A ideia é injetar novidades e revisitações. "A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas, por incrível que pareça, quase todas as pessoas não sentem esta sede." Carlos Drummond de Andrade
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29 de mai. de 2019
CONTRACAPA/Livros: Este livro não tem rosto de romance.
CONTRACAPA/Livros: Este livro não tem rosto de romance.: Pode-se até ler Svetlana Aleksievitch como se fosse um romance, tamanha a dramaticidade dos escritos da premiada escritora e jornalista b...
23 de mai. de 2019
Este livro não tem rosto de romance.
Pode-se até ler Svetlana Aleksievitch
como se fosse um romance, tamanha a dramaticidade dos escritos da premiada
escritora e jornalista bielorrussa, incluindo o Nobel de Literatura de 2015.
No
seu primeiro livro A Guerra não tem Rosto de Mulher, de 1986, a hoje setuagenária
inicia a obra num prólogo já emocionante, estarrecedor e dramático. E, numa
relevante e construtiva postura feminista, esclarece e inicia sua inédita e
importante inversão das narrativas sobre as guerras:
Trabaladora, pegue em arma! |
“Não sabíamos como era o mundo sem guerra, o mundo da guerra
era o único que conhecíamos, e as pessoas da guerra eram as únicas que
conhecíamos. Até agora não conheço outro mundo, outras pessoas. Por acaso
existiram em algum momento? A vila de minha infância depois da guerra era
feminina. Das mulheres. Não me lembro de vozes masculinas. Tanto que isso ficou
comigo: quem conta a guerra são as mulheres. Choram. Cantam enquanto choram.”
Menina na guerra |
Por essa conclusão lógica, constatou então que tudo o que se
falava, escrevia e consagrava sobre as guerras era através da voz masculina. E,
depois de inúmeras pesquisas e entrevistas com mulheres que viveram a guerra, concluiu
que os relatos femininos são distintos e falam de outras coisas: “A guerra ‘feminina’
tem suas próprias cores, cheiros; sua iluminação e seu espaço sentimental. Suas
próprias palavras. Nela, não há heróis nem façanhas incríveis, há apenas
pessoas ocupadas com uma tarefa desumanamente humana. E ali não sofrem apenas
elas (as pessoas!), mas também a terra, os pássaros, as árvores”. E completa: “Um
mundo inteiro foi escondido de nós. A guerra delas permaneceu desconhecida…
Quero escrever a história dessa guerra. A história das mulheres”, esclarece
Svetlana.
Sapadoras no cerco de Moscou |
Assim surge a monumental crônica feminina sobre a Segunda
Guerra Mundial, mais especificamente nos confrontos entre nazistas e Exército
Vermelho soviético, com passagens pela Revolução Bolchevique sob a tutela do
carniceiro ditador Stálin. Trata-se, sobretudo, de um livro para pessoas
sensíveis e corajosas, tanto homens como mulheres, interessados na verdade
nunca contada - nem imaginada - sobre os reais bastidores das guerras, com mais
de um milhão de mulheres tanto na retaguarda como na linha de frente dessas
batalhas.
Batalhão de fuzileiras |
A Academia Sueca atribuiu valor e poder a uma obra e estilo
inéditos. Em séculos de literatura nada nesse gênero havia sido escrito.
Svetlana criou, assim, um novo gênero literário classificado como novela
coletiva. Ou seja, com seus textos
a meio caminho entre a literatura e o jornalismo, ela usa a técnica
de “colagem”, justapondo testemunhos individuais com o que consegue
aproximar-se mais da substância humana dos fatos.
As temidas aviadoras soviéticas |
Não se consegue encontrar algo
no estilo aproximadamente similar nem nas obras dos norte-americanos Truman
Capote, Gay Talese, Tom Wolfe e Norman Mailer, precursores do jornalismo
literário. Não se trata de escrever ensaio ou crônica sobre um único
fato individual ou familiar, mas sim de uma tragédia coletiva de uma época
longa baseado em dezenas de testemunhos explícitos de inúmeras mulheres,
arrancados de suas almas.
Mulher em luta corporal |
A sofrida e feroz vitória soviética sobre os nazistas
custou mais de 20 milhões de vidas humanas em quatro anos e só foi conseguida
graças à imensa participação das mulheres soldados com idades entre catorze e
mais de cinquenta anos. Sim, isso mesmo: de crianças a idosas.
Em
nome da Revolução Bolchevique, o inescrupuloso e homicida Stálin, já em 1937,
três anos antes de se enfiar na guerra contra os alemães com seu Exército
Vermelho, começou a eliminar dessa hoste milhares de soldados e principalmente
comandantes “não confiáveis” para se garantir no poder, consolidando sua
ditadura sanguinária. E, assim, como não havia homens suficientes na União
Soviética, as mulheres tiveram que se sacrificar heroicamente na defesa da
pátria.
