmico rumo à sua apoteose de suposições. No gênero, o livro não alcança a força de A Revolução dos Bichos, de Fahrenheit 451 e de A Laranja Mecânica, por exemplo.

Lançado em 1985, o livro - um ícone feminista - voltou a ter evidência recentemente pelas feministas americanas em razão da eleição de “machista” Donald Trump. Para os homens pode ser uma leitura aborrecida, mas é um triunfo entre as mulheres.

No Brasil, O Conto da Aia foi publicado pela editora Rocco (R$ 44,50, 368 páginas); no eBook Kindle (R$ 18,85) e a série The Handmaid's Tale é exibida pelo canal Paramount. Margaret Atwood promete a continuação da obra para breve. O novo livro, intitulado The Testaments (Os Testamentos ou As Provas, em tradução livre), se passará quinze anos após os acontecimentos de O Conto da Aia e narrará a história a partir da perspectiva de três mulheres. Será lançado em 10 de setembro.


Valdemir Martins
26.02.2019

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18 de jan. de 2019

CONTRACAPA/Livros: Livros roubados por nazistas voltam a famílias e i...

CONTRACAPA/Livros: Livros roubados por nazistas voltam a famílias e i...: Pesquisadores usam internet para novas pistas de tesouro avaliado em milhões de dólares. Milton Esterow, em  O Globo  [via New York Times...

Livros roubados por nazistas voltam a famílias e instituições.

Pesquisadores usam internet para novas pistas de tesouro avaliado em milhões de dólares.
Milton Esterow, em O Globo [via New York Times]
Foto: YAD VASHEM PHOTO ARCHIVES/NYT / NYT
A busca por milhões de livros roubados por nazistas durante a Segunda Guerra Mundial é um trabalho permanente — e largamente ignorado. A pilhagem de bibliotecas realizada pelos alemães não tem o mesmo glamour que seus furtos de obras de arte, muitas delas valendo milhões de dólares.
Mas recentemente, sem estardalhaço, a busca pelos livros se intensificou, conduzida por pesquisadores que muitas vezes encontram as obras “escondidas à olhos vistos” em prateleiras de bibliotecas pela Europa.
Seu trabalho é auxiliado pela internet e por arquivos tornados públicos recentemente, mas também por bibliotecários europeus que transformaram essa busca em prioridade.
— As pessoas fizeram vista grossa por muito tempo, mas acho que isso não é mais possível — disse Anders Rydell, autor de “O livro dos ladrões: o saque nazista às bibliotecas europeias e a corrida para devolver uma herança literária”.
Dado o escopo do crime, a tarefa à frente é gigantesca. Um exemplo: quase um terço dos 3,5 milhões de livros da Biblioteca Regional e Central de Berlim pode ter chegado lá via pilhagem na Segunda Guerra.
Foto: Milton Ribeiro
— A maioria das bibliotecas alemãs tem livros roubados por nazistas — diz Sebastian Finsterwalder, que pesquisa a origem das obras.
Mas há sinais promissores. Nos últimos 10 anos, bibliotecas na Alemanha e na Áustria devolveram aproximadamente 30 mil livros para 600 proprietários, herdeiros e instituições. Em um caso de 2015, quase 700 obras roubadas da casa de Leopold Slinger, um especialista em engenharia petrolífera, foram restituídos a seus descendentes pelo governo austríaco.
— Há progresso, mas lento — disse Patricia Grimsted, pesquisadora da Universidade de Harvard e uma das especialistas mundiais nas obras roubadas por nazistas.
Números muitas vezes não fazem jus ao que pode significar para uma família a devolução de um livro especial.
No ano passado, na Alemanha, a Universidade de Potsdam deu um importante volume do século XVI de volta para a família do seu dono, um homem morto em um campo de concentração em 1943. A obra, escrita por um rabino em 1564, explica a base dos 613 mandamentos do Torá. O neto do proprietário identificou o título em uma lista on-line de obras saqueadas e foi com seu pai, um sobrevivente do Holocausto, de Israel até a Alemanha para recuperá-lo.
— Foi uma experiência muito emocionante para meu pai e eu — diz o neto, David Schor.
Foto: fahup.blogspot.com
O trabalho para buscar livros deu um salto nos anos 1990, quando Patricia Grimsted descobriu 10 listas de itens roubados de bibliotecas francesas por uma força-tarefa comandada pelo ideólogo nazista Alfred Rosenberg. O grupo pilhou mais de 6 mil bibliotecas e arquivos por toda a Europa — mas deixou também detalhados relatórios de suas ações, muito úteis para recuperar o que foi roubado.
Ainda que Rosenberg, enforcado como criminoso de guerra em 1946, fosse a principal força por trás do saque de bibliotecas, ele tinha um competidor em Heinrich Himmler, o líder da organização paramilitar SS, cujos agentes eram particularmente interessados em livros sobre maçonaria.
Os alvos nazistas eram principalmente famílias e instituições judaicas, mas incluíam também maçons, católicos, comunistas, socialistas, eslavos e críticos do regime. Ainda que livros tenham sido queimados pelos seguidores de Hitler em sua ascensão, mais tarde muitas obras foram transferidas para bibliotecas e para o Instituto de Estudo da Questão Judaica (Institut zur Erforschung der Judenfrage) , criado pela força-tarefa de Rosenberg em Frankfurt em 1941.
— Eles planejavam utilizar esses livros depois que guerra estivesse ganha. O objetivo era estudar seus inimigos e sua cultura para proteger futuros nazistas dos judeus e outros antagonistas — diz a pesquisadora Patricia Grimsted.