Órfãos soviéticos |
Antes
da metade do livro você se convence que pouco conhece de guerra. Tudo o que
sabe é o básico, histórico, técnico, de heroísmo barato, com muito pouco
sentimento. Pois Svetlana é implacável em sua apresentação crua, real,
detalhada e humana da guerra. Sim, você vai ponderar: no meio de algo tão
animalesco a guerra é humana. Em meio a algo tão “desumano” são as atitudes femininas,
das soldados lá engajadas para vencer e sobreviver, que se destacam os atos
heroicos e extremamente humanos, dilacerando a alma, a mente e a vida dessas
guerreiras chamadas então de “irmãzinhas” por seus companheiros de batalhas,
fugas, fome, frio, destruição e atrocidades. Enfim, de verdadeira carnificina.
Svetlana Aleksievitch |
Neste
livro, dezenas de depoimentos emocionantes, brilhantemente arrematados e
organizados por Svetlana ao longo de anos, traduzem o ineditismo do massacre
que foram os embates entre soviéticos comunistas e alemães fascistas (como são
tratados pela autora), moldados pelos inacreditáveis destinos de patrióticos
soldados soviéticos tratados como traidores pelo totalitarismo gélido e
sangrento do alto comando stalinista.
Depois
deste livro você vai encarar novas narrativas de guerras com outra visão. E vai
concluir que tudo que já leu sobre os conflitos bélicos não tem realmente rosto
de mulher.
Valdemir Martins
Em
22/05/2019.
Outros livros da autora publicados no Brasil pela Companhia das Letras: O Fim do Homem Soviético, Vozes de Chernobil, As Últimas
Testemunhas e Rapazes de Zinco.
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13 de mai. de 2019
Flores para Algernon: a vida por trás de uma janela.
Ler “Flores para Algernon” incomoda. Desde
o início, onde parece que estamos lendo com areia nos olhos. A escrita com
grafia errada e encoberta propositalmente pelo norte-americano Daniel Keyes para reforçar a condição
de retardado mental do protagonista Charlie, por quarenta páginas iniciais, é o
que dá início ao incômodo. Mesmo assim, o leitor não desgruda do livro.
Então, a ansiedade de Charlie torna-se contagiante e atinge
quem está lendo sua luta para ficar inteligente, seja na padaria onde trabalha,
no laboratório experimental ou nas consultas médicas. Seja nas disputas com
Algernon. E, aos poucos, o texto começa a mudar e o personagem começa a desabrochar,
como uma flor cercada de espinhos.
Charlie após cirurgia |
Começa então a ficar clara a proposta de Keyes de ir
desmontando, gradualmente, as imagens que se constrói das pessoas, sejam elas
doutores, estudantes, genitores ou simples trabalhadores braçais. Não só no
texto, mas em reflexões sobre a vida real ao que o leitor é instigado pela
força extraordinária da obra. Com intensa profundidade psicológica, o livro
leva-nos a constatar - mais uma vez em ponderações – o quanto as mensagens que
nos foram passadas durante a infância e a juventude influenciaram a formação de
nosso caráter. E depois da leitura muita coisa pode mudar nos conceitos dos próprios
leitores.
Labirinto montado por Chalie |
As mensagens bruxas, que nos são transmitidas através das
falas e das atitudes de terceiros durante nosso período de desenvolvimento
intelectual, desde uma surra, puxões de orelha ou punições durante a infância
até aqueles comentários inconsequentes – tipo “você é um inútil” ou “nunca
vai ser ninguém na vida” ou ainda “Deus
vai te castigar...” -, podem, inconscientemente, levar algumas pessoas a
ser covardes, tímidas, agressivas ou pior, até psicopatas. Cada um acumula ou
desenvolve de forma diferente, de acordo com a atmosfera em que cresce: seu
ambiente familiar, suas amizades, sua educação, seus costumes. Agora,
consciente de seus antecedentes pessoais, imagine se acontecesse com uma mente
retardada.
Assim é com o protagonista, cuja evolução leva-o a enxergar
com absoluta clareza os fatos, pessoas, locais e mensagens que lhe foram
infligidas. Ele aprende tudo extraordinariamente rápido, mas não consegue evoluir
emocionalmente e lidar com seus sentimentos.
Charlie e sua paixão |
Apesar de fortemente densa, a obra flui com leveza, num
romance de ficção científica extremamente interessante e de leitura cativante,
claro, agora não mais com areia nos olhos. Do meio para o fim, a história sofre
uma reviravolta com alterações no protagonista e em seu coadjuvante. E, de
surpresa em surpresa, a obra consolida-se como um debate profundo sobre a
bondade, o relacionamento humano e a solidão. Por uma das personagens
principais, causadora de problemas e crises importantes na história, Keyes
demonstra o perigo de se ter aquela preocupação “do que os outros vão pensar”
e, assim, tornar-se uma pessoa egoísta em prejuízo inconsciente de quem se ama
de verdade.
Daniel Keyes |
O livro é um clássico da literatura norte-americana e adotado
lá como leitura básica em muitas escolas de segundo grau. Consideram-na importante na formação dos jovens por
despertá-los para o fato de que professores, chefes, líderes religiosos,
atletas e até mesmo nossos desafetos ou amados são pessoas como nós. Têm
sentimentos variáveis, dores na alma, problemas de alguma ordem, defeitos de
personalidade, doenças invisíveis, frustrações diversas e também seus próprios desafetos.
Keyes, nesta obra, apresenta-nos a vida que temos – o
cotidiano - por trás de uma janela. A janela da própria vida. Com muita
simbologia, constrói uma obra pungente, extremamente dolorida, apesar de
fascinante e assaz emocionante. Como já disse, ler esta obra incomoda. Ninguém
sai incólume à leitura de Flores para Algernon.
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Sobre o livro:
Entre
os temas mais recorrentes da ficção científica, a percepção de múltiplas
realidades já abriu margem para narrativas clássicas e questões tão profundas
quanto um buraco negro. Afinal, o mundo que sempre percebemos a nossa volta
realmente existe? Mas para além dos portais interdimensionais, o autor
norte-americano Daniel Keyes manteve os pés no chão dentro do universo scifi e
apresentou uma história que explora o conceito, ao mesmo tempo que impacta por
sua delicadeza. Publicado originalmente em 1966, Flores para Algernon foi o
grande expoente da carreira do escritor, ganhador do prêmio Nebula e inspiração
para o filme Os Dois Mundos de Charly (1968) – que garantiu a Cliff Robertson o
Oscar de Melhor Ator. E com mais de cinco milhões de exemplares vendidos é
referência dentro das escolas dos Estados Unidos. (Editora Aleph)
Sinopse
(com spoiler):
A obra
surgiu sobre as palavras de um homem de 32 anos e 68 de QI: Charlie Gordon. Com
excesso de erros no início do romance, os relatos de Charlie revelam sua
condição limitada, consequência de uma grave deficiência intelectual, que ao
menos o mantém protegido dentro de um “mundo” particular – indiferente às
gozações dos colegas de trabalho e intocado por tragédias familiares. Porém, ao
participar de uma cirurgia revolucionária que aumenta o seu QI, ele não apenas
se torna mais inteligente que os próprios médicos que o operaram, como também
vira testemunha de uma nova realidade: ácida, crua e problemática. Se o
conhecimento é uma benção, Daniel Keyes constrói um personagem complexo e
intrigante, que questiona essa sorte e reflete sobre suas relações sociais e a
própria existência. E tudo isso ao lado de
Algernon, seu rato de estimação e a primeira cobaia bem-sucedida no processo
cirúrgico. (Editora Aleph)
Preço
médio R$ 48,00. Em algumas lojas Saraiva e no site Amazon R$ 30,90. E-book
Kindle R$ 23,48.
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16 de abr. de 2019
Galilee: uma obra que cria desejos e vontades.
Pense num jogo de xadrez.
Em suas regras. Esta será a estrutura básica, o arcabouço do romance épico
sobrenatural Galilee*, do escritor
inglês, Clive Barker. O liame de toda a trama é outro escritor, porém
paraplégico com poderes sobrenaturais, membro da família Barbarossa , ligada à
história dos Estados Unidos desde a Guerra de Secessão, passando por Thomas
Jefferson e chegando aos nossos dias. Não sem antes percorrer fantásticas ilhas
“tropicais” a partir do Mar Cáspio. Muito louco, não?
Pois é, fascinante! Barker
é um exímio contador de histórias, tem a força da criatividade com uma
imaginação fantástica. Consegue levar-nos a um mundo metafísico como se fosse à
realidade do quintal da nossa casa, deixando-nos apaixonados por muitos
personagens, intrigados com outros e desprezando alguns deles.
Neste épico da moderna literatura gótica
Barker cria uma saga familiar em torno dos elementos sexo, violência, um toque
de escatologia e uma paixão pelo inusitado.
Galilee traz uma história
envolvente, que penetra no lado sinistro dos Estados Unidos com uma grande
visão transcendental e onde, apesar do protagonista, o grande destaque são as mulheres.