O outro mal do nazismo
(Publicado por Publishnews em 03/05/2018)

Quando decidiu seguir o rastro dos saqueadores de livros do período nazista, o jornalista sueco Anders Rydell lançou-se numa jornada de milhares de quilômetros pela Europa. Seu intuito era compreender os fatos que levaram a essa ação tão cruel e descobrir o que ainda existe de tudo o que se perdeu durante a Segunda Guerra. Ladrões de livros – A história real de como os nazistas roubaram milhões de livros durante a Segunda Guerra (Planeta, 416 pp, R$ 79,90 – Trad.: Rogério Galindo) relata em detalhes os saques efetuados em bibliotecas, livrarias e acervos pessoais no período nazista e mostra, ainda, como um pequeno time de bibliotecários trabalha heroicamente para tentar devolver esses exemplares às vítimas do Holocausto e suas famílias. Uma narrativa que revela o que um único livro pode representar para quem perdeu tudo no conflito mais sangrento da história.

Os homens que salvavam livros
(publicado no site Amazon)

A luta para proteger os tesouros judeus das mãos dos nazistas


Uma saga de heroísmo e resistência, amizade e romance, e uma devoção inabalável à literatura e à arte, mesmo sob o risco de morte.
Os homens que salvavam livros é a incrível história real dos habitantes do gueto de Vilna, na Lituânia, que resgataram milhares de livros e manuscritos raros da cultura judaica por duas vezes – primeiro das mãos dos nazistas, depois dos soviéticos. Tendo como base documentos judaicos, alemães e soviéticos, incluindo diários, cartas, memórias e entrevistas do autor com vários participantes da história, o livro registra as atividades ousadas de um grupo de poetas e eruditos que se tornaram combatentes e contrabandistas na cidade conhecida como a "Jerusalém da Lituânia".
Partindo de uma extensa pesquisa do principal estudioso do gueto de Vilna, de estilo e ousadia excepcionais, Os homens que salvavam livros é uma história épica de heroísmo, um conto pouco conhecido dos dias mais sombrios da guerra.
Vencedor do National Jewish Book Award 2017 – Categoria Holocausto
por David E. Fishman (Autor),‎ Luis Reyes Gil (Tradutor) - Editora Vestígio, primeira edição, 2018, capadura, 352 páginas, R$ 44,38 (site Amazon), R$ 69,80 (Livraria Cultura) e-book R$ 31,41 (Amazon Kindle).