Cenário comum no livro |
A família Geary é tão rica quanto os
Rockfeller e tão glamourosa quanto os Kennedy, e sua dinastia tem exercido uma
influencia sutil sobre a vida americana desde a Guerra de Secessão, ocultando
de forma brilhante os profundos laços de corrupção e a severa hostilidade
contra os etéreos Barbarossa. Ricos e poderosos, encontram-se no topo da
sociedade americana. Mas a família guarda segredos terríveis e sombrios, que
vão muito além de um histórico de contrafação e da hostilidade contra os
Barbarossa - um clã cuja origem está perdida no tempo, envolvida em mito e
misticismo.
Quando Galilee, o príncipe pródigo dos
Barbarossa, se apaixona pela recém-casada Rachel Geary, o ódio reprimido entre
as famílias emerge numa intensidade mutuamente destrutiva, que evocará
espectros de traição, loucura e morte. As raízes das dinastias se revelarão
fincadas em um solo sinistro e repleto de surpresas.
Como no xadrez e com muita
imaginação, o criativo Barker constrói suas jogadas descritivas uma a uma até o
desfecho que, a partir da décima parte da obra, também como no jogo, mantem o
clima de suspense, sem dar pistas se teremos um empate ou um cheque-mate.
Clive Barker |
Este livro desperta desejos e cria vontades. Um texto de 712 páginas que se lê com muito prazer, atravessando
história, romance, fantasia, sexo e suspense, fugindo assim, da praxe dos textos de horror tradicionais do autor. E você lamenta quando termina a
leitura. Com sua imaginação e talento para construir mundos que não existem,
Barker arquiteta uma viagem sobrenatural, criando situações fora do tempo e do
espaço. Algumas coisas ficam sem solução no final do livro e isso pode indicar
que teremos uma provável continuação. Ou, o mais provável, é que no mundo
criado por Clive Barker nem tudo tenha uma resposta.
Valdemir Martins
Em 08/04/2019.
*Livro esgotado, encontrado em sebos (Estante Virtual) ou sob encomenda na Livraria da Travessa. Publicação da Editora Bertrand Brasil, 2006.
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16 de mar. de 2019
Nunca presuma. Procure sempre além do óbvio.
Quem aprecia ler suspense e fantasia vai salivar no princípio
do livro O Homem de Giz, da inglesa C. J. Tudor, sendo atropelado por
uma surpreendente narrativa num parque de diversões e a apresentação de um
diferenciado personagem branco, no qual muitos leitores apostam suas fichas,
por dedução, ser o homem de giz. E você diz “oba, o livro promete”. Daí, num
arrefecimento voluntário e bem menos cinematográfico, Tudor inicia a composição
de seus interessantes personagens, alguns deles bastante esquisitos e a maioria
problemáticos.
Apresentados ao passado dos personagens e à suas condições
atuais, nova surpresa numa cena transcorrida no bosque da cidade e que lembra –
principalmente para quem leu – as cenas de reunião do grupo de meninos e uma
menina e suas brigas com o grupo rival no livro It, a Coisa, do Stephen King.
Entremeando humor negro e descrições fielmente nojentas e
horripilantes com o imprevisível e o surpreendente, Tudor vai intercalando
também os incógnitos desenhos de diversos homens de giz, chegando ao extremo de
sorrisos em cabeças sem rosto. Um clima de efervescência sem ebulição cresce
alucinadamente a partir de uma reflexão sobre vida e relacionamentos em meados
do livro. Personagens são descritos de formas precisas e assim vamos entendendo
e intuindo seu caráter, suas famílias - na maioria disfuncionais -, e suas
reações. Paralelamente à história, a autora expõe também os dramas do
envelhecimento e da precariedade da vida. E passa-nos um conselho sábio: “Nunca
presumas. Questiona tudo. Procura sempre além do óbvio”.
Narrada em duas épocas paralelas (1986 e 2016), a história
tem o efeito de fazer com que o leitor crie sempre expectativas diferentes do
que realmente vai ser lido, submetendo-se, assim, a inovadoras surpresas. O texto
tem uma linguagem dinâmica, ágil, eivada de medos, rancores, desconfianças,
reviravoltas surpreendentes e descrições terrivelmente sanguinolentas. O leitor,
em muitas situações, passa a acreditar que se trata não só de um livro de
suspense, mas também de fantasia, tamanha a qualidade da manipulação imaginária
da autora.
C. J. Tudor |
A obra pode não ser um primor como thrillers de consagrados autores, mas aí é que se abrilhanta o
talento de Tudor, trazendo-nos algo extremamente diferente, entremeando bom
texto literário e reflexões com choques de eletrizante suspense e cenas de
impacto. Este é seu romance de estreia e já nos apresenta muito do seu talento.
Nesse caminho, eliminando desmazelos literários, logo chegará ao topo. É minha
aposta, aguardando seu próximo livro.
Valdemir Martins
16/03/2019.