12 de jan. de 2019

CONTRACAPA: A loucura onde menos se espera.

CONTRACAPA: A loucura onde menos se espera.A obra desenvolve-se frenética proporcionando-nos protagonistas que são simultaneamente autores e personagens. São basicamente dois livros em um, ambos regados intermitentemente à prosa poética, história, religião, amor e paixão. A narrativa da primeira relação sexual de um adolescente cego é brilhantemente sublime e poética

A loucura onde menos se espera.


Uma das causas dos baixíssimos índices de leitura da população brasileira é o erro fundamental de impor títulos, autores e gêneros às crianças iniciantes em leitura principalmente nas escolas. Não vou entrar aqui no mérito das obras, mas todos sabem – ou tem ainda uma ideia – do que se obrigam os alunos a ler.

Para mim, o método ideal seria o do critério de escolha da própria criança dando-lhes sim alternativas de escolha. Enquanto minha professora me obrigava a ler Senhora, de José de Alencar e Dom Casmurro, de Machado de Assis, minhas leituras favoritas perambulavam entre Tarzan, de Edgar Rice Burroughs, A Cabana do Pai Thomaz, de Harriet Beecher Stowe, Bom dia, Tristeza, de Françoise Sagan, O Cortiço, de Aluísio Azevedo e A Carne, de Júlio Ribeiro. Hoje leio com prazer o Memorial de Aires, do Machado, e estou achando excelente.

Ou seja, o fundamental para a leitura é a descoberta do prazer de ler. Com certeza, muitas pessoas que não gostam de ler nunca tiveram a oportunidade de ter em mãos ou diante dos olhos um livro que pudesse lhes dar prazer, seja pelo texto, seja pelo assunto ou a história.

Hoje por exemplo, aos 70 anos, vivo descobrindo leituras prazerosas. A surpresa mais recente deu-se com a obra Os Loucos da Rua Mazur, do premiado escritor português João Pinto Coelho. Sua grande qualidade é a construção do texto e a linguagem realista e fluente onde coloca-nos trechos enigmáticos, ironias precisas e preciosas, assim como a convivência de protagonistas e personagens díspares que enriquecem sobejamente a obra.

Polônia dividida em 1939

Mas seu estilo vigoroso e único lembra-nos em alguns aspectos e na qualidade seus compatrícios José Saramago e Walter Hugo Mãe. Senão, veja: “E depois havia Dreide, a louca. Ninguém lhe sabia pai, mãe ou nação. Chegara acompanhada por um cigano, duas mulas e uma miúda nas entranhas. O cigano desaparecera, levara uma das mulas e ficaram as três. Desde então, fixara-se ali, chegada ao vilarejo, mas ainda na floresta, por cautela.”.


Consegue colocar-nos em meio a cenas pesadas, como a descrição sucinta e precisa, meticulosa e eficaz, do búnquer onde lutam personagens, levando-nos a sentir com exatidão o clima ambiente com todos os seus fedores repugnantes e a lama e fezes grudando em nossos pés. Descreve com realismo absoluto as cenas, os locais e as reações, coadunantes ou não, numa atmosfera tétrica como: “Depois passou o cabo Marek; já sem chorar ou rezar, agarrava contra o peito uma mão decepada na esperança de que fosse a sua; logo atrás, amparado por dois companheiros, um rapazinho. Erik fixou-lhe mais os olhos esbugalhados do que as tripas que abraçava, aparvalhado.”

A obra desenvolve-se frenética proporcionando-nos protagonistas que são simultaneamente autores e personagens. São basicamente dois livros em um, ambos regados intermitentemente à prosa poética, história, religião, amor e paixão. A narrativa da primeira relação sexual de um adolescente cego é brilhantemente sublime e poética.