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Sinopse:
Em
1986, Eddie e os amigos passam a maior parte dos dias andando de bicicleta pela
pacata vizinhança em busca de aventuras. OS desenhos a giz são seu código
secreto: homenzinhos rabiscados no asfalto; mensagens que só eles entendem. Mas
um desenho misterioso leva o grupo de crianças até um corpo desmembrado e
espalhado em um bosque. Depois disso, nada mais é como antes. Em 2016, Eddie se
esforça para superar o passado, até que um dia ele e os amigos de infância
recebem um mesmo aviso: o desenho de um homem de giz enforcado. Quando um dos
amigos aparece morto, Eddie tem certeza de que precisa descobrir o que de fato
aconteceu trinta anos atrás. (Editora Intrínseca)
“The Taking of Annie Thorne”
Este é o título em inglês do
novo livro de C. J. Tudor, lançado agora nos Estados Unidos e sem previsão –
nem título ainda – para o Brasil. Segundo dicas da autora, é um suspense
centrado em um mistério que ficou sem solução há décadas: o desaparecimento de
uma menina e seu misterioso retorno, quarenta e oito horas depois, incapaz de
contar o que lhe ocorreu e completamente diferente de seu estado habitual.
28 de fev. de 2019
O Conto Surrealista da Aia
O best-seller O Conto da Aia, minha primeira leitura de Margaret Atwood, revelou-se extremamente vagaroso em seu início. Quase desisti, pois além de lento, o desenvolvimento da obra é frequentemente mesclado com descrições similares às de um romance de formação, como a de um consultório médico que, se omitido, não seria notado, mas, enfim, tem seu valor literário:
“Quando sou chamada passo por uma porta de entrada que dá para uma sala
interna. É branca, sem traços distintivos, como a sala externa, exceto por um
biombo dobrável, de tecido vermelho esticado sobre uma estrutura de madeira, um
olho dourado pintado na superfície, com uma espada virada para cima com duas
serpentes entrelaçadas abaixo dele, como uma espécie de punho. As cobras e a
espada são fragmentos, cacos de simbolismo quebrado que restaram do tempo de
antes.”
O muro dos enforcados |
Porém,
evoluindo a leitura, fui constatando que não se tratava de um texto fraco,
ruim. Afinal, é um Atwood (diriam). Apesar de uma história pouco vibrante, morosa, a estrutura do texto é fascinante, dinâmica. Trata-se, pois, de um
romance surrealista e não uma ficção científica como muitos insistem afirmar. A
própria autora assume que é um romance de ficção especulativa de algo possível
de acontecer. No caso deste romance especificamente, nota-se que o talento de
Atwood tem a preocupação de explorar o inconsciente; prospectar sistematicamente os
sonhos, as coincidências, e os fenômenos do acaso; e injetar magia, humor negro
e inquéritos sobre a sexualidade e o amor. Tudo, sem exceção, requisitos
básicos para se classificar o texto na doutrina de André Breton.
A
protagonista ocupa-se amiúde de ponderações e reflexões sobre o “tempo de
antes” e de possibilidades presentes e, às vezes, futuras. Seus pensamentos
constantemente voam, flutuam em possibilidades. A cena de quatro mulheres numa
ambulância é icônica nesse sentido, beirando o non-sense.
O
fio condutor da obra é a história da Aia Offred (of Fred, pertencente a Fred), sobrevivente numa catástrofe distópica;
uma guerra conduzida por fanáticos fundamentalistas religiosos cristãos que,
além de alterarem até a Bíblia, mudam todo o conceito evolutivo do dia-a-dia do
homo sapiens. Uma doutrina retrógrada
dominante; uma teocracia onde a mulher é simplesmente objeto: fantasia que
corrobora a caracterização de ficção surrealista.
Margaret Atwood |
A
narrativa de Atwood incomoda. Claro, não pelo texto, mas pelas situações
permanentemente descritas – e pormenorizadamente descritas. Ela faz questão de
chocar o leitor e de despertá-lo para situações drásticas que podem ser
eminentes. É sua forma de alertar sobre os perigos que nos rondam via
radicalismos presentes em todo lugar e nas mais diversas situações sociais,
políticas, tecnológicas, religiosas e militares no mundo atual.
A
obra é uma transgressão ao regular. Transfigura-se numa antologia de digressões
e Atwood, por ser também poetiza, despenca invariavelmente em lirismos em meio
à narração de fatos, como se estivesse divagando. Mas isto é intrínseco às
obras surrealistas e aí se destacam as qualidades literárias da autora, pois o
enredo em si configura-se numa história comum, apenas criativa. Somente a
partir do capítulo trinta e dois a obra toma um ritmo mais célere e dinâmico
rumo à sua apoteose de suposições. No gênero, o livro não alcança a força de A Revolução dos Bichos, de Fahrenheit 451 e de A Laranja Mecânica, por exemplo.