Cidade de Jedwabne inspirou a obra
A ajustada trama da tolerante e até pacata convivência entre judeus e cristãos num vilarejo à nordeste da Polônia só é desconjuntada, juntamente com a cidade, pelos sinistros bolcheviques soviéticos e sua cega obediência e ignorante idolatria ao líder genocida Stálin (efetivamente e fora do romance, os bolcheviques, como uma praga, destruíram tudo por onde passaram ao longo da história). A partir daí e sem a interferência dos nazis, instala-se o tétrico. E o livro transforma-se numa obra-prima do terror, com pessoas comuns promovendo - num rompante de ignorância, intolerância e crendice - um fratricídio que jamais sairá da mente dos leitores. Pinto Coelho, como já o fizera em todo o texto, prima, então, de forma descomunal nos detalhes. E como descrito na capa do livro da edição brasileira: “Na Polônia ocupada por soviéticos e alemães, o horror vem de quem menos se espera.”.

João Pinto Coelho
Um livro arrebatador, Prêmio Leya de 2017, pouco divulgado e de incomensurável valor literário para a língua portuguesa, seja pelo enredo e escrita, quer por sua estruturação e pela capacidade de fabulação de João Pinto Coelho.

Valdemir Martins
12/01/2019.

Os Loucos da Rua Mazur  - Romance português de João Pinto Coelho - Editora Casa da Palavra – Rio de Janeiro, 2018.

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16 de dez. de 2018

CONTRACAPA: As Mulheres do Deserto

CONTRACAPA: As Mulheres do Deserto: Muito além do Pentateuco (a Torá) e da Bíblia, a história do povo judeu é marcada pela dor, o sacrifício, as jornadas perenes, muita lut...

As Mulheres do Deserto


Muito além do Pentateuco (a Torá) e da Bíblia, a história do povo judeu é marcada pela dor, o sacrifício, as jornadas perenes, muita luta e, principalmente, pela fé e solidariedade. Uma eterna peleja pela liberdade e pela terra sagrada.

Uma passagem dessa história, sobretudo, é um grande símbolo da fé em Deus, num destino melhor e na solidariedade, com muita ação e sofrimento. Mas sempre com heroísmo. A destacada escritora nova-iorquina Alice Hoffman conta-nos esse episódio, homenageando a mulher judia e os mártires da fortaleza Masada em sua obra prima As Mulheres do Deserto.

Masada original
Neste romance histórico, místico e religioso, dividido em quatro partes, cada uma relatada por uma mulher forte e resoluta, a preservação da vida é o mote da própria sobrevivência. A força da família, o amor e a maternidade aliados ao misticismo e à fé irredutível em Deus são o liame a conduzir as quatro histórias que vão se entrelaçar formando um poderoso enredo que culmina no trágico cerco das legiões romanas à fortaleza no monte Masada, próximo ao Mar Cáspio, no ápice do deserto, em 73 D.C..

As vidas dessas mulheres complexas e impetuosamente independentes cruzam-se nos dias de desespero do assédio romano. Todas elas fugidas forçosamente de seus lares para escapar da escravidão e dos crimes dos perversos soldados romanos e forçadas a se submeter às condições tormentosas do deserto, onde a sobrevivência será sua principal missão.

O deserto cercando Masada
Yael - amaldiçoada pelo pai por causar a morte da mãe ao nascer - encontra na aridez do inabitado um amor proibido e renasce sempre em constantes desafios junto à natureza. Hoffman, com muito lirismo e crua realidade descreve as fantásticas aventuras dessa batalhadora dos cabelos cor de fogo que, magicamente, conversa com os animais. Após périplos pelos desertos da Judéia alcançou finalmente a fortaleza que fora o último abrigo de Herodes e, então, refúgio do remanescente exército dos Sicários, único local livre do domínio da arrasadora Décima Legião Romana. Lá, encontra seu adorado irmão como chefe das tropas de resistência e seu detestado pai, tido como o mais terrível matador.

Revka, a segunda mulher, sonhadora esposa de um padeiro, cercada por uma patrulha romana no deserto reage furiosamente ao estupro e brutal assassinato da filha; salva seus então traumatizados netos, tornados surdos. Chegada à fortaleza, consolida-se como o ponto de equilíbrio no relacionamento das quatro.

Já Aziza, a mais jovem, filha de um poderoso tirano, criada como um menino para não sofrer abusos e não ter o mesmo destino cruel da mãe, torna-se grande guerreira, arqueira infalível, e apaixonada por um soturno guerreiro, companheiro nas batalhas.

Shirah, a mais velha e experiente, fundamental no enredo por seus dotes medicinais e práticas mágicas, guarda em seu profundo sofrimento um grande e secreto amor.

A incrível rampa romana na lateral
O quarteto fica encarregado da guarda dos pombos que trazem a fertilidade à região; tornam-se confidentes, descobrem a importância da fraternidade e até o ilícito praticam por absoluta humanidade. Cerca de 960 pessoas – entre homens, mulheres e crianças - que viveram na montanha-fortaleza com elas passaram por todo o tipo de necessidades, desde a fome impiedosa às doenças cruéis. A apoteose da obra retrata com mais intensidade o poder bélico de Roma, a brutalidade sem fim usada contra os judeus e, após três meses de cerco inumano, os romanos atingem o seu desígnio.

Alice Hoffman
Esta obra de Alice Hoffman é uma rara narrativa feminista – outras podem ser encontradas no fabuloso “A Guerra não tem Rosto”, da  russa prêmio Nobel Svetlana Alexijevich – de episódios belicosos da História. Traz-nos um bocado do envolvente misticismo judaico em meio a histórias intensas e situações muito tensas, onde prevalece sempre a amizade, o amor e a solidariedade. E aqui evidencia como o local e a real história de Masada se tornaram posteriormente um símbolo de resistência e luta pela liberdade.

Valdemir Martins
16/12/2018.

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5 de dez. de 2018

CONTRACAPA: Vidas Secas: no título, a substância da obra.

CONTRACAPA: Vidas Secas: no título, a substância da obra.: Além do óbvio, pouquíssimos livros condensam em seu título o conteúdo da obra. A genialidade literária do escritor e jornalista alagoano Gr...

Vidas Secas: no título, a substância da obra.

Além do óbvio, pouquíssimos livros condensam em seu título o conteúdo da obra. A genialidade literária do escritor e jornalista alagoano Graciliano Ramos consegue esta proeza em sua obra máxima Vidas Secas.

Apesar de um modernista da linhagem documental, até pelo fato de ser efetivamente um jornalista, criou esta obra que o coloca dentre os mais expressionistas escritores a retratar o sertão como Rachel de Queiroz, João Cabral de Melo Neto e José Lins do Rêgo. Vidas Secas é um redemoinho da vida no pleno sertão nordestino brasileiro: não adianta tentar escapar da secura de tudo, pois a roda viva do destino conduz todos para a espreita da morte.

Cena do filme de Nelson Pereira dos Santos
A obra traz uma família de retirantes atravessando a caatinga ressequida no sertão nordestino em busca de onde morar. À frente o Menino mais Velho e o Menino mais Novo – como são designados em todo o texto – acompanhados da fiel cadela Baleia e seguidos pelos pais Fabiano e Sinhá Vitória. No entorno a imensidão da terra ressequida e rachada, o céu azul limpo e brilhante e aqui e ali a sombra esquelética de mandacarus e quixabeiras esturricadas. Avizinham-se então de uma casa abandonada quando suas forças já os abandonavam.

Chega finalmente a chuva e com ela o dono da casa que é também o titular do armazém da cidadezinha próxima. Fazem um acordo e a família passa a trabalhar para o novo patrão em troca de moradia. Em meio às brincadeiras dos meninos e da Baleia ocorrem as encrencas do pai na cidade, com jogo, bebedeiras, prisão e quermesse. E, entrementes, Fabiano descobre que está sendo fraudado pelo patrão. Depara-se também, admirado, com a inteligência da sofrida mulher. Demitido por reclamar da extorsão, voltam à jornada retirante pelo sertão à procura de nova oportunidade.