Lançado
em 1985, o livro - um ícone feminista - voltou a ter evidência recentemente
pelas feministas americanas em razão da eleição de “machista” Donald Trump. Para
os homens pode ser uma leitura aborrecida, mas é um triunfo entre as mulheres.
No
Brasil, O Conto da Aia foi publicado
pela editora Rocco (R$ 44,50, 368 páginas); no eBook Kindle (R$ 18,85) e a
série The Handmaid's Tale é exibida
pelo canal Paramount.
Margaret Atwood promete a continuação da obra para breve. O novo livro, intitulado The Testaments (Os
Testamentos ou As Provas, em tradução livre), se passará quinze anos após os
acontecimentos de O Conto da Aia e narrará a
história a partir da perspectiva de três mulheres. Será lançado em 10 de setembro.
Valdemir Martins
26.02.2019
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18 de jan. de 2019
CONTRACAPA/Livros: Livros roubados por nazistas voltam a famílias e i...
CONTRACAPA/Livros: Livros roubados por nazistas voltam a famílias e i...: Pesquisadores usam internet para novas pistas de tesouro avaliado em milhões de dólares. Milton Esterow, em O Globo [via New York Times...
Livros roubados por nazistas voltam a famílias e instituições.
Pesquisadores usam internet para novas pistas de tesouro avaliado em milhões de dólares.
Milton Esterow, em O Globo [via New York Times]
Foto: YAD VASHEM PHOTO ARCHIVES/NYT / NYT |
A busca por milhões de livros roubados por nazistas durante a Segunda Guerra Mundial é um trabalho permanente — e largamente ignorado. A pilhagem de bibliotecas realizada pelos alemães não tem o mesmo glamour que seus furtos de obras de arte, muitas delas valendo milhões de dólares.
Mas recentemente, sem estardalhaço, a busca pelos livros se intensificou, conduzida por pesquisadores que muitas vezes encontram as obras “escondidas à olhos vistos” em prateleiras de bibliotecas pela Europa.
Seu trabalho é auxiliado pela internet e por arquivos tornados públicos recentemente, mas também por bibliotecários europeus que transformaram essa busca em prioridade.
— As pessoas fizeram vista grossa por muito tempo, mas acho que isso não é mais possível — disse Anders Rydell, autor de “O livro dos ladrões: o saque nazista às bibliotecas europeias e a corrida para devolver uma herança literária”.
Dado o escopo do crime, a tarefa à frente é gigantesca. Um exemplo: quase um terço dos 3,5 milhões de livros da Biblioteca Regional e Central de Berlim pode ter chegado lá via pilhagem na Segunda Guerra.
Foto: Milton Ribeiro |
Mas há sinais promissores. Nos últimos 10 anos, bibliotecas na Alemanha e na Áustria devolveram aproximadamente 30 mil livros para 600 proprietários, herdeiros e instituições. Em um caso de 2015, quase 700 obras roubadas da casa de Leopold Slinger, um especialista em engenharia petrolífera, foram restituídos a seus descendentes pelo governo austríaco.
— Há progresso, mas lento — disse Patricia Grimsted, pesquisadora da Universidade de Harvard e uma das especialistas mundiais nas obras roubadas por nazistas.
Números muitas vezes não fazem jus ao que pode significar para uma família a devolução de um livro especial.
No ano passado, na Alemanha, a Universidade de Potsdam deu um importante volume do século XVI de volta para a família do seu dono, um homem morto em um campo de concentração em 1943. A obra, escrita por um rabino em 1564, explica a base dos 613 mandamentos do Torá. O neto do proprietário identificou o título em uma lista on-line de obras saqueadas e foi com seu pai, um sobrevivente do Holocausto, de Israel até a Alemanha para recuperá-lo.
— Foi uma experiência muito emocionante para meu pai e eu — diz o neto, David Schor.
Foto: fahup.blogspot.com |
Ainda que Rosenberg, enforcado como criminoso de guerra em 1946, fosse a principal força por trás do saque de bibliotecas, ele tinha um competidor em Heinrich Himmler, o líder da organização paramilitar SS, cujos agentes eram particularmente interessados em livros sobre maçonaria.
Os alvos nazistas eram principalmente famílias e instituições judaicas, mas incluíam também maçons, católicos, comunistas, socialistas, eslavos e críticos do regime. Ainda que livros tenham sido queimados pelos seguidores de Hitler em sua ascensão, mais tarde muitas obras foram transferidas para bibliotecas e para o Instituto de Estudo da Questão Judaica (Institut zur Erforschung der Judenfrage) , criado pela força-tarefa de Rosenberg em Frankfurt em 1941.