Baleia e o Menino mais Novo
A obra caracteriza-se pela belíssima linguagem regional e pelo prodigioso poder de síntese de Graciliano, expressando com exíguas palavras e belíssimas construções as situações da narrativa. No seu neorrealismo regional consegue colocar-nos dentro de uma cena narrando local, emoções e ações de uma só penada. Há pouquíssimo diálogo entre os protagonistas, todavia um profundo amor os une apesar da vivência isolada de cada um.

Dos doze capítulos, Graciliano dedica cinco à família; um capítulo a cada membro. Provavelmente a mais emocionante passagem seja o capítulo inteiro dedicado à morte da cadela Baleia. E o remorso que marca o restante do livro. Na realidade, cada capítulo da obra pode até ser lido separadamente, pois Graciliano os escreveu como se fossem contos – a assim publicou alguns deles no “O Jornal” carioca, dando origem ao livro.

Graciliano Ramos e sua obra máxima
 Não deixa de ser posto pelo autor o aspecto político, entremeando à história o problema social nordestino confrontado com o poder econômico e a força do Estado. Concomitantemente à tragédia física de uma vida animalesca, Graciliano explora também o drama psicológico de uma esposa inconformada com aquele tipo de vida, do marido angustiado por se sentir inferior - pois além de não saber ler ou calcular, não era dotado de racionalidade -, e por não poder proporcionar vida melhor, principalmente aos filhos que se divertem e crescem como animais brincando na lama com a terceira irmã Baleia. Ambos, Fabiano e Sinhá Vitória, sonham em ter o aconchego do vizinho da antiga fazenda, seu Tomás da Bolandeira, letrado e com vida de conforto, para se livrar de suas vidas secas.

Valdemir Martins
30/11/2018

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PS: A Editora Record acaba de lançar uma belíssima edição comemorativa dos 80 anos da obra, em capa dura, além do texto integral e um fac-símile do manuscrito original com as emendas e correções de próprio punho do autor.

27 de nov. de 2018

O Homem que Amava os Cachorros: o comunismo morreu no berço


O caudaloso e vigoroso romance histórico O Homem que Amava os Cachorros não conta as peripécias de um eventual dono de um cão Marley, mas de um apaixonado dono de galgos russos borzóis. E de outros personagens que também amavam os cães. E não se trata aqui de uma estória de cachorros. São histórias entrelaçadas que se completam e têm um único final, abordando vidas de protagonistas reais que tiveram uma terrível “vida de cachorro” ou que viveram enganados como um cachorro raivoso e destruidor.

Em meio à escuridão das maldades humanas e de eventos negativos da natureza ele está sempre acendendo uma luz, numa poderosa linguagem criativa e fluente. Assim é a escrita do cubano Leonardo Padura nesta obra. Narrando a incrível vida desterrada do bolchevique puro-sangue Liev Davidovitch Trotski na pós-revolução russa, de forma romanceada e em três planos narrativos. Padura incrementa o enredo com as vidas paralelas do homem mais marcante na biografia de Trotski depois do arrivista e poderoso Stálin: o espanhol Ramón Mercader, seu algoz, levando a reboque a existência de um medíocre, honesto e batalhador jornalista cubano que também amava os cachorros e que se torna responsável pela obra, revelando-nos a miserável e inacreditável vida dos cubanos pós-revolução.