— Eles planejavam utilizar esses livros depois que guerra estivesse ganha. O objetivo era estudar seus inimigos e sua cultura para proteger futuros nazistas dos judeus e outros antagonistas — diz a pesquisadora Patricia Grimsted.
O outro mal do nazismo
(Publicado por Publishnews em 03/05/2018)
Quando decidiu seguir o rastro dos saqueadores de livros do período nazista, o jornalista sueco Anders Rydell lançou-se numa jornada de milhares de quilômetros pela Europa. Seu intuito era compreender os fatos que levaram a essa ação tão cruel e descobrir o que ainda existe de tudo o que se perdeu durante a Segunda Guerra. Ladrões de livros – A história real de como os nazistas roubaram milhões de livros durante a Segunda Guerra (Planeta, 416 pp, R$ 79,90 – Trad.: Rogério Galindo) relata em detalhes os saques efetuados em bibliotecas, livrarias e acervos pessoais no período nazista e mostra, ainda, como um pequeno time de bibliotecários trabalha heroicamente para tentar devolver esses exemplares às vítimas do Holocausto e suas famílias. Uma narrativa que revela o que um único livro pode representar para quem perdeu tudo no conflito mais sangrento da história.
Os homens que salvavam livros
(publicado no site Amazon)
Uma saga de heroísmo e resistência, amizade e romance, e uma devoção inabalável à literatura e à arte, mesmo sob o risco de morte.
por David E. Fishman (Autor), Luis Reyes Gil (Tradutor) - Editora Vestígio, primeira edição, 2018, capadura, 352 páginas, R$ 44,38 (site Amazon), R$ 69,80 (Livraria Cultura) e-book R$ 31,41 (Amazon Kindle).
O outro mal do nazismo
(Publicado por Publishnews em 03/05/2018)
Quando decidiu seguir o rastro dos saqueadores de livros do período nazista, o jornalista sueco Anders Rydell lançou-se numa jornada de milhares de quilômetros pela Europa. Seu intuito era compreender os fatos que levaram a essa ação tão cruel e descobrir o que ainda existe de tudo o que se perdeu durante a Segunda Guerra. Ladrões de livros – A história real de como os nazistas roubaram milhões de livros durante a Segunda Guerra (Planeta, 416 pp, R$ 79,90 – Trad.: Rogério Galindo) relata em detalhes os saques efetuados em bibliotecas, livrarias e acervos pessoais no período nazista e mostra, ainda, como um pequeno time de bibliotecários trabalha heroicamente para tentar devolver esses exemplares às vítimas do Holocausto e suas famílias. Uma narrativa que revela o que um único livro pode representar para quem perdeu tudo no conflito mais sangrento da história.
Os homens que salvavam livros
(publicado no site Amazon)
A luta para proteger os tesouros judeus das
mãos dos nazistas
Uma saga de heroísmo e resistência, amizade e romance, e uma devoção inabalável à literatura e à arte, mesmo sob o risco de morte.
Os homens que
salvavam livros é a incrível história real dos habitantes do gueto de Vilna, na
Lituânia, que resgataram milhares de livros e manuscritos raros da cultura
judaica por duas vezes – primeiro das mãos dos nazistas, depois dos soviéticos.
Tendo como base documentos judaicos, alemães e soviéticos, incluindo diários,
cartas, memórias e entrevistas do autor com vários participantes da história, o
livro registra as atividades ousadas de um grupo de poetas e eruditos que se
tornaram combatentes e contrabandistas na cidade conhecida como a
"Jerusalém da Lituânia".
Partindo de uma
extensa pesquisa do principal estudioso do gueto de Vilna, de estilo e ousadia
excepcionais, Os homens que salvavam livros é uma história épica de heroísmo,
um conto pouco conhecido dos dias mais sombrios da guerra.
Vencedor do National Jewish Book Award 2017 – Categoria Holocaustopor David E. Fishman (Autor), Luis Reyes Gil (Tradutor) - Editora Vestígio, primeira edição, 2018, capadura, 352 páginas, R$ 44,38 (site Amazon), R$ 69,80 (Livraria Cultura) e-book R$ 31,41 (Amazon Kindle).
12 de jan. de 2019
CONTRACAPA: A loucura onde menos se espera.
CONTRACAPA: A loucura onde menos se espera.: A obra desenvolve-se frenética proporcionando-nos protagonistas que são simultaneamente autores e personagens. São basicamente dois livros em um, ambos regados intermitentemente à prosa poética, história, religião, amor e paixão. A narrativa da primeira relação sexual de um adolescente cego é brilhantemente sublime e poética
A loucura onde menos se espera.