Leon Trotsky
Com um texto impecável e vibrante, conduzindo os fatos de modo magistral, Padura não nos deixa largar a leitura enredando-nos em histórias da guerra civil espanhola, dos meandros políticos da segunda guerra mundial, da revolução bolchevique e do fantástico golpe engendrado por Stálin atribuindo a Trotsky a responsabilidade de uma eventual traição aos desígnios da revolução proletária soviética. Como se não bastasse – mas faz parte da história real – temos ainda como protagonistas os artistas mexicanos Frida Khalo e seu marido Diego Rivera e do escritor francês e teórico fundamentalista do surrealismo André Breton (a quem o degredado russo declarou: “Para a arte, a liberdade é sagrada, é a sua única salvação. Para a arte, tudo tem de ser tudo.”). Além de passagens pelo gélido inverno ucraniano, pelos encantos mediterrâneos da Turquia, os fiordes noruegueses, Barcelona, Paris e a estranha e congelante Moscou. E, principalmente, o tórrido distrito de Coyoacán na Cidade do México.

Frida Khalo eTrotsky
Conhecido no mundo como o grande companheiro de Lenin, Trotski foi o colíder da Revolução Comunista de Outubro de 1917 na Rússia dos czares; o comissário russo vitorioso da I Guerra e o criador do Exército Vermelho. Um comunista - lá no fundo um detestável pequeno burguês - que gostava de vida em sociedade, boa bebida, boa comida e almejava sempre o conforto proporcionado pela renda de seus escritos. Apesar de, ele e seu carrasco, terem um comportamento estoico na vida e na desgraça.

Trata-se de um livro bastante realista – onde escorre vodca, sangue e medo por suas entrelinhas -, mas absolutamente verdadeiro em meio a um romance histórico e noir. Retrata-nos o esplendor da falseta governista do temido ditador Stalin; expõe os meandros de seus serviços secretos, a monstruosidade da manipulação das pessoas através da mentira e a crueldade de mais alto grau no tratamento dado à população faminta, suja, doente, enregelada e maltrapilha. Nada além de um governo genocida, característica, a partir de então, de outras “revoluções comunistas” como a cubana, a chinesa e a cambojana, na sequência.

E Padura coloca-nos então a questão política chave do livro: onde termina o ideal socialista e inicia-se um processo totalitário? A obra faz-nos refletir se não seria necessário admitir que a concepção marxista de sociedade e do socialismo estava errada. O próprio autor considera que “a classe operária tinha demonstrado com a experiência russa sua incapacidade de governar a si própria”. O autor, assim, traça um retrato histórico das consequências da mentira ideológica e do seu poder destrutivo sobre a utopia mais importante do século XX.

Ramón Mercader preso no México
Segundo o próprio Trotsky concluiu, “a União Soviética não fora mais que a precursora de um novo sistema de exploração e que a sua estrutura política tinha inevitavelmente de gerar uma nova ditadura, maquiada, quando muito, com outra retórica...”. Era obrigado a reconhecer que o stalinismo não tinha suas raízes no atraso da Rússia nem no ambiente imperialista hostil dos czares, mas na incapacidade do proletariado de se transformar em classe governante.

O golpe do montanhês georgiano Stalin na nascente revolução soviética, após a morte de Lenin (supostamente envenenado por ordem do próprio Stalin), decretando o purista Trotsky como traidor da revolução e o doloroso expurgo e assassinato de milhões de indivíduos (a maioria inocente), instituindo o império da mentira, leva-nos, sem dúvida, a concluir que a revolução comunista legítima e original morreu no berço. Como disse o próprio proscrito Trotsky em 1937: “sinto pena de mim mesmo e de todos os que, enganados e usados, acreditamos alguma vez na validade da utopia fundada no já então desaparecido país dos sovietes...”.

Leonardo Padura
Assim, o modelo tido hoje como comunista ou socialista nada mais é que o conceito stalinista de governar, haja vista os países que na atualidade são considerados comunistas – todos eles ditaduras totalitaristas sangrentas como a de Stalin – entre os quais Cuba, Venezuela, Síria, Coréia do Norte, China e, dissimuladamente, ainda a Rússia, dentre as 49 ditaduras ainda existentes no mundo. O socialismo nesses países e a moderna história russa demonstrada por Leonardo Padura vêm confirmar surpreendentemente que o comunismo nasceu morto e que este livro O Homem que Amava os Cachorros é seu epitáfio.

Valdemir Martins
Novembro de 2018.

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