Uma das causas dos baixíssimos índices de leitura da
população brasileira é o erro fundamental de impor títulos, autores e gêneros
às crianças iniciantes em leitura principalmente nas escolas. Não vou entrar
aqui no mérito das obras, mas todos sabem – ou tem ainda uma ideia – do que se obrigam
os alunos a ler.
Para mim, o método ideal seria o do critério de escolha da
própria criança dando-lhes sim alternativas de escolha. Enquanto minha
professora me obrigava a ler Senhora,
de José de Alencar e Dom Casmurro, de
Machado de Assis, minhas leituras favoritas perambulavam entre Tarzan, de Edgar Rice Burroughs, A Cabana do Pai Thomaz, de Harriet
Beecher Stowe, Bom dia, Tristeza, de Françoise Sagan, O Cortiço, de Aluísio Azevedo e A Carne, de Júlio Ribeiro. Hoje leio com
prazer o Memorial de Aires, do
Machado, e estou achando excelente.
Ou seja, o fundamental para a leitura é a descoberta do
prazer de ler. Com certeza, muitas pessoas que não gostam de ler nunca tiveram
a oportunidade de ter em mãos ou diante dos olhos um livro que pudesse lhes dar
prazer, seja pelo texto, seja pelo assunto ou a história.
Hoje por exemplo, aos 70 anos, vivo descobrindo leituras
prazerosas. A surpresa mais recente deu-se com a obra Os Loucos da Rua Mazur, do premiado escritor português João Pinto
Coelho. Sua grande qualidade é a construção do texto e a linguagem realista e
fluente onde coloca-nos trechos enigmáticos, ironias precisas e preciosas,
assim como a convivência de protagonistas e personagens díspares que enriquecem
sobejamente a obra.
Polônia dividida em 1939 |
Mas seu estilo vigoroso e único lembra-nos em alguns aspectos
e na qualidade seus compatrícios José Saramago e Walter Hugo Mãe. Senão, veja:
“E depois havia Dreide, a louca. Ninguém lhe sabia pai, mãe ou nação. Chegara
acompanhada por um cigano, duas mulas e uma miúda nas entranhas. O cigano
desaparecera, levara uma das mulas e ficaram as três. Desde então, fixara-se
ali, chegada ao vilarejo, mas ainda na floresta, por cautela.”.
Consegue colocar-nos em meio a cenas pesadas, como a
descrição sucinta e precisa, meticulosa e eficaz, do búnquer onde lutam
personagens, levando-nos a sentir com exatidão o clima ambiente com todos os
seus fedores repugnantes e a lama e fezes grudando em nossos pés. Descreve com
realismo absoluto as cenas, os locais e as reações, coadunantes ou não, numa
atmosfera tétrica como: “Depois passou o cabo Marek; já sem chorar ou rezar,
agarrava contra o peito uma mão decepada na esperança de que fosse a sua; logo
atrás, amparado por dois companheiros, um rapazinho. Erik fixou-lhe mais os
olhos esbugalhados do que as tripas que abraçava, aparvalhado.”
A obra desenvolve-se frenética proporcionando-nos
protagonistas que são simultaneamente autores e personagens. São basicamente
dois livros em um, ambos regados intermitentemente à prosa poética, história,
religião, amor e paixão. A narrativa da primeira relação sexual de um
adolescente cego é brilhantemente sublime e poética.
Cidade de Jedwabne inspirou a obra |
A ajustada trama da tolerante e até pacata convivência entre
judeus e cristãos num vilarejo à nordeste da Polônia só é desconjuntada,
juntamente com a cidade, pelos sinistros bolcheviques soviéticos e sua cega
obediência e ignorante idolatria ao líder genocida Stálin (efetivamente e fora
do romance, os bolcheviques, como uma praga, destruíram tudo por onde passaram
ao longo da história). A partir daí e sem a interferência dos nazis, instala-se
o tétrico. E o livro transforma-se numa obra-prima do terror, com pessoas comuns
promovendo - num rompante de ignorância, intolerância e crendice - um fratricídio
que jamais sairá da mente dos leitores. Pinto Coelho, como já o fizera em todo
o texto, prima, então, de forma descomunal nos detalhes. E como descrito na
capa do livro da edição brasileira: “Na Polônia ocupada por soviéticos e
alemães, o horror vem de quem menos se espera.”.
João Pinto Coelho |
Um livro arrebatador, Prêmio Leya de 2017, pouco divulgado e
de incomensurável valor literário para a língua portuguesa, seja pelo enredo e
escrita, quer por sua estruturação e pela capacidade de fabulação de João Pinto
Coelho.
Valdemir Martins
12/01/2019.
Os Loucos da Rua Mazur - Romance português de João Pinto Coelho - Editora
Casa da Palavra – Rio de Janeiro, 2018.
